—Adélia! Acorde! Tem treino hoje de manhã.
Adélia Tomás de quatorze anos, remexeu-se na cama e resmungou.
—Oh não … com as férias de verão, esqueci completamente. Posso faltar mamãe? E talvez não correr tanto durante o verão?
—Adélia, para quem tem metas no atletismo não existem férias. Você tem que treinar todos os dias.
Adélia bocejou, sentou na cama e espreguiçou-se.
—Quando você decidiu ser uma corredora de competição — continuou a mãe — sabia que ia ter que fazer muitos sacrifícios, mas você se comprometeu com seu treinador, e nada fez você mudar de ideia. Não desperdice todo esse treinamento só porque não sente vontade de correr hoje.
—Tem razão, mamãe.
Há quase dois anos Adélia treinava e tinha a meta de um dia participar de competições internacionais. Atualmente, ela era uma das melhores da sua equipe. Apesar de terem sido anos de dificuldades e sacrifícios, ela tinha um sentimento de realização pessoal.
Depois da corrida daquela manhã, Adélia sentou-se num banco do parque para descansar e pensou no que sua mãe havia lhe dito.
—Obrigada por ter me ajudado a ir hoje de manhã, mesmo quando eu não sentia vontade — disse ela para a mãe quando chegou em casa.
—Olha, você tem perseverado nesse programa difícil, e está sendo bem sucedida — disse a mãe. — Isso é louvável.
Adélia agradeceu e abraçou a mãe. Depois saiu para o ginásio, para treinar com o resto da equipe. Enquanto ela e as outras cinco garotas esperavam o treinador chegar, perceberam uma garota de pé perto da porta. Parecia ter uns quinze anos e usava a roupa de treino da equipe.
—Equipe, gostaria que vocês conhecessem Lina Gomes — disse o treinador ao entrar no ginásio. — Ela foi recentemente transferida de outra equipe. Por favor, dediquem um tempo para a conhecerem e fazerem se sentir bem vinda.
Intrigadas, o resto da equipe ficou em silêncio, observando a recém chegada. Em mais de um ano, era a primeira vez que outra pessoa entrava para a equipe. O treinador apitou, e todos concentraram sua atenção em exercícios de aquecimento e rotinas.
No final do treinamento, Adélia decidiu puxar conversa com Lina. Hesitou um pouco, porque Lina era mais velha do que ela e mostrara-se confiante durante o treinamento. Enchendo-se de coragem, aproximou-se dela.
—Oi, me chamo Adélia.
—Olha, acho que você já sabe que me chamo Lina — respondeu ela, com um rápido sorriso que abria a porta para uma conversa amigável.
—O que a trouxe até à nossa equipe? — perguntou Adélia.
—Meu pai foi transferido recentemente no trabalho — disse Lina. — Esta é a única equipe que está no nível de competição para a qual estou treinando. Tem sido difícil me adaptar à mudança, e eu não sabia como ia me sentir numa equipe nova, visto que fiquei cinco anos com a minha equipe anterior.
—Desculpe se não fomos mais, ummm … muito receptivas logo no início — disse Adélia. Tem muito tempo que ninguém entra para a equipe. Acho que nos acomodamos a sermos ser nós. Mas eu estou feliz que você se juntou a nós … e nos veremos no treino amanhã, certo?
—Certo! — disse Lina sorrindo.
Algumas semanas depois, a mãe de Adélia lhe disse:
— O seu treinador ligou e perguntou se você poderia chegar um pouco mais cedo no ginásio para o treino. Ele quer falar com você.
Cedo na manhã seguinte, Adélia dirigiu-se ao ginásio. Lina também estava esperando.
— Bom dia — disse o teinador. — Tenho certeza que ambas estão se interrogando porque lhes pedi para chegarem mais cedo.
As garotas balançaram a cabeça afirmativamente.
— Um recrutador de talentos vai assistir a uma competição — uma corrida de 5.000 metros — e eu gostaria que vocês duas participassem. Já conversei com seus pais, e eles concordaram que poderiam participar, mas a decisão final é de vocês. Ambas têm tempos excelentes e têm feito progresso consistente, mas se quiserem participar, os horários dos treinamentos serão ainda mais rigorosos nas próximas semanas. Estou confiante que vocês vão continuar a progredir.
Adélia e Lina se entreolharam surpresas com a notícia inesperada, mas emocionante. Ter um recrutador de talentos numa competição era assustador, e Adélia se interrogava se resultaria em algo. Apesar dela gostar de correr e sempre fazer o seu melhor, ela era das mais novas da equipe. Quando o treinador terminou de explicar o regime dos treinos para a competição, o resto da equipe já estava chegando para treinar.
Terminado o treino, Adélia sentou-se no banco em silêncio. Lina interrompeu seus pensamentos:
— Ei! Que está acontecendo? Você parecia um pouco distraída hoje.
— Ah, acho que ainda estou tentando quebrar a cabeça em relação à competição.
— Eu também. Mas estamos juntas nesta, certo? Se tiver algo que eu possa fazer para ajudar, me avisa.
— Obrigada, Lina — disse Adélia, conseguindo dar um sorriso. — Ainda bem que temos uma à outra. Até amanhã.
O grande dia finalmente chegou! Adélia estava nervosa, mas isso não diminuiu seu entusiasmo pelo evento. O técnico veio até ela junto com Lina.
Precisamos chegar na pista cedo — disse. — Podemos fazer algumas voltas e alongamentos de preparação para ter certeza que fizeram um bom aquecimento.
Lina não respondeu. Ela não se sentia bem. Sem o técnico saber, ela tinha torcido o tornozelo no dia anterior durante o treinamento. Como não doera muito, ela não comentou nada. Mas estava doendo mais do que no dia anterior.
— Seu tornozelo está bem, Lina? — perguntou o treinador, quando começaram a fazer os exercícios de aquecimento. — Parece que …
— Hã? Oh! Está bem... sim.
O treinador não tinha tanta certeza. Chamou o médico, que disse que a torção demoraria pelo menos uma semana para sarar completamente.
— Esforço adicional agora poderia aumentar o dano e causar um estrago permanente — disse ele.
A corrida ia começar dali a umas duas horas. Não havia nenhuma possibilidade de Lina competir.
— Sei que deve estar desapontada — disse o treinador. — Mas seu bem estar é mais importante do que esta corrida. Terá outras oportunidades.
Lina balançou a cabeça afirmativamente e mordeu o lábio desapontada. Contudo, mais que seu desapontamento, ela sabia que Adélia precisava de apoio.
— Estou tão nervosa — sussurrou Adélia, depois que o treinador se afastou para conversar mais com o médico. Eu estava confiante que íamos correr juntas. Não sei se vou conseguir sozinha.
— Claro que consegue. Você tem treinado muito para esta corrida. Ambas treinamos. Então vá lá e mostre que pode ganhar!
Mas eu não estava esperando fazer isto sozinha.
— Você não está sozinha, Adélia. Estamos todos aqui te apoiando. Quando eu fico nervosa durante uma competição, eu bloqueio todas as multidões, os outros corredores ... na realidade, eu bloqueio tudo. Eu falo para mim mesma que estou correndo porque eu gosto, e fico ansiosa para ver o que vou conseguir fazer nessa corrida. Orar me acalma e também me ajuda a concentrar.
— Obrigada Lina. Vou lembrar disso.
Adélia procurou um recanto tranquilo, fechou os olhos, e concentrou-se na sua paixão pela corrida e orou pela perseverança que precisava para ir até o fim. Logo seus temores pré-corrida desapareceram e ela sentiu sua mente se encher de confiança, enquanto apoiava o pé no bloco de partida. O tiro de largada soou, e Adélia saiu disparada. Era uma corrida longa, e mesmo enquanto lutava para manter o passo, ela conseguia sentir a confiança e apoio da sua equipe. Ela também, sabia que, independente do resultado, tinha dado o seu melhor.
No início da última volta, sentiu seu corpo cansado, e receou não ter energia suficiente para terminar a corrida.
Jesus, dê-me forças! — orou.
De repente, ao avistar a linha de chegada, o cansaço sumiu. Fez a última curva atrás de alguns outros corredores mas, com uma súbita explosão de energia, correu velozmente em direção à linha de chegada.
Só quando a multidão começou a aplaudir e ela parou, é que percebeu que tinha ganho a corrida!
— Eu sabia que você podia! — exclamou Lina. — Manteve-se firme durante a corrida e fez um esforço no final. Você foi incrível!
— O seu apoio fez toda a diferença! — acrescentou Adélia.
O coração de Adélia transbordava de felicidade ao receber a medalha. Mas, além dos aplausos, ela descobriu algo mais importante naquele dia: o apoio da amizade e a confiança que só Jesus pode dar—o amigo que lhe daria as forças para perseverar em qualquer desafio e vencer a corrida.
Autoria de Celeste Fay e Andrea Gianni. Ilustrado por Jeremy. Design de Roy Evans.Publicado pelo My Wonder Studio. Copyright © 2022 por A Família Internacional