A história até agora: Christopher, Susana, Edgar, Calebe e a recém-chegada Karen, haviam passado o dia com o Sr. Carlos, um senhor de idade que fora missionário quando era mais novo. O Sr. Carlos deu ao Clube dos Cinco uma caixa com vinte moedas antigas. Os cinco voltaram no dia seguinte para visitá-lo, mas encontraram a casa vazia e foram informados pelo vizinho do falecimento do Sr. Carlos na noite anterior. Tristes, eles voltaram para seu clubinho, O Barracão.
Quando o Sr. Carlos deu as moedas para as crianças, ele mencionou que eram “muito antigas e valiosas”. Contudo, quando foram avaliá-las, o rude dono do Mundo das Moedas disse que elas não tinham valor. Os cinco voltaram para casa sem perceber que estavam sendo seguidos. Mas Suzana pressentiu que algo não estava certo...
Naquela noite no clubinho, quando Edgar, Calebe e Karen foram embora, Chris sentou-se à mesa encostada àa parede e olhou atentamente a caixinha de moedas pelas quais ele agora era responsável.
Alguns minutos depois, colocou a caixa num baú que ficava no cantinho, onde os cinco guardavam todas as coisas valiosas do seu clube. Não eram muitas e nem realmente valiosas, mas eram lembranças. E mesmo que não tivessem valor, segundo dissera o dono da loja, para as crianças eram um tesouro, porque fora um presente do Sr. Carlos para o grupo.
Chris trancou a porta do clubinho e correu para casa para se abrigar do vento gelado da noite. Ele não viu a sombra de um homem estava ali perto nem a fumaça que saía do seu cigarro.
— Sumiram! — exclamou Chris na manhã seguinte, depois de procurar a caixinha no baú.
—Tem certeza que as colocou aí? — perguntou Edgar.
— Claro que tenho certeza.
— Mas então onde foram parar?
— Suzana, se eu soubesse iria procurá-las imediatamente. Eu as guardei lá depois que vocês foram embora, e tranquei a... oh não! Vejam isto. Não tinha reparado— disse Chris pegando o cadeado. — Foi aberto.
— Está quebrado — disse Calebe mexendo com ele. — Alguém forçou o cadeado. O orifício da chave está todo arranhado e o cadeado não fecha.
— Mas não é o cadeado que acabamos de comprar? — perguntou Suzana.
— É sim! E agora as moedas sumiram.
Fez-se silêncio dentro do clubinho enquanto as crianças se entreolhavam. Elas ficaram olhando por um tempo para o baú. Finalmente Suzana falou:
— Depois de ontem eu esperava que não acontecesse isto — sussurrou ela.
—Como assim? — indagou Karen.
— Eu devia ter lhes contado ontem, em vez de achar que ririam de mim ou...
— Contado o quê?— interrompeu Chris.
Suzana suspirou e cobriu o rosto com as mãos.
— Antes de irmos ao Mundo das Moedas, eu tive a sensação de que algo não estava certo. Na verdade, comecei a me sentir assim antes mesmo de sairmos do clubinho. Então, quando estávamos na frente da loja, eu pensei no que tínhamos esquecido de fazer.
— Mas você não disse nada — mencionou Chris.
— Bem, eu lembrei que não tínhamos orado.
Todos ficaram muito tristes.
— Isso nem passou pela minha cabeça — sussurrou Chris.
— Eu tampouco lembrei — disse Karen.
— Mas não é tudo — continuou Suzana. — Karen, você lembra que quando estávamos no ônibus você teve que me chamar várias vezes antes de eu responder?
Karen fez que sim com a cabeça.
— Ali também algo parecia não estar certo e quando todos vocês voltaram para o Barracão e eu voltei para casa, ouvi um sussurro me avisando para olhar para trás. Quando olhei vi um homem atrás de vocês, como se os estivesse seguindo. Corri para o meu quarto para ver melhor, mas de repente ele entrou na outra rua. Então achei que só estava imaginando coisas.
— Dá para cortar caminho por aquela rua para entrar na outra rua onde estávamos — disse Chris.
— Então acho que ele levou as moedas — disse Suzana. Minha nossa... o que vamos fazer?
O resto da equipe suspirou.
— Esperem — disse Suzana. — Pouco antes de adormecer, estava orando e me lembrei do versículo que o Sr. Carlos sempre repetia: “Todas as coisas contribuem para o bem”. Fui dormir logo depois disso, e me senti bem melhor. Antes estava preocupada que algo ruim fosse acontecer.
— Não vejo nada de bom nisso — resmungou Karen.
— Nem eu, mas deve haver algo. Só precisamos descobrir o quê.
— Acho que devemos orar, como o Sr. Clave nos ensinou — sugeriu Chris.
Os outros concordaram, e quando Christopher terminou de orar, ninguém disse nada; ficaram ali sentados, pensando em tudo o que havia acontecido. Algo estava diferente, mas eles estavam agindo certo ao orarem, e a sensação era boa.
—Alguém... pensou em algo? —disse Cris. —Impressões?
— Sempre que penso nas moedas me lembro do rosto daquele homem na loja. Ele não foi nada legal — disse Edgar.
— Eu me pergunto... — a voz de Suzana vacilou, e os outros esperaram ela concluir a frase — ninguém mais sabia daquelas moedas. Vocês contaram a alguém?
Os outros quatro abanaram a cabeça negativamente.
— Então, por que alguém invadiria o nosso clubinho?
— Pensando bem — comentou Karen — não é estranho o Sr. Manchester dizer que as moedas não eram valiosas, quando o Sr. Carlos disse exatamente o contrário? Seria legal se conseguíssemos descobrir o verdadeiro valor das moedas. Na realidade, fomos àquela loja para isso.
— Deve ter livros sobre moedas antigas na biblioteca — disse Suzana. — É simples.
— Ou mais simples ainda... podemos dar uma busca na internet primeiro —acrescentou Christopher, pegando o celular.
— Os outros concordaram e se juntaram ao redor de Christopher, olhando por cima do seu ombro para a pequena tela do aparelho.
— Aqui está — anunciou Christopher depois de pesquisar um pouco. — Tem um site inteiro sobre moedas antigas.
— As nossas moedas aparecem nele?
— Vejamos ... ah, o que acham desta? — exclamou ele. —É parecida?
Ele tinha aberto uma página que mostrava uma fotografia colorida de uma moeda antiga.
— Exatamente como as nossas... uma moeda romana! — exclamou Suzana, chegando mais perto.
— E quanto vale? — perguntou Karen.
— Diz que só esta moeda vale 100 mil dólares!
— 100 mil dólares? —disseram todos ao mesmo tempo.
— Você está falando sério? — perguntou Edgar.
— É o que o site diz! Vejam!
— Isso se forem verdadeiras — comentou Karen. — Se forem falsas como disse o proprietário da loja, então não valem nada.
— Mas então por que desapareceram? — perguntou Edgar.
— Não sei. Só estou mencionando o outro lado — disse Karen irritada. — Acho que não quero esperar demais.
— Bem — disse Suzana. Digamos que o Sr. Manchester as tenha roubado, ou que alguém as tenha roubado de nós, como vamos recuperá-las?
— Podemos ligar para a polícia — exclamou Edgar — e dizer que temos um suspeito.
— A polícia? ...Humm... disse Chris baixinho. Ele tinha se afastado da discussão e estava olhando pensativamente para a pintura do anjo que o Sr. Carlos lhes dera.
— Foi só uma ideia — disse Edgar.
— A menos que tenhamos algo mais em que nos basear — disse Suzana — acho que a polícia não vai acreditar em nós. Nem temos nenhuma prova de que as moedas são nossas.
— Vejam isto! — exclamou Chris de repente, mostrando um envelope e alguns documentos
— O que é isso?
— Eu estava ajustando o barbante para pendurar o quadro e vi uma pontinha deste envelope de fora — disse ele, colocando os documentos sobre a mesa. — É uma avaliação oficial das moedas, um recibo e também fotos delas.
— Maravilhoso! — exclamou Suzana.
— Pelo menos prova que as moedas não eram falsas, como disse o Seu Manchester — concluiu Karen.
— Talvez devêssemos voltar ao Mundo das Moedas e dar uma olhada — sugeriu Edgar.
— Não vai ser muito fácil — disse Chris. — Não podemos simplesmente entrar lá e dizer que ele roubou nossas moedas.
— Eu sei. Mas tenho o pressentimento de que o Sr. Manchester está envolvido nesta história.
— Seja como for, ficar aqui sentados não vai trazer as moedas de volta — acrescentou Suzana.
Os outros concordaram e lá foram eles rumo ao Mundo das Moedas.
— E o que os traz de volta aqui? — perguntou Sid, quando as crianças entraram na loja. — Chegaram à conclusão que vinte dólares era uma oferta tentadora pela sua pequena coleção?
Cerrando ligeiramente os olhos, Karen dirigiu-se ao homem num tom baixo, mas firme:
Na realidade, senhor, as moedas sumiram. Parece que alguém as levou.
— Você está dizendo que alguém as roubou? Que azar. Mas o culpado vai ter uma triste surpresa... não vai conseguir muito por elas.
— Na realidade, temos provas de que as moedas não eram sem valor — disse Cris.
— É? Estou interessado em ver essas provas.
Suzana aproximou-se do balcão.
— Para ser franca, senhor, uma vez que você é a única pessoa fora do nosso grupo que sabe da existência das moedas, nós viemos aqui para...
— Você está me acusando de ter algo a ver com o seu, hã ... desaparecimento?
— Não, não. Nós só...
— Entendam uma coisa — disse Sid com um suspiro — Eu entendo como deve ser triste para vocês. Infelizmente, não tem muito que eu possa fazer para ajudar, uma vez que não vi suas moedas depois que vocês saíram da minha loja ontem.
— Você está falando mesmo a verdade? — disse Calebe apontando o dedo para o homem. Você disse-nos que as moedas não valiam nada, quando na realidade elas são muito valiosas. O que nos garante que você não está mentindo agora?
— Calebe — Cris sussurrou. Não fique zangado, não vai ajudar. Além de que é desrespeitoso.
— Calebe afastou-se, mas seu rosto ficou todo vermelho.
— Verdade — disse Sid. É muito desrespeitoso. Já respondi às suas perguntas, agora se não se importam preciso cuidar dos meus negócios. Bom dia.
Desanimados, os cinco saíram da loja e pegaram o ônibus para o Barracão, onde se juntaram para discutir o que fazer a seguir.
—Olhem, desculpem eu ter ficado chateado daquele jeito lá na loja — disse Calebe. — Mas se me perguntarem provavelmente foi o Sid que pegou as nossas moedas. E eu não gosto nada dele.
— Tudo bem, Calebe — respondeu Cris.
— É fácil não gostar dele — disse Suzana também.
— Ele me dá arrepios — disse Karen.
— E o que faremos agora? — perguntou Cris.
A única resposta foi o silêncio. Ninguém tinha a menor idéia do que fazer.
Calebe pegou o envelope que tinha a avaliação das moedas, e tirou os papéis para conferir de novo.
— Ei, não tinha visto isto antes! É um bilhete escrito pelo Sr. Carlos — disse, retirando um pedaço de papel do envelope.
— O que diz? Pode ler? — pediu Suzana, e Calebe começou a ler.
— Isso é muito estranho” — comentou Karen. — Parece até que ele sabia que íamos perder as moedas.
— Como é esse negócio de fazer uma ligação? — perguntou Calebe.
— Vocês lembram que o Sr. Carlos disse que Deus pode nos dar conselhos ou mostrar o futuro? — respondeu Cris. — É o que isso quer dizer.
— É mesmo! — disse Calebe. —Ele disse que o número de telefone de Deus é Jeremias 33:3: “Clame a Mim e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.”
— Com certeza não oramos sobre nossa última visita ao Mundo das Moedas — disse Suzana. — Mais uma vez agimos por impulso.
— Mas podemos perguntar agora — disse Cris. — Talvez Deus ainda tenha algo para nos dizer.
Depois de uma pequena oração, todos ficaram quietinhos esperando uma indicação sobrenatural sobre o que fazer a seguir. Até o Frisky ficou respeitosamente quietinho enroscado num canto.
Pouco depois, Suzana começou a falar hesitante:
— Eu me lembrei de uma história da Bíblia. Só não entendo como se aplica a esta situação, apesar de que...
— Conte para nós! — insistiram os outros.
— Bem, como eu disse, não tenho certeza do que significa, mas eu me lembrei dela claramente.
— Que história? — perguntou Cris.
— Foi quando Jesus disse que alguns de seus inimigos eram como sepulcros brancos, que pareciam bonitos do lado de fora, mas por dentro estavam cheios de ossos de homens mortos e coisas nojentas.”1
— Interessante ... mas ...? — disse Cris.
Suzana encolheu os ombros.
— Se ajudar em algo — sugeriu Karen — o lado de fora do Mundo das Moedas é pintado de branco.
— E o dono não foi honesto. —acrescentou Edgar.
Suzana estremeceu.
— Mas a coisa dos homens mortos... sem parecer macabro, detesto pensar no que isso poderia significar...
— Pelo menos se descobrirmos que ele está fazendo algo ilegal, podemos chamar a polícia para prendê-lo — disse Karen. — E aí poderíamos reaver nossas moedas.
— Talvez não seja assim tão simples — disse Cris. — Mas depois que oramos, tive a sensação de que deveríamos olhar lá nos fundos da loja, e que encontraremos algo que nos ajudará a recuperar as moedas. É perigoso, mas se tomarmos precauções, por exemplo se dois forem e os outros ficarem vigiando à distância...
— Eu estava pensando a mesma coisa... — disse Calebe, e concordaram que Cris e Suzana, sendo os mais velhos do grupo, deveriam ir primeiro. Os outros três ficariam um pouco mais atrás.
Já era o fim da tarde quando eles chegaram ao Mundo das Moedas, com os outros seguindo a uma certa distância, Christopher e Suzana entraram no beco estreito que ficava atrás da loja. Uma vez ali, se esconderam na ombreira de uma porta e esperaram.
—Talvez não aconteça nada hoje—sussurrou Suzana depois de um tempinho. — Podemos voltar a tentar amanhã...
Nesse preciso momento, um cadilaque preto estacionou ali perto, e um homem de óculos escuros e casaco longo e preto saiu do carro. Ele entregou um pacote grande para outro homem que saíra dos fundos da loja Mundo das Moedas. Esse outro homem então amassou e jogou um documento dentro de uma lata de lixo.
— Isto pode ser interessante — disse Cris. Suzana pegou uma caneta e anotou a placa do carro na palma da mão.
— Assim que ele entrar na loja, podemos dar uma olhada naquela lata de lixo para ver se esse documento tem algo interessante — sugeriu Cris.
Aproximaram-se da lata e levantaram cuidadosamente uma das tampas.
— Uma tonelada de papéis — disse Suzana, procurando no meio dos papéis. — E a maior parte está rasgada. Difícil de ler... algo sobre aposta de cavalos...
— E algo sobre Colômbia — murmurou Cris lendo um recibo.
— Este é sobre um dinheiro depositado num banco nas ilhas Cayman. O que será que significa — perguntou Suzana.
— Parece duvidoso...
Nesse instante ouviram a porta dos fundos se abrir e surgiu um homem. Suzana prendeu a respiração ao reconhecer a mesma figura esguia que ela vira seguindo os quatro na noite anterior. Cris e Susan deram meia volta para fugir, mas deram de cara com um pugilista gigante que estava do outro lado das latas de lixo. Ele pegou os dois e os sacudiu até pararem de se debater para que os soltasse.
— O que vocês estão fuçando por aqui, crianças?
— Só estávamos tentando encontrar algo útil no seu lixo — disse Cris.
— É mesmo? E encontraram o que estavam procurando?
— Só um monte de papéis — respondeu Cris, abanando a cabeça.
— É ele — sussurrou Suzana.
— Ele quem? — perguntou Cris.
Suzana fez sinal com a cabeça na direção do homem magro que estava ali perto parado. Suzana olhou-o nos olhos e ele deu um sorriso assustador. O homem virou as costas e expeliu uma baforada de fumaça de cigarro.
— Leve-os ao chefe — disse para o homem que ainda segurava Cris e Suzana pelo colarinho. Ele então se virou e desceu o beco afastando-se da loja, enquanto o outro homem arrastava Cris e Suzana para o quartinho dos fundos da loja. Ele os sentou em duas cadeiras, e os colocou de costas um para o outro.
— Ei, chefe! — chamou — tenho algo para o senhor..
— É melhor ser algo que valha a pena, Clive. Não tenho tempo para nenhuma das suas ‘descobertas’ agora — disse Sid Manchester, ao entrar no cômodo.
— Peguei estes garotos bisbilhotando lá atrás. Eles disseram que estavam procurando coisas “úteis”.
— Coisas úteis, né? Vocês não são os garotos das moedas?
— Você pegou as moedas! — gritou Suzana. —Nós as queremos de volta!
— Sinto muito, garota, mas não é assim que as coisas funcionam nesse mundo — disse Sid calmamente. — Devo lhes agradecer, porém, por me tornaram um homem fabulosamente rico.
— Você vendeu as moedas?
— Vamos vendê-las amanhã à noite — disse o brutamontes.
— Calado, Clive. Isso não é da conta deles—disse, virando-se para Suzana e Cris. — Então vocês achavam que podiam encontrar algo no lixo? Quero ver. Reviste-os, Clive.
— Clive revistou-os e, quando acabou, voltou a sentá-los nas cadeiras e olhou os papéis que tinha tirado deles.
— Parecem recibos, pedaços de coisas de banco...
— Você jogou esses papéis lá atrás?! — gritou Sid. Você nunca aprende seu imbecil?
Sid acalmou-se e, sorrindo ligeiramente, voltou-se para as duas crianças.
— Mas vocês também não foram muito espertos, não é, bisbilhotando!
Ele aproximou-se mais de Suzana e levantou o queixo dela.
— Os seus pais nunca lhes ensinaram nada? Crianças bobas, achando que encontrariam algo contra mim! Quem vai ficar sabendo agora?
Ele virou-se para Clive e disse:
— Tranque os nossos amiguinhos no porão.
— Clive agarrou Cris e Suzana, abriu uma porta, e empurrou-os pelas escadas. Lá em baixo, ele abriu outra porta e jogou-os dentro de um pequeno cômodo. Suzana e Cris começaram a tossir do cheiro forte de mofo.
— Vamos manter vocês aqui por um tempo até resolvermos o que fazer com vocês.
— Por quanto tempo? — perguntou Suzana.
— Não sei dizer. Nunca resolvemos o que fazer com as nossas últimas visitas — disse o brutamontes abafando o riso.
Fechou a porta com estrondo e Cris e Suzana ficaram numa escuridão total. Mesmo estando cansados, com sede, e bem desconfortáveis, tentaram se manter animados cantando e citando versículos da Bíblia que eles lembravam, e acima de tudo orando.
— Já passou bastante tempo — disse Calebe. — O que eles estão fazendo?
Os outros não tinham visto Suzana e Cris serem pegos e levados.
— Devem ter sido pegos — disse Edgar.
— Talvez seja hora de fazermos mais uma ligação — disse Karen.
—Ligação?
— Você sabe, orar.
Depois de orarem, esperaram em silêncio para receber uma orientação.
Edgar foi o primeiro a falar.
— Sabem aquele versículo “Ele enviará Seus anjos para o guardarem?” Bem me veio isso e uma imagem de um policial. Acho que significa que...
— Sim — disse Calebe — é hora de chamar a polícia para nos ajudar.
Os outros concordaram.
— Talvez este problema nos ajude a pegar esses ladrões e, de alguma forma, recuperar nossas moedas — disse Edgar.
— Seja como for — disse Karen. É melhor nos apressarmos. A delegacia fica a duas quadras.
— Em que posso ajudá-los? — perguntou um policial para Calebe, Edgar e Karen, que se dirigiram ao balcão da policial, com Frisky seguindo-os.
Calebe respirou fundo e começou a explicar.
— Dois de nossos amigos estão numa grande encrenca porque achamos que foram capturados pelo gerente do Mundo das Moedas, que roubou nossas moedas antigas.
O policial interrompeu a leitura do jornal.
— Capturados ... moedas?
— Sim — disse Karen — eles precisam ser resgatados imediatamente.
— É uma história e tanto, senhorita.
— Mas é verdade, senhor. Precisamos ir lá rápido, antes que algo ruim aconteça com eles e...
— Aconteça a quem?
— Aos nossos dois amigos.
— Amigos? Que amigos? Só fatos, crianças, só fatos. Sabem: nomes, idades, endereços e coisas assim.
Karen deu ao policial todos os detalhes que ele precisava.
— E como se chama esse lugar?
— Mundo das moedas — disse Edgar.
— Ah sim — respondeu o policial — conhecemos esse lugar. Não conseguimos um mandato de busca só com a sua história, sem provas, mas já faz tempo que estamos nos questionando sobre certas atividades duvidosas que estão acontecendo lá, então talvez seja nossa chance de confirmarmos essas suspeitas.
Edgar, Karen e Calebe chegaram ao Mundo das Moedas com três policiais.
Um aviso rapidamente escrito havia sido colocado na porta da frente. Dizia: "Fechado para férias.”
— A última vez que os vimos foi nos fundos da loja — disse Calebe, que guiou os policiais até à entrada dos fundos.
Frisky já tinha corrido lá para os fundos latindo sem parar. Ele pulou na porta, arranhando-a. Essa porta também estava fechada. Havia latas de lixo viradas e lixo espalhado por todo o lado.
— Veja isto — disse um dos policiais, pegando uma carteira.
— É a carteira do Cris! — exclamou Calebe —Pode verificar.
Ele pegou a carteira da mão do policial, abriu-a e a inspecionou.
— Christopher Figueiredo, exatamente como você disseram.
O tenente pareceu preocupado e perguntou para o outro policial:
— Você conseguiu o mandado, Ferreira?
— Consegui.
— Veja se tem alguém lá dentro. Mas primeiro vamos levar as crianças de volta para o carro, onde o Alfredo pode ficar de olho nelas. Não queremos problemas desnecessários.
Embora Karen, Edgar e Calebe protestassem, tiveram que aceitar, percebendo que precisavam cooperar para a polícia ajudá-los.
O policial Ferreira bateu na porta várias vezes.
— Polícia — berrou. — Abram a porta!
Não obteve resposta.
— Abram, ou teremos que arrombar a porta — berrou Ferreira.
Ouviram-se passos e vozes, e depois a chave girou e a porta foi aberta.
— Em que posso ajudá-los? —perguntou Sid indiferente.
— Estamos procurando duas crianças desaparecidas: um garoto chamado Christopher Figueiredo e uma garota de nome Suzana Garibaldi. Os dois têm cerca de doze anos. Você os viu? —perguntou o tenente — Fomos informados que eles foram vistos perto desta porta dos fundos. Sabe algo a respeito?
— Não sei de nada.
— Humm, é mesmo? Engraçado, porque tenho três testemunhas que seguiram as crianças que estão desaparecidas até aqui — disse o tenente, apontando para as três crianças sentadas no carro da polícia.
— Essas crianças outra vez! — exclamou Sid.
— Então você já conhece as crianças? —disse o tenente.
— Elas vieram aqui uns dias atrás com algumas moedas sem valor. E voltaram hoje, acusando-me de várias coisas porque perderam as moedas. Crianças muito mal educadas, na minha opinião. Eu as mandei embora e lhes pedi para não voltarem mais. Isso é crime?
— Importa-se se dermos uma olhada no local? — perguntou o tenente Flaviano.
—À vontade, não tenho nada para esconder.
—Alfredo, mantenha as crianças e o cachorro no carro enquanto fazemos uma busca no lugar —ordenou o tenente.
Karen, Edgar e Calebe esperaram quase uma hora até a polícia finalmente voltar.
— Parece limpo — disse o policial principal. —Procuramos por todo o lado.
— Deve haver algum erro — disse Karen.
Frisky agora latia com força. Calebe segurava o cachorro o melhor que podia, mas ele finalmente se soltou e começou a correr feito louco em direção à porta aberta nos fundos da loja.
Frisky correu o mais rápido que podia para dentro da loja.
— Talvez ele esteja procurando a Suzana e o Cris! —exclamou Calebe.
— Sigam o cachorro! —gritou o tenente.
Quando todos alcançaram Frisky, ele estava parado numa parte da parede onde havia uma estante de livros e latia furiosamente. Sid tentou chutá-lo para longe dali, mas o cachorro voltava para o mesmo lugar da parede.
— O que há atrás da estante? — perguntou o policial.
— Uma parede. Cimento e depois mais cimento...
— Examine bem esta área, Ferreira.
— Veja só isso, tenente. Parece que há algo atrás da estante de livros. —Depois de procurarem por alguns minutos, encontraram uma rachadura do lado da estante que forçaram usando uma alavanca.
— Veja, é um túnel — disse Flaviano.
— Vejam só! —se desculpou Sid de forma pouco convincente. — Todo este tempo que estou aqui nunca soube da sua existência!
Os dois policiais estavam tão preocupados com a descoberta do túnel que não repararam que Sid estava se esquivando lentamente em direção à escada para escapar. Clive se interpôs entre Sid e a polícia.
O tenente pediu ajuda pelo rádio.
Frisky agora latia alto para Sid Manchester e pegou a perna da sua calça. O cachorro não o largava, por mais que Sid tentasse sacudi-lo.
— Sid está tentando fugir — gritou Calebe de repente, tendo corrido atrás do Frisky. Os outros dois também o seguiram.
Naquele instante Clive sacou uma arma e atirou nos policiais. As balas passaram raspando por eles.
— Abaixe-se! —gritou o tenente para Edgar que, junto com os outros dois, se jogaram no chão atrás de uma mesa virada.
Sid conseguiu se soltar do cão e estava agora subindo a escada, com Clive logo atrás dele. Os policiais tentava segui-lo, mas Clive se virava a cada poucos segundos e atirava neles.
O tenente sacou sua arma e revidou os tiros. Uma bala pegou Clive na perna e o homenzarrão caiu ao chão. Segundos depois, o tenente tomara a arma de Clive e o tinha algemado.
O policial Ferreira correu para pegar Sid e pulou em cima dele. Ambos caíram no chão. Depois de uma luta, Alfredo conseguiu algemar Sid.
— Vocês vão pagar caro por isto, garotos —gritou Sid.
— Se eu fosse você não falaria isso. Você já tem muito o que explicar, Seu Manchester —avisou o tenente Flaviano.
Os dois homens foram levados à delegacia ao chegar a ajuda de mais policiais. Enquanto vários outros policiais se ocupavam dando uma busca no Mundo das Moedas, Edgar, Karen e Calebe desceram as escadas à procura de Cris e Suzana. Logo ouviram batidas em uma porta e gritos abafados.
Quando destrancarem e abriram a porta, Cris e Suzana saíram então para o corredor piscando sem parar até seus olhos se acostumarem à luz.
— Como estamos felizes por vê-los! — disse Cris, abraçando os amigos.
— Vocês chegaram na hora certa. Não sei o que teriam feito conosco — disse Suzana.
— Sabem, eu estou começando a gostar desta coisa de parar para escutar Deus! — disse Karen para os outros.
— Vamos ter que levá-los à delegacia para regar as declarações de cada um de vocês e a história toda. Depois, levaremos vocês para casa — disse Flaviano para os cinco.
Depois que os cinco responderam às várias perguntas dos policiais, o tenente Flaviano e o policial Ferreira os levaram para casa. Quando partiram, disseram às cinco crianças:
— Amanhã de manhã vamos passar aqui para ver como vocês estão, e também caso precisemos de alguma outra informação que não tenha nos ocorrido hoje. Será que todos poderiam se reunir na casa do Cris às dez e meia?
—Tudo bem — concordaram.
—Tenente — disse Cris — posso lhe pedir um favor?
— O que é?
— As moedas foram encontradas?
— Ainda não encontramos nada. Mas estamos procurando.
Exatamente às 10hs29m, o tenente Flaviano e o policial Ferreira estavam na porta da frente da casa de Cris. Depois de uma longa entrevista, os policiais ficaram satisfeitos com as informações que obtiveram das crianças e iam investigar os negócios de Sid Manchester mais a fundo.
— Muito obrigado pela sua ajuda neste caso, estávamos atrás do Sid há algum tempo. — disse o tenente, quando se levantaram para ir embora...
— O senhor encontrou as moedas? —perguntou Karen.
As moedas? Quase me esqueci — disse o tenente com um sorriso. Ele fez um sinal com a cabeça para o outro policial, que foi ao porta-malas do carro e tirou uma caixinha de dentro de um grande saco e a entregou ao tenente.
— Nós as encontramos. Aparentemente, vocês têm um tesouro e tanto aqui. Eu tomaria cuidado com o lugar onde forem guardá-las. Na próxima vez talvez não seja tão fácil recuperá-las.
— Obrigado, senhor!— disse Cris, felicíssimo de receber a caixa
— Confiamos que não vai ter uma próxima vez! — acrescentou Suzana.
— Mas se voltar a acontecer algo assim — disse o policial Ferreira — ligue m para nós antes de fazerem as coisas sozinhos.
— Pode crer que faremos isso — disse Cris, e os outros concordaram.
— Estou impressionado de ver como tudo parece dar certo para vocês, crianças — disse o tenente Flaviano. — Vocês são crianças sortudas.
— Na verdade, senhor — explicou Suzana — é porque oramos quando não sabíamos o que fazer. Foi isso que nos ajudou. Foi o que o Sr. Carlos, o senhor que nos deu as moedas, nos ensinou a fazer.
— Eu diria que sim. — disse o policial Cláudio, que estava olhando para a pintura do anjo. — E bem aqui neste quadro misteriosamente significativo... moedas de ouro e tudo!
— Foi o Sr. Carlos que nos deu — disse Suzana.
— Foi pintado em acrílico?
— Pode perguntar ao Cris. Ele é o perito em arte aqui!
— É a óleo! — respondeu Cris.
— Você pinta, garoto?
Cris acenou afirmativamente.
— O meu filho também. Ele tem mais ou menos a sua idade... um gênio. Ei, você viram aquilo?
Os membros do Clube dos Cinco e o outro policial prenderam a respiração.
—Nós vimos! — respondeu Edgar. — O anjo piscou o olho e sorriu!
Referência:
1 Ver Mateus 23:27
Autoria de Peter van Gorder. Ilustrações de Jeremy. Design de Roy Evan.Publicado pelo My Wonder Studio. Copyright © 2022 A Família Internacional