Meu Estúdio Maravilhoso
Max e o Plano Para Pegar um Anjo da Guarda
Sexta-feira, Dezembro 16, 2022

Era dezembro, e o céu estava de um azul belíssimo, quando Maximiliano Torres subiu a entrada da sua casa. O clima estava fresco, o sol brilhava e as férias do final do ano iam começar logo, logo! A vida era boa.

Ele carregava a mochila dos livros no ombro direito e uma sacola de latas de suco vazias na mão esquerda. Agarrou a maçaneta da porta e abriu-a bruscamente apenas alguns centímetros. Max deu meia volta e, com os olhos semicerrados, observou a rua na frente de sua casa, de um lado e de outro. Não tinha ninguém ali. Nada se mexia a não ser o topo das árvores e a sombra que projetavam na rua.

Perdi-o de novo, pensou Max, abrindo a porta da frente, desta vez completamente, e depois desapareceu no interior dela.

Uma vez dentro da casa, ele subiu silenciosamente as escadas na ponta dos pés e parou na frente da porta do seu quarto.

Se ele não estava vindo atrás de mim, talvez possa estar no meu quarto. Quem sabe escondido atrás das cortinas, ou dentro do armário.

Colocou a mochila e a sacola de latas de suco vazias cuidadosamente no chão, e respirou fundo.

Desta vez vou ser rápido o suficiente. Desta vez vou pegá-lo.

Abriu a porta rapidamente e pulou lá para dentro, jogando-se em cima de uma figura que estava reclinada no tapete.

—Te peguei! — gritou Max, mas quem estava debaixo dele gritou mais alto.

—Quê… Saia de cima de mim!

Max rolou para o lado e se encontrou cara a cara com seu melhor amigo, Rui.

—Como é que você sabia que eu estava aqui?—perguntou Rui.

—Eu não sabia. Ah… bem… esperava que fosse outra pessoa. Desculpe. Machuquei você?

—Só amassou tudo dentro de mim, nada sério — disse Rui, fingindo desamassar o estômago. Para que todos esses gritos e agressão se não sabia que era eu?

Max hesitou.

—Prometo três vezes de olhos cruzados que não conto para ninguém.

—Você vai rir de mim.

—Não vou não.

—Você acredita em anjos da guarda? —perguntou Max.

—O quê? Com asas de penas e túnicas brancas brilhantes?

—Tudo bem. Esqueça o que falei — murmurou Max, pegando sua caixa de soldados robôs. Aqui. Vamos brincar.

—Max, o que é que anjos da guarda tem a ver com você emboscar e pular em cima de pessoas? — perguntou Rui quinze minutes depois, enquanto seu pelotão vermelho cercava o pelotão azul de Max. Rui tinha manobrado seu pelotão vermelho de forma a emboscar o pelotão azul em três lados. O único perigo seria se Max tivesse um gerador de raios buraco negro e sugasse todos os seus homens para dentro dele.

—Beeeem — disse Max — e se o meu anjo da guarda não tiver asas brancas de penas nem túnica? E se em vez disso ele pudesse mudar de forma e ser algo super legal como…

—Como um soldado robô. — terminou Rui

—Sim, isso mesmo — disse Max acionando um gerador de raios buraco negro contra o pelotão vermelho de Rui.

Rui olhou tristemente para o seu pelotão dizimado e disse:

—Eu devia saber — disse — e depois agarrou um punhado de soldados vermelhos, e começou a jogá-los em Max. Logo havia gritos, berros e soldados de plástico voando pelos ares.

—Mas na verdade — disse Rui quando não tinham mais soldados para jogarem um no outro — ainda não entendo o que pular em cima de mim tem a ver com anjos da guarda em túnicas ou uniforme de soldado robô.

—Você não vai rir? — perguntou Max.

—Eu já prometi três vezes, não prometi?

—Está bem. Estou tentando pegar o meu anjo da guarda. Quero vê-lo.

Rui riu, coçou o nariz e pareceu interessado.

—Mas por quê? — perguntou.

—Por que é que eu quero vê-lo? Por que haveria de não querer vê-lo? Você não gostaria de ver o seu anjo da guarda? — perguntou Max.

—Eu não sei se tenho um anjo da guarda — respondeu Rui.

—Claro que tem. Todo mundo tem. O meu… — Max baixou a voz — o meu às vezes fala comigo. Ou pelo menos eu estou convencido que fala.

—E o que é que ele diz? —perguntou Rui.

—Ele fala coisas na minha mente do tipo “Olhe para ambos os lados antes de atravessar a rua, não quando já está no meio. Puxa menino, você não pensa?”

—Entendi — disse Rui franzindo as sobrancelhas. — Mas quem quer ter um anjo da guarda ranzinza?

—É por isso que eu acho que ele é real, e não imaginário. Porque se ele fosse exatamente do jeito que eu esperava, podia ser que eu estivesse imaginando, mas às vezes ele me diz coisas que eu não esperava. Bem, de qualquer forma eu quero vê-lo.

—O jantar está pronto! — Ouviu-se anunciar do fundo das escadas, junto com o cheiro de hambúrgueres.

—Está bem! — respondeu Rui.

—Eu tenho um plano e você pode me ajudar. Eu te conto depois do jantar.

Os meninos passaram o resto da noite reunindo materiais: pedrinhas do quintal e festão que pegaram emprestado da árvore de Natal por um tempo. Rui voltou para casa, prometendo ajudar no dia seguinte em quaisquer outras atividades para pegar o anjo.

Perto da meia noite, ouviu-se um grande estrondo no quarto de Max. Max pulou da cama, agarrou a lanterna, que ligou com os dedos trêmulos, e encontrou o pai estirado no chão na entrada da porta.

—Deus do céu! — gritou o pai de Max — o que é isto?

—Papai! O que o senhor está fazendo aqui? E, ha… isto é um fio de tropeço, com um alarme para ladrões — gaguejou Max, tentando desemaranhar o pai do festão reforçado, passado por latas de suco vazias cheias de pedrinhas.

—Sua mãe e eu sempre checamos você, Noé e Sofia à noite. Geralmente a esta hora você já está dormindo.

O Sr. Torres arrumou o pijama e cruzou os braços na frente do peito.

—E qual o motivo desta armadilha?

—Estou tentando pegar algo. P-posso lhe dizer amanhã? — pediu Max.

O pai suspirou e passou a mão no cabelo.

—Tudo bem. Mas não ache que eu vou esquecer. Espero que me dê uma explicação amanhã

—Sim, papai.

—Boa noite. E uma coisa, filho. Esse alarme contra ladrões não é nada mau.

Max voltou para a cama, escondeu a lanterna de novo debaixo do travesseiro e deitou-se de novo. Ficou pensando e repensando e, no meio de algum desses pensamentos, voltou a adormecer.

*

Na manhã seguinte, o pai recebeu um telefonema urgente e teve que sair cedo para trabalhar, deixando assim a conversa sobre o alarme contra ladrões para a hora do jantar. Max deu um suspiro de alívio e foi para a escola. No caminho, encontrou Rui, que perguntou:

—Então, pegou alguma coisa?

—Peguei o meu pai — respondeu Max. —Não sabia que ele e a minha mãe vinham me checar durante a noite. Agora já sei. Mas ele disse que era um ótimo alarme contra ladrões. Onde mais é que eu posso tentar encontrar um anjo?—questionou Max.

—Por que não experimenta a janela? Talvez o seu anjo entre e saia por ela. Ou talvez goste de lugares altos. O topo das árvores… Ah! Talvez eles fiquem sentados no telhado das pessoas esperando. O truque é pegá-los quando eles não estão invisíveis. Acho que você teria que pegá-lo de surpresa.

—Talvez não seja possível.

—Não diga isso! As férias de fim de ano começam amanhã. Teremos algumas semanas para procurar o seu anjo. Eu ajudarei você o máximo que puder.

—Você não tem planos para as férias? —- perguntou Max.

—Claro que tenho. Uns primos meus veem passar a semana do Natal conosco, mas até lá podemos procurar juntos. — Os amigos deram um aperto de mão para firmar o trato e continuaram a caminho da escola.

*

Naquela tarde, carregadas com as últimas coisas que haviam tirado dos armários, as crianças do colégio primário de Winston saíram pelos portões aos montes, e iniciaram alegremente as férias do final do ano.

—A aulas terminaram!

—Vou apostar corrida com você até sua casa!

Max e Rui saíram correndo pelo portão da escola e pela calçada na direção do cruzamento. Max estava na frente e quando levantou o pé para descer do meio-fio, ficou com ele parado no ar.

Rui também freou com grande ruído, a menos de um centímetro de se chocarem e caírem estatelados no meio da rua.

Olhem para ambos os lados antes de atravessarem a rua, não quando já estão no meio dela! Meu Deus, meninos, vocês nem pensam?

Eles olharam um para o outro surpresos.

—Você ouviu? — perguntou Rui.

—Você também ouviu? Então é verdade! — disse Max feliz.

—Eu ouvi. A sério. E ele parece bem ranzinza.

—É mesmo.

—Por que será que eu nunca o ouvi antes? — perguntou Rui.

—Por que você não estava se esforçando para ouvir — respondeu Max.

—Agora eu também tenho que encontrar o meu — disse Rui determinado. — Onde será que devemos procurar primeiro?”

*

De Segunda até Quinta-feira, podia-se ver Max e Rui subirem árvores, espreitarem em sua própria casa, entrarem repentinamente no próprio quarto, e virarem do avesso o armário dos materiais de limpeza.

—Não adianta — disse Rui, já no final da sexta-feira. — Cheguei ao final da minha lista de lugares onde podia procurar, e você também. Além disso, meus primos estão chegando amanhã. Vamos ter que suspender a busca.

Max olhou pela janela para o quintal. Compridos fios de festão com latas cheias de pedrinhas rodeavam as árvores, cercas e arbustos ao redor da casa da família Torres.

—Talvez eles simplesmente não queiram ser vistos. É, talvez seja isso. Mas eu tenho um plano. … E se eu ficar aqui esta noite e ficar na janela até amanhecer? Talvez os anjos só sejam visíveis durante a noite!

—Por que será que não pensamos nisso antes?

Talvez seja a nossa última chance, porque a sua mãe não ficou muito feliz de você ter posto essas latas com festão pelo jardim. Provavelmente vai pedir para você tirar tudo isso em breve.

—Certo. Esta noite vamos ficar acordados…

—Com uma lanterna.

—E óculos para ver no escuro.

—E chips.

—Isso mesmo.

Às nove horas da noite, ambos os rapazes estavam comendo seus lanchinhos, enquanto observavam o quintal da casa, que estava muito escuro.

Às dez horas, contavam histórias um para o outro sussurrando.

Às onze horas, a lua subiu no céu e seu luar suave entrando pela janela encontrou dois meninos embrulhados em cobertas, com a cabeça reclinada em travesseiros … profundamente adormecidos no chão.

À meia-noite, um barulho tremendo de colisão fez Max e Rui pularem dos seus ninhos de cobertas e agarrarem as lanternas.

—Minha nossa! — sussurrou Max com o nariz colado no vidro. — É um robô gigante!

—Temos que correr lá fora — disse Rui — se desembaraçando das cobertas.

E lá foram eles.

Max, ainda com chinelos de quarto, foi o primeiro a chegar lá fora. Mas Rui chegou logo atrás e, para surpresa de ambos, viram o pai de Max segurando um martelo, Sofia carregando o irmão mais novo, o Nando, e a mãe de roupão, todos lá fora.

—Papai! — exclamou Max — você também viu o robô gigante?

O pai de Max agarrou ambos os garotos e os puxou para longe das árvores e arbustos, parecendo exausto e meio adormecido.

—Alguém usando uma máscara de esquiar estava preso no seu alarme contra ladrões. Parecia perigoso. … O que é que todos vocês estão fazendo aqui? — perguntou ele, acordando o suficiente para perceber que a esposa e os filhos também estavam ali fora.

—Eu vi o ladrão — afirmou Sofia — do lado de fora da janela do quarto do Nando!

—Não era um ladrão, Sofia! Era um robô gigante. Era exatamente como os soldados do meu jogo -— disse Max firmemente, e Rui concordou com a cabeça.

—Nada disso — disse a mãe abanando a cabeça. — Não era um robô nem um homem com uma máscara de esquiar. O que eu vi foi o meu segundo melhor vestido. O vento deve tê-lo soltado do varal e ele deve ter ficado preso no seu alarme contra ladrões. Amanhã vamos tirar aquela engenhoca toda, e sem protestos! Faz barulho demais. Ninguém consegue dormir com todo aquele barulho.

Além do barulho das latas no pátio, começaram a ouvir outro ruído: era um apito alto e estridente.

—Nossa! — disse Rui — o alarme de incêndio de alguma casa disparou. Acho que poucas pessoas vão conseguir dormir esta noite.

O grupo ficou em silêncio por meio segundo, antes de gritarem em coro:

—É a nossa casa!

Rolos de fumaça saiam pela janela da cozinha, junto com assustadoras labaredas alaranjadas.

—Eu vou à casa do Rui ligar para os bombeiros — gritou o pai por cima do ombro enquanto deixava o grupo amontoado no jardim e corria o mais rápido que podia.

Quinze minutos depois, a rua ao redor da casa deles estava cheia de carros de bombeiros e vizinhos que quase sempre tropeçavam no alarme de anjo de Max e Rui.

A família Torres e um número crescente de expectadores, observaram as labaredas alaranjadas sumirem da janela da cozinha e se tornarem em fumaça preta, depois cinza e por fim branca.

Quando amanheceu, os dois rapazes se encontravam na cozinha de Rui, tomando uma xícara de chocolate quente, quando o pai de Max entrou e se sentou cansadamente à mesa.

“—Olha, o dano não foi tão grande como poderia ter sido. Vamos ter que substituir uma parte da cozinha.

Max deu uma xícara de chocolate quente para o pai. O pai agradeceu com a cabeça, e depois continuou:

—O andar de baixo vai ter que ser completamente limpo de fuligem. Mas a casa em si não sofreu muitos danos e ninguém se machucou. Graças a Deus que estávamos todos fora da casa quando o alarme soou.

—Papai, como é que o fogo começou?

O pai olhou para baixo, para a xícara, respirou fundo e depois disse:

—Foi minha culpa. Eu joguei no lixo da cozinha alguns trapos encharcados de tinta. Além disso, sua mãe jogou fora gordura solidificada. Pegaram fogo em algum momento durante a noite.

Max e Rui exclamaram ao mesmo tempo, excitados:

—Combustão espontânea!

—Já ouvi falar disso antes — disse Rui entusiasmado. — Acontece com as coisas mais estranhas: óleo de sementes de linho, tinta, algodão e grandes recipientes de pistache!

—O que é que isso tem de legal? — perguntou Max.

—Não é legal que a casa quase tenha ardido em chamas totalmente! — disse o pai tristemente. — Acho que vamos passar grande parte das nossas férias de final de ano tirando a fuligem das paredes.

Max lamentou-se, mas Rui pôs a mão no ombro dele para consolá-lo.

—Só tem uma coisa… — disse o pai — ontem à noite, quando todos saímos da casa para ir para o pátio de trás, você tem a certeza que viu um … — o pai sorriu — um robô gigante?

— Olha — disse Max lentamente — estava muito escuro. Podia ter sido um homem com uma máscara de esquiar ou o segundo melhor vestido da mamãe.

O pai concordou, satisfeito, e saiu de novo.

Rui reclinou-se para trás na cadeira.

—Você está pensando o que eu estou pensando? — perguntou.

—Umm, sorvete de chocolate e menta— disse Max com um sorrisinho. Com granulado colorido por cima…

Rui arrastou a cadeira e inclinou-se para a frente, e disse com uma expressão sóbria:

—Você não entendeu?

—É claro que eu entendi … nossos anjos são bem espertos.

Max riu e disse:

—Eles nos induziram a colocar armadilhas para eles, que fazem barulho à noite, para fazer a família toda sair de casa. Para nós eram robôs gigantes. Para o papai era um homem com uma máscara de esquiar. Para a mamãe era o seu segundo melhor vestido. Assim não tinha ninguém na casa quando o lixo irrompeu em chamas.

—O que é que isso tem de legal?

—É bem incrível.

—Mas eu ainda estou pensando em sorvete de chocolate e menta com granulado por cima.

—Eu aposto corrida com você até à sorveteria.

—Aceito!

—Os garotos saíram disparados pela rua abaixo, mas pararam a alguns centímetros do meio-fio. Max olhou para Rui com um leve sorriso. Rui olhou para a esquerda, Max olhou para a direita e atravessaram a rua andando. Assim que chegaram ao outro lado, começaram a correr de novo.

Era inverno, o ar estava fresco, o sol brilhava, lixo entrava em combustão espontânea, mas seus anjos estavam vigilantes. A vida era boa.

Fim
Porque a Seus anjos Ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em pedra alguma (Salmo 91:11—12 NVI).
Autoria e ilustração de Yoko Matsuoka. Desenhos de Roy Evans.
Publicado por My Wonder Studio. Copyright © 2022 por A Família Internacional
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Tagged: histórias infantis, natal, anjos