“Esse é o melhor presente que já ganhei!” confidenciou Alex ao seu melhor amigo CD—também conhecido como Claudio Duarte—no final da última aula do último dia de aula. “Sabe, é um videogame portátil, e estou ilhado no Planeta Mara-Dedo, e preciso encontrar as partes da minha espaçonave para consertá-la e salvar minha tripulação para podermos voltar à terra. Tenho que passar por florestas, selvas, e pântanos. É tão perigoso, mas tem umas coisas especiais que eu junto e que me ajudam a não perder meu suprimento de ar e não morrer! Provavelmente vou levar o verão inteiro para conseguir voltar à terra.”
Alex olhou para CD para ver se ele estava escutando. CD, porém, estava focado na professora Clara, que tinha acabado de voltar com uns folhetos sobre o ACAMPAMENTO DE VERÃO, impresso em letras grandes na primeira página.
Alex fez uma pausa em seus preparativos mentais para escapar do Planeta Mara-Dedo para ouvir a professora Clara.
“Recebi permissão assinada de seus pais para o nosso acampamento de uma semana no Lago Hottamo. Esses folhetos que vou passar incluem uma lista do que vão precisar levar, o horário de nosso acampamento, a lista das atividades, regras dos jogos, e uma lista dos lugares para visitar no Lago e outras informações essenciais sobre o acampamento. Terão que ler isso antes de nossa excursão. A nossa turma será o ‘Grupo Moki’ e vocês serão guiados pelo professor Carlos e eu.”
“Vivas” ecoaram por toda a sala da professora Clara. O professor Carlos era o professor de educação física, e um dos preferidos dos alunos.
“Favor trazerem todos os itens da lista, e estarem aqui na Terça-feira às 8 horas em ponto, em frente do portão da escola. Os retardatários ficarão para trás,” disse a professora Clara com alegria — ou pelo menos foi o que Alex achou — até que seus pensamentos foram dominados por naves espaciais, armas de raios laser e outros assuntos mais urgentes.
Enquanto caminhava de volta para casa, Alex não notou que o sol estava deixando seu pescoço e ombros vermelhos, nem sua carrocinha preferida de sorvete com uma oferta especial de último dia de aula, e nem mesmo o estranho gato de skate. Estava absorto pensando em como iria passar pelos pântanos traiçoeiros do Planeta Mara-Dedo. Tinha certeza que uma das partes que faltava de sua espaçonave estava no coração do Pântano Pantanoso, mas recebia mensagens de advertência sempre que se aproximava do local, dizendo que alienígenas parecidos com sapos gostavam de comer os dedos dos pés dos meninos de dez anos de idade…
Peraí! Tinha alguém falando com ele? …
“Alex, você quer ler a lista dos preparativos do acampamento comigo?”
Alex piscou os olhos e olhou ao redor.
“Oh, CD! É você,” Alex ficou aliviado. “Pensei que era outra coisa.”
CD suspirou fundo. “Eu vim andando com você todo este tempo.”
“A é?” perguntou Alex, bastante surpreso.
CD revirou os olhos. “Vou perguntar ao Lucas se ele quer ser meu parceiro de leitura. Vejo você terça-feira.”
Ao ouvir o nome Lucas, Alex parou de andar e se voltou para dar toda a sua atenção a CD. “Lucas?!”
Mas CD já tinha virado a esquina, entrado na a sua rua e desaparecido de vista.
Alex apertou os olhos. Se aquele Lucas quiser roubar o meu melhor amigo, é melhor ele saber que ninguém se mete entre CD e eu. … Este pensamento desvaneceu pouco depois quando Alex entrou em seu quarto. Estava totalmente atraído ao console de seu videogame. Deixou sua mochila cair perto da porta do quarto, chutou os sapatos cada um para um lado, e depois esticou-se no chão totalmente focado em tirar sua espaçonave do Planeta Mara-Dedo com todos os dedos das mãos e dos pés intactos.
Diário de Reginaldo
Observação para si mesmo. Um ... eu tinha que ter feito alguma coisa para me preparar para o acampamento. Perguntar ao CD o que é.
Alex
P.S.: Nunca notei isso antes, mas o Lucas se parece muito com o Pião Pequenotrote, um membro da tripulação em Escapando do Planeta Mara-Dedo…
Este acampamento já começou com o pé esquerdo, admitiu Alex para si mesmo enquanto ajudava a tirar as bolsas do ônibus da escola. Teve três dias para se preparar para o acampamento, mas ele andou ocupado com coisas importantes, como escapar do Planeta Mara-Dedo. E só naquela manhã é que conseguiu pegar sua lista do que tinha que levar e jogar o que esperava ser tudo o necessário na sua bolsa de viagem. Nem olhou nenhum dos sites da lista da professora Castelo, mas CD provavelmente tinha visto tudo. Estava feliz pela Sra. Castelo tê-los colocado juntos no acampamento, apesar de CD estar todo chateado por ele não ter se preparado.
“Alex!” chamou CD. “Você está de novo com o olhar perdido!”
“Estou?”
“Era para você estar me ajudando a montar a barraca, e depois temos que pegar gravetos para a fogueira depois do jantar!”
“Ah, claro.” Alex olhou para a pilha de varetas de metal e tecido sintético. Como é que isso vai virar uma barraca? Olhou para os outros com suas barracas quase totalmente montadas. “Hmm. É, parece que é para virar uma barraca mesmo,” observou.
“Você não leu nada daquela lista de leitura, não foi?” CD parecia exasperado, e Alex culpado.
“É que eu…” começou Alex.
“Tudo bem,” disse CD de um jeito que comunicou a Alex que não estava nada bem ele ter feito aquilo. “Você vai lá pegar os gravetos e eu monto a barraca.”
Alex se voltou hesitante para a fileira de árvores a uns metros do acampamento. Estava bastante certo que esse tal de graveto não tinha nada a ver com o livrinho de leitura que sua irmã mais velha adorava, que ajudava a começar um fogo, mas, fora isso, ele não fazia ideia do que devia pegar. Afinal, no Planeta Mara-Dedo se ele se aproximasse de qualquer coisa que fosse ajudá-lo a sobreviver, sua roupa especial sugava automaticamente tal coisa para o seu arsenal. Além disso, em uma de suas explorações à Floresta Feroz, ele havia conseguido um poder especial que fazia fogo …
“Precisa de ajuda?”
Alex virou, “Ah …. oi, Lucas.”
“Gravetos são pauzinhos pequenos e secos que queimam facilmente e ajudam a lenha e pegar fogo.”
Alex deixou mais que depressa cair ao chão as folhas e flores selvagens que havia distraidamente pegado. “Claro, eu sabia isso.”
Lucas deu um sorrisinho amarelo. “Ahã. Claro, a gente se vê.”
Alex observou Lucas se afastar com sua cesta. Talvez o Lucas não seja assim tão ruim, afinal de contas, pensou. E então, percebendo que era a sua chance de ficar bem com o CD, pôs mãos à obra.
CD ficou feliz quando Alex voltou com a cesta cheia de gravetos, e juntos colocaram-nos debaixo da lenha no centro da fogueira. E bem a tempo, também. O jantar foi um banquete de cachorro quente assado na brasa, espiga de milho, batata assada no papel alumínio, e depois todos os Mokianos foram marchando sentar-se ao redor da fogueira que agora ardia em chamas.
A Sra. Castelo começou o Tempo ao Redor da Fogueira lendo as várias atividades e jogos que seriam feitos no curso daquela semana, e os deveres de cada equipe. CD e Alex tinham que catar o lixo ao redor das barracas do Grupo Moki e da fogueira cada manhã depois do café. Em dois dias o Grupo Moki enfrentaria o Grupo Akeli, a outra metade dos alunos do quarto e quinto anos da Escola Elementar de Winston, para o muito esperado jogo de Pique Bandeira. A equipe vencedora ganharia um troféu!
E depois chegou a vez do Sr. Carlos dar início a uma velha tradição do acampamento. “Era uma vez, muito, muito tempo atrás …” disse o Sr. Carlos na sua voz mais atemorizante. O fogo formava sombras estranhas no rosto do Sr. Carlos, e todos os Mokianos ficaram bem juntinhos uns dos outros. “Um fungo muito estranho vivia na floresta perto do Lago Hottano,” e todos os Mokianos gemeram. “E, um belo dia, esse fungo estranho percebeu que... Sra. Castelo?” E assim continuou a brincadeira de contar história. Quando chegava a um momento muito emocionante, o nome de alguém seria chamado e a pessoa deveria continuar a história até o nome de outra ser chamado, e assim por diante.
O tal fungo virou cachorro, depois virou gato, e então tornou-se uma gentil senhora de idade, que teve netos e então … “Alex!”
Felizmente, Alex sabia exatamente como aquela história deveria terminar. Ele se levantou, “A velhinha que tinha sido um fungo, e se transformou em um cachorro e depois em um gato e finalmente em uma senhora de idade era na verdade um alienígena que tinha se transformado em diferentes coisas para encontrar as partes de sua espaçonave que haviam se perdido, para poder então voltar para casa! E agora o alienígena estava pronto! Sua espaçonave estava completa e ele voltaria para casa! E este é o fim!”
Alex baixou os braços e voltou a sentar-se em meio a um grande silêncio.
A Sra. Castelo limpou a garganta. “Um final muito original. Obrigada, Alex.”
A fogueira agora estava bem pequena e o fogo fraco, e o professor Carlos levantou-se e se espreguiçou. “Olha, acho que já está bastante tarde. Vamos ficar por aqui. Não tenham muito medo de andar até as suas barracas, camaradas Mokianos. E cuidado com fungos estranhos!”
“Você acabou com a história”, disse CD enquanto caminhavam para sua barraca ali perto. “Nem me deu uma chance de falar nada.”
Alex baixou os olhos, fitando a ponta dos sapatos. Ele não tinha intenção de terminar a história, só que parecia um final perfeito demais para não contar.
“Sinto muito. Amanhã vou compensar por hoje, prometo.”
“Tudo bem,” disse CD chateado. “Só me prometa que vai estudar as regras do Pique Bandeira de amanhã.”
“Ah, vou sim!” disse Alex, bastante aliviado por CD não estar zangado demais com ele. Ele ia compensar tudo para CD. Afinal de contas, tinha desenvolvido uma ótima estratégia com o jogo Escapada do Planeta Mara-Dedo …
Diário do Reginaldo
Essas, então, são as regras do Pique Bandeira. Aposto que, depois do Pique Bandeira CD vai ficar feliz de ter sido meu companheiro nesse acampamento de verão.
Alex
O grupo Moki se juntou à sombra de um pinheiro bem alto protegendo-se do sol quente do verão. A bandeirinha vermelha da equipe estava pendurada em um poste a cinqüenta metros dali.
“Nós precisamos distraí-los para sairmos aqui e aqui e o Lucas poder passar por trás e chegar até a bandeira deles.” O capitão CD desenhava sua estratégia na terra com um pauzinho. “Alex, você pode ser uma das distrações.”
“Quê? Mas eu sou tão bom em despistar!” gritou Alex. Uns passarinhos se assustaram e saíram voando da árvore, uns poucos insetos também saíram de fininho, e Alex continuou falando um pouco mais baixo. “Como na Escapada do Planeta Mara-Dedo, tinha todos aqueles alienígenas e monstros do pântano e criaturas rastejantes, mas eu só perdi um dedo até agora! E isso é super bom. É um recorde! Poderia até lhes contar de quando eu me transformei em uma mosca de modo que ninguém descobriu que eu era na verdade o capitão espacial! Eu não posso ser uma … uma … distração!”
CD, que estava agachado desenhando a estratégia do Grupo Moki no chão, virou-se e olhou para cima. Olhou para seus colegas que esperavam o jogo começar. “Tá bem. Eu vou distraí-los. Você e Carlinhos fiquem aqui e guardem a bandeira.”
Antes de Alex conseguir protestar novamente, ouviu-se um apito e o jogo começou. Alex olhou ao seu redor e viu todos os colegas se dispersarem. Todos tinham algo da cor do Grupo Moki, vermelho, amarrado no braço, ou na cabeça. Ele nunca os vira antes assim tão concentrados. Então, tudo bem, o vencedor ia ganhar o troféu do Pique Bandeira e expô-lo na sala de aula o resto do ano, e teria marshmallows extra grandes na fogueira aquela noite, e uma pequena medalha para cada membro do time vencedor, além de todo o direito a se gabarem até o acampamento de verão do ano seguinte. Mas, sabe, não era nada assim demais. Alex foi meio a contra gosto para onde deveria estar para guardar a bandeira.
Sabe, se CD me ouvisse, Ele saberia que sou mesmo muito bom nesse tipo de coisa. E por que ele tinha que escolher justo o Lucas dentre todo o mundo. Alex apertou os olhos. É para CD ser o MEU melhor amigo. Puxa, se estivéssemos no Planeta Mara-Dedo, eu não me esqueceria dos amigos como o CD fez …
No dia anterior, o Grupo Moki havia ido pescar no Lago Hottamo. Por alguma razão, CD passou a maior parte do tempo pescando com o Lucas porque Lucas tinha uma “estratégia de pesca melhor”. Alex também tinha uma estratégia de pesca. Claro, tinha a ver com alguns movimentos que tinha aprendido, e não era culpa dele que os peixes do Lago Hottamo não reconheciam uma boa estratégia quando viam uma. Por alguma razão este acampamento não estava sendo o que ele havia esperado. E com certeza não era tão divertido como ele se lembrava de ter sido o acampamento do ano anterior. Como ele queria que CD ouvisse as suas ideias! Mas, acima de tudo, ele sentia falta de brincar e conversar com seu melhor amigo.…
Os olhos de Alex estavam treinados para não perder CD de vista, e CD agora estava passando pelo pequeno riacho que era a fronteira entre o território dos Mokianos e Akelianos. Um arbusto ali do lado se moveu e depois ficou parado. Alex entrou em alerta vermelho. Com certeza é um Akeliano para pegar o CD.
“CD! Cuidado!” gritou Alex.
Um Akeliano com faixa amarela, pulou para fora do arbusto, e foi correndo para pegar CD, mas CD já tinha se adiantado por causa do aviso de Alex e saiu voando até a fronteira apenas um pulo na frente dele.
Alex suspirou aliviado. CD virou e acenou para Alex. Alex sorriu. Ué, será que ele não sabia que ele tinha olhos de águia? Quando CD investiu novamente para o território inimigo, Alex prestou ainda mais atenção nos arbustos e árvores ao redor da bandeira perto da fronteira. E lá estava, outro Akeliano! Ele deu o alerta, e seu território ficou a salvo. Na hora que se seguiu Alex avisou seus camaradas Mokianos dos invasores que tentavam entrar em seu território, e ele e seu colega Carlinhos guardaram muito bem a bandeira deles dos Alekianos.
Soou o apito. O jogo terminara. Lucas tinha conseguido pegar a bandeira dos Akelianos e voltar para o território dos Mokianos em segurança.
Os Mokianos deram gritos e “vivas” de alegrias! Alex estava feliz. Ele sabia que também tinha ajudado seu time a ganhar a vitória, mesmo sem os superpoderes que teria se estivesse no Planeta Mara-Dedo. Não. Seus super olhos de águia eram seus de verdade.
“Ei, Alex. Você foi ótimo guardando a bandeira.”
“Obrigado, CD.”
Alex e CD sorriram e deram um tapinha nas costas um do outro e foram apertar as mãos dos Akelianos que tinham se juntado ao redor deles.
“Bom jogo, Akelianos e Mokianos,” disse o professor Carlos pelo megafone. “Estou feliz por terem se divertido. E agora sinto ter que lhes dar más notícias. Ora, parece que o nosso suprimento de alimentos tinha um ninho de formigas de fogo escondidas em um dos cantos. Se vocês bem se lembram, essas formigas são daquelas bem agressivas, e podem dar ferroadas bem doídas. Temos tentado conseguir alguém para exterminá-las, mas no momento nossas opções são ir mais para dentro do mato ou acabar nosso acampamento de verão hoje.”
Alex gemeu. Agora que ele estava começando a se divertir de verdade, já era o fim!
“Vamos fazer uma votação,” disse o professor Carlos. “Vai levar umas duas horas até chegarmos ao novo local onde poderemos acampar, e aí vamos ter que montar nossas barracas novamente. Vai ser trabalho extra para todo o mundo se formos para outro local. Mas isso significa que vamos poder ficar por mais três dias para nos divertirmos aqui. Então, levante a mão se você quiser montar outro acampamento, e fique com a mão para baixo se estiver pronto para voltar para casa.”
A maioria levantou a mão. CD levantou a sua e Alex também.
“Muito bem, então,” disse o professor Carlos, “vamos para nosso novo acampamento! Enquanto vocês brincavam a equipe de apoio juntou a maioria de seus pertences e colocou no ônibus, então podemos ir daqui direto para os ônibus.”
“Eu achei que você ia querer ir para casa,” disse CD para Alex enquanto caminhavam em direção aos ônibus que os esperava no acampamento.
“Mesmo? Por quê?”
“Porque aí você ia poder jogar A Escapada do Planeta Mara-Dedo,” disse CD, “e às vezes você fica olhando para o nada e jogando na sua cabeça.”
Alex corou. “Não. Posso jogar isso em casa a hora que eu quiser.”
“Estou feliz de você estar aqui,” disse CD.
“Eu também,” disse Alex, e de verdade.
“Você podia me dizer como é que se joga essa Escapada do Planeta Mara-Dedo no ônibus.”
“Acho que você é que podia me dizer o que eu perdi de todas aquelas coisas que não li sobre acampamento,” disse Alex.
Alex então deixou A Escapada do Planeta Mara-Dedo totalmente para trás enquanto ria com CD embarcando no ônibus que os levaria para mais aventuras do acampamento de verão. O Planeta Mara-Dedo pode esperar, pensou Alex.
Diário do Reginaldo
Voltei! E o acampamento de verão foi incrível!
Alex
P.S. Descobri que Lucas também tem a Escapada do Planeta Mara-Dedo, e acha que eu pareço o Pião Pequenotrote. Resolvemos ser amigos.
Autoria de R. A. Watterson. Ilustrações de Yoko Matsuoka. Design de Roy Evans.Publicado pelo My Wonder Studio. Copyright © 2021 por A Família Internacional