Meu Estúdio Maravilhoso
Sequestro no Granbery
Sexta-feira, Outubro 28, 2022

Uma Aventura do Clube dos Cinco

— Eu achava que vocês iam pegar toda a sua comida nesta viagem — disse Karen para Calebe e Edgar.

— Bem, ainda não tivemos tempo para ir pescar — respondeu Calebe.

— Mmm-mmm — resmungou Edgar por entre a boca cheia de comida.

Os membros do Clube dos Cinco estavam sentados ao redor de uma fogueira, saboreando os sanduiches que Karen havia preparado enquanto os rapazes armavam as barracas. Era a véspera do primeiro dia de férias da primavera, e Chris, Suzana, Calebe, Edgar e Karen, acompanhados por William, o tio de Edgar que era guarda florestal, estavam acampados debaixo de várias árvores, bem no meio da Floresta dos Pinheiros, a uma hora de carro de Silvianópolis, a cidade onde moravam.

Calebe ligou o rádio do seu smartphone para escutar o noticiário local e pegou mais um sanduíche.

— Shh … escutem — disse ele.

“…a Delegacia de Polícia de Silvianópolis continua procurando pistas para o caso do sequestro. Já faz dois dias que Geovanni Farias foi dado por desaparecido…”

— G-geovani … Geovanni Farias? — perguntou Karen, prendendo a respiração.

— Quem é Geovanni Fa…? — começou Christopher a perguntar, mas Karen levou um dedo aos lábios e voltou a prestar atenção na notícia do rádio.

“Até à data, o único indício de intenção ou exigência que a família Farias recebeu dos sequestradores foi uma foto Polaróide do seu filho mantido refém. A família Farias é proprietária de vários negócios, inclusive as joalherias Farias. Especula-se que o resgate pedido seja astronômico. Continuando com outras notícias de hoje… ”

Quando o noticiário continuou com outras notícias menos importante, os outros olharam para Karen.

— Quem é Geovanni Farias? — perguntou Christopher de novo.

— Era meu colega quando estudei no Granbery. Um riquinho esnobe que se comportava como se o universo girasse em torno dele. Não tinha muitos amigos de verdade. Não é de surpreender, imagino. Ele sempre agia como se fosse melhor que todo mundo. Duvido que muitas crianças estejam com pena dele.

— Isso não é legal — exclamou Suzana.

— Tem razão, desculpe — respondeu Karen. — Mas seus pais são tão ricos que não terão dificuldade em pagar qualquer resgate que lhes peçam. Não precisam se preocupar.

— Tenho certeza que ele tem muito para estar preocupado — disse Christopher. — Deveríamos orar por ele.

— Claro...

— Boa ideia — disse Suzana, fechando os olhos. — Querido Jesus, por favor proteja o Geovanni e guarde-o em segurança. Faça com que os seqüestradores falem logo suas exigências e também dê à família Farias um sinal de que Você vai trazer Geovanni de volta são e salvo.

— Sim, Senhor — disseram os outros.

*

— Você acha mesmo que vamos pegar alguma coisa? — perguntou Calebe na manhã seguinte bem cedo. Com suas mochilas praticamente vazias e um par de pochetes cheias amarradas na cintura, os dois sairam sozinhos enquanto os outros ainda estavam dormindo.

— É claro que sim. E vamos mostrar para a Karen. Vai parar de rir da nossa cara porque comemos os sanduíche que ela fez. Ela vai implorar para provar o nosso peixe na brasa!

— Legal... desde que não leve muito tempo. Já estou morrendo de fome!

— Aqui, Frisky! — chamou Calebe. — Nós vamos caçar! Você quer vir com a gente?

Frisky latiu e saiu correndo pela floresta na frente dos meninos.

Calebe e Edgar passaram mais de uma hora andando de um lado para o outro, consultando seus livros e gráficos para identificar nozes ou frutinhas silvestres comestíveis, e se precaverem de alguma que fosse descrita como venenosa. Quando deram conta, estavam no rio que corria pela floresta, onde juntaram gavetos e construíram armadilhas para os peixes com pedaços de corda que tinham em suas mochilas. Eles as colocaram ao longo da margem do rio e esperavam pegar alguns peixes antes do dia acabar.

De repente, Frisky latiu e correu com tudo para o meio de uns arbustos. Achando que tinha farejado um animal, os rapazes correram atrás de Frisky e finalmente, sem fôlego, encontraram o cachorro latindo e escavando freneticamente em um pequeno buraco no chão.

— Ei, Frisky, deixe pra lá! — disse Calebe. — Esse animal nunca vai sair desse buraco enquanto você estiver aí latindo!

Frisky se afastou e voltou para o lado de Ziggy, choramingando e desaminado.

— Ei, Edgar, olha aqui — chamou Calebe. Ele estava agachado inspecionando um pedacinho de papel.

Edgar foi até lá.

—O que é isso? — perguntou. Parece parte de uma carta, mas tem pouquíssimas palavras. Apenas “Quem dera”, “só queria” e “parece que ninguém”... não consigo entender o resto. Tome.

— Seja lá o que for, parece triste — disse Edgar — colocando o pedacinho de papel dentro da mochila.

Pouco mais adiante, Edgar viu outro pedacinho de papel no caminho ali perto.

— Veja... tem mais naquela direção — disse Calebe apontando para a trilha que ficava de um lado. — Tem gente que joga lixo por toda parte. Isso estraga nossa busca por aventura. Que vergonha.

— Vamos pegar estes aqui e voltar para o acampamento.

Mas cada novo pedacinho de papel que pegavam parecia levar a outro mais adiante.

— É como uma caça ao tesouro — disse Calebe com uma careta.

— Você acha que tem algo no final da trilha dos papeizinhos? — perguntou Edgar.

— Não faço a mínima ideia — respondeu Calebe, encolhendo os ombros. — Só tem um jeito de descobrirmos.

Quando chegaram no final da trilha dos papéis, a pochete de Edgar estava cheia de pedacinhos de papel e os meninos estavam numa clareira. No meio dessa clareira havia uma velha cabana de lenhador, arrebentada e abandonada.

—Acho que encontramos o nosso tesouro — disse Kento, um pouco desapontado.

— Talvez agora que temos todos os pedacinhos da carta possamos juntar tudo e descobrir do que se trata — disse Ziggy. — Vejamos!

— Não deve ser nada... — disse Kento.

— O meu tio tem fita adesiva lá no acampamento — disse Edgar. — Vejamos!

*

— A data é de apenas alguns dias atrás — disse Edgar, olhando as duas folhas de papel que conseguiu juntar com os pedacinhos. — Parecem parte de um diário ou algo assim. E ainda por cima escrito com caneta prateada.

— Tem um nome? — perguntou Chris.

—Não. Não está terminado.

—Talvez haja mais gente acampando na floresta — disse Suzana. — Apesar do guarda florestal William ter dito que tinhamos a floresta toda para nós.

— Você disse tinta prateada? — perguntou Karen para Edgar.

— É. Por quê?

— Não é nada. Mas seria muita coincidência.

—Coincidência? — perguntaram Calebe e Suzana ao mesmo tempo.

— É que o Geovanni Farias sempre escrevia com uma caneta de tinta prateada na escola — disse Karen.

— O garoto sequestrado? — sussurrou Edgar. — Você acha que pode ser dele?

— Duvido. Estamos muito longe do Granbery. O que está escrito no papel?

Edgar deu o papel todo remendado a Karen. Karen passou os olhos na página e parou em certa frase, que leu em voz alta.

— Gostaria de ter amigos, não como as crianças que só querem estar comigo porque eu tenho dinheiro. Às vezes parece que ninguém se importa com quem eu sou e o que sinto de verdade. Se elas se importassem não me invejariam tanto assim.

— Coitado — disse Chris. Será que é realmente Geovanni Farias?

— Poderia ser qualquer um — disse Karen mostrando desinteresse. — Tem pelo menos sete escolas em Silvianópolis onde estudam muitas crianças ricas.

— E todos escrevem com tinta prateada — disse Calebe, dando uma gargalhada.

— Não acredito que isso aqui seja do Geovanni, porque ele adora causar inveja aos outros. Ele até ficava ostentando sua caneta de tinta prateada, se gabando dizendo que ela é de prata de verdade. Nunca a emprestava para ninguém nem deixava ninguém tocá-la.

— Seja como for, parece que quem escreveu isso aqui precisa de um amigo — disse Suzana.

— E de ajuda — disse Christopher. — Talvez possamos voltar à cabana de lenhadores e ver se encontramos mais alguma pista sobre quem escreveu isso.

Todos concordaram e, depois de informarem o guarda florestal William de suas intenções, eles se juntaram para orar. Depois que escaparam do Sid Manchester do Mundo das Moedas, eles tinham receio de se envolverem em outras aventuras potencialmente perigosas sem antes pedirem a Jesus para os guiar e ir com eles.

*

— Foi aqui que encontramos os pedacinhos de papel espalhados — disse Calebe, saindo do caminho principal e apontando para a trilhazinha que levava mais para dentro da mata.

— Mal parece uma trilha, mas foi obviamente usada algumas vezes — disse Chris.

Eles logo chegaram à velha cabana arruinada. A varanda da frente, parecia estar prestes a desmoronar, e Christopher pisou cuidadosamente nela para testar a porta. As dobradiças pareciam um pouco soltas, mas a porta ainda estava trancada. Como não sabiam de quem era o casebre, decidiram não forçar a porta, pois podia quebrá-la. Mas pelo que podiam ver através das janelas empoeiradas e quebradas, o lugar estava vazio, com apenas alguns móveis e prateleiras vazias.

— A pista de papeizinhos terminou aqui? — perguntou Karen. — Isso quer dizer que mais alguém esteve aqui recentemente.

— Ai, meu Deus! — exclamou Suzana de repente, pegando uma caneta prateada desgastada. Gravado no clipe dela, em letras ornamentadas havia um nome.

— Não acredito — disse Karen. — Era o Geovanni Farias!

— O que vamos fazer? —perguntou Calebe.

— Vamos embora daqui — disse Suzana. Se os sequestradores têm algo a ver com este lugar, não quero que eles nos encontrem aqui.

— Devíamos informar o guarda florestal William.

— E a polícia — disse Suzana, guardando a caneta dentro do bolso. — Sinto que quando mais rápido voltarmos para o acampamento, melhor.

*

— Sim, precisamos informar a polícia o mais rápido possível — disse o guarda florestal William, depois dos cinco explicarem a situação para ele. — Para que o meu relato seja convincente, eu mesmo devo apresentar a evidência. Vou de carro até Silvianópolis. Provavelmente vai levar uma hora, e todos vocês podem vir comigo.

Apesar das objeções do guarda florestal William, Edgar insistiu em ficar para trás, o que fez com que Christopher, Suzana e Karen também se oferecessem para ficar.

— Vamos estar bem — disse Edgar. — Talvez os sequestradores voltem e poderemos ver o que pretendem fazer.

— É, ou podem sequestrar você também — disse Karen.

— Eu não me aproximaria tanto assim — protestou Edgar. — Posso vigiar o lugar com os meus binóculos a uma distância segura, como por exemplo em cima de uma árvore para onde eles nunca pensariam em olhar.

— Então vou com você — disse Karen.

Suzana estava nervosa.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Não se preocupe. Teremos cuidado. — disse Edgar.

— Sim, e o Edgar sabe como sobreviver na floresta, não sabe Edgar? — perguntou Karen. — Vai estar tudo bem.

— Ok… tudo bem — disse Suzana sem muita certeza.

— Tenham cuidado! — exclamou Christopher quando os dois se puseram a caminho e entraram na vegetação rasteira que rodeava o acampamento.

— Teremos! — responderam.

*

— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntou Edgar, quando mais tarde Christopher e Suzana encontraram ele e Karen empoleirados em uma árvore observando a cabana.

— Decidimos que seria melhor vocês não ficarem aqui sozinhos — disse Suzana.

— Hmm — exclamou Edgar. — E o que é que vocês estão tentando fazer agora?

— Acha que não consigo subir uma árvore tão bem quanto você? — disse Suzana, escalando. — E deixe eu dar uma olhada com isso.

Edgar suspirou e passou os binóculos para ela.

— Sabe uma coisa? — sussurrou Suzana subitamente, ajustando melhor o foco do binóculo. — Eu vi algo mexer debaixo da casa ... ou alguém... está lá... no porão.

— Tem um porão? — indagou Christopher. — Engraçado que não reparamos.

— Suba até aqui e dê uma olhada naquela grade na parede de pedra, na base da cabana.

— Você tem razão — disse Christopher, baixando a voz. — Eu também vi algo mexendo. Precisamos observar mais de perto.

— O quê? — disse Suzana — você está doido?

— Fale baixo — disse Christopher.

— Tudo bem. Mas e se forem os sequestradores? — sussurrou Suzana.

— Calma — disse Karen. — E se for Geovanni, preso ali sozinho, trancado, e esta for nossa única chance de salvá-lo?

— Não estou dizendo que devemos arrombar a porta imediatamente — disse Christopher descendo. — Só vou dar uma olhada de mais perto.

— Karen e Edgar se juntaram a ele, e os quarto rastejaram até os arbusto do lado da cabana, onde haviam visto a grade.

— Eu sou pequeno o suficiente para me aproximar — disse Edgar, e rastejou por baixo dos arbustos até ficar do lado da grade.

Edgar prendeu a respiração.

— Tem alguém amarrado a uma cadeira e parece estar sozinho.

— A entrada para o porão deve ser dentro da casa — disse Christopher, correndo para a porta da frente. Depois de dois encontrões, a porta soltou-se do cadeado e caiu no chão.

— Só por um milagre alguém não ouviu isso — disse Karen com um risadinha irônica.

No interior, as crianças encontraram um buraco debaixo da mesa, e desceram uma escada para dentro do porão escuro.

Um rapaz no centro do cômodo virou a cabeça quando eles entraram. Tinha a boca tampada com esparadrapo.

— Geovanni? Geovanni Farias? — perguntou Christopher , massageando seu ombro dolorido.

O rapaz acenou que sim com a cabeça.

— Eu sou Christopher.

— E eu sou Karen. Karen Dale. Se lembra de mim?

O rapaz acenou afirmativamente mais uma vez.

— E eu sou o Edgar.

— Somos amigos... e eu sou Suzana.

— Chega de apresentações — disse Karen e dirigiu-se a ele. Viemos libertá-lo.

— Aiiii! — disse Geovanni quando Karen arrancou o esparadrapo da boca dele.

Christopher cortou as cordas que o amarravam à cadeira.

Assim que suas mãos ficaram livres, Geovanni esfregou a boca dolorida.

—Vocês sabem onde estamos? — perguntou.

— Estamos na Floresta dos Pinheiros, a uma certa distância de Silvianópolis — disse Karen. — Estamos acampados aqui perto.

— Como é que me encontraram?

— Uma trilha de papel rasgado! — exclamou Edgar orgulhosamente.

Geovanni deu uma risada.

— Me perguntei se isso iria funcionar. Alguém poderia achar que aqueles pedacinhos de papel eram lixo.

— Bem, eu nunca pensei que tivessem algo a ver com você.

— Mas eu encontrei a sua caneta lá fora — disse Suzana.

— Bem, então que vamos fazer agora?—disse Karen impaciente.

— Exatamente — disse Geovanni.

— O meu tio, o guarda florestal William, foi com um dos nossos amigos contatar a polícia — disse Edgar. —Devem estara aqui em um par de horas, mais ou menos.

— Um par de horas? Puxa.

—Silvianópolis não é assim tão perto daqui — disse Christopher.

— Uma coisa é certa — disse Suzana — se os seus sequestradores estavam procurando um lugar remoto, escolheram um bom. Aposto que não esperavam que tivesse por aqui algumas pessoas que gostam de acampar!

— Falando de acampar, acho é melhor irmos para o nosso acampamento — disse Karen. Não sabemos quando os sequestradores podem...

As cinco crianças ficaram mudas ao ouvir um carro chegar e totalmente petrificadas quando ouviram as portas bater e passos se aproximando.

— Essas vozes não parecem ser da polícia — foi tudo que Suzana conseguiu dizer antes de uma silueta aparecer na abertura e um homem pular agilmente dentro do porão.

— Ora bem, o que nós temos aqui? — disse, enquanto outra pessoa descia atrás dele. Era uma mulher. — Parece que o Geovanni recebeu alguns amigos, Vilma.

A mulher suspirou.

— Ótimo, Dudu. Mais reféns. Tudo que nós precisávamos — resmungou ela e tirou uma arma do bolso traseiro da sua calça. — Vamos dar um passeio. Pensaremos o que fazer em seguida quando tivermos saído deste lugar.

*

O guarda florestal William, Calebe e Frisky pularam para fora do caminhão, e ficaram chocados ao encontrarem o acampamento vazio. Um carro da polícia chegou com o tenente Flaviano e o policial Ferreira.

— Onde estão os outros? — perguntou Ferreira.

— Não faço a mínima ideia — respondeu Calebe, alisando o pelo na cabeça de Frisky. O cachorro gania. — Só sabemos que foram procurar Edgar. Talvez estejam…

— ...tentando resolver outro caso sozinhos — disse um policial secamente.

— Seja como for, é melhor nos mexermos rápido — disse o policial Ferreira.

Calebe, Frisky e o guarda florestal William entraram no carro da polícia.

— Só nos mostre o caminho.

A porta da cabana estava arrombada. Rastros enlameados mostravam que um carro havia saído apressadamente.

O policial Ferreira fez uma busca rápida na parte de fora da cabana, enquanto Calebe e William seguiam o tenente Flaviano para dentro, onde descobriram a abertura para um porão vazio.

— Seja quem for que estava aqui já foi embora — disse o tenente Flaviano enquanto observava o cômodo que tinha apenas uma mesa com restos de comida e um colchão surrado. Ele reparou que havia várias seringas espalhadas pelo chão, e colocou uma luva para pegar uma.

— É alguma droga — murmurou. — Provavelmente estão mantendo os reféns sedados. Temos que mandar analisar isto no laboratório.

— Policial Ferreira, será que poderia me emprestar a sua lanterna? Acho que encontrei algo.

— Claro. O que é?

— Tem algo riscado no pó aqui. Uma fileira de pontos e linhas... talvez um código?

— Edgar! —exclamou o guarda florestal William. — Eu lhe ensinei Morse no início do ano.

— Talvez tenha deixado uma pista — disse Ferreira. Consegue lê-la?

— Sim, parecem letras e números. Não é uma mensagem. Dois zero cinco KXZ.

— Parece a placa de um carro — disse Flaviano. Vamos.

Quando voltaram ao carro, Flaviano começou a falar pelo rádio.

— Estação, código 12. Encontrado esconderijo dos seqüestradores do Granbery. Eles fugiram da área provavelmente de carro. Bloquear estradas no perímetro de 50 km a partir da Floresta dos Pinheiros. Checar as placas dos veículos em busca do número dois, zero, cinco, KXZ. Isto é: dois, zero, cinco, K de Kart, X de Xérox, Z de Zebra. Alerta, cuidado. Podem ter crianças como reféns. Procedimento recomendado 4-12.

— Afirmativo — uma voz do outro lado do rádio confirmou a ordem — Bloquear estradas nas vizinhanças da Floresta dos Pinheiros em busca do carro placa dois, zero, cinco, KXZ, procedimento 4-12.

— Bem, crianças, é melhor entrarem na viatura. Temos que preencher alguns relatórios de crianças desaparecidas e avisar os pais.

*

— O que é isso agora, Vilma? Não acredito — berrou um homem, abrindo o porta-luvas para tirar uma arma. — Uma blitz!

— Guarde isso, Dudu! — gritou a mulher, diminuindo a velocidade. — Não sabemos o que eles estão procurando. Precisamos ficar calmos, e se as coisas esquentarem, pisamos fundo e fugimos.

Dudu escondeu a arma debaixo do assento e olhou para trás, para as quatro crianças sedadas, amontoadas no assento de trás.

— Eles estão dormindo pacificamente, como… — murmurou — crianças diferentes. Parece que nos aceitaram e toda esta situação de um jeito diferente do que... sabe?

— O que é que você está murmurando aí? Diferente do quê?

— Bem, outras crianças teriam ficado histéricas, gritado, etc. Acho que a garota de óculos estava sussurrando orações o tempo todo...

— Subitamente, Vilma parou o carro na frente de dois carros da polícia e várias grades metálicas que faziam o bloqueio. Um policial foi até a janela do carro, enquanto o outro, com um cachorro, começou a rodear o carro.

Vilma baixou a janela.

— Boa tarde, seu guarda.

Boa tarde, minha senhora... senhor — respondeu o guarda, observando os outros ocupantes do carro. — Para onde vão?

— De volta a Coronel Pacheco.

— Coronel Pacheco? É bem distante daqui.

— É verdade. Estavamos acampando com a nossa sobrinha e seus amigos. Mas estão bem cansados. Passaram quase a noite toda vendo as estrelas. Tem uma hora que estão dormindo profundamente. Está acontecendo alguma coisa, seu guarda?

— Talvez. Estamos procurando um prisioneiro que fugiu da prisão. Ele provavelmente está armado e pode ser perigoso, talvez tente usar esta estrada para ir a algum lugar.

— Não vimos ninguém, mas vamos ficar de olho.

— É melhor mesmo, e não deem carona a estranhos, principalmente com essas crianças atrás. Nunca se sabe quem é.

— Obrigada, seu guarda. Vamos ter isso em mente.

— Muito bem. Não vou detê-los mais — disse o guarda com um sorriso educado. — Tenham uma boa viagem, e dirijam com cuidado.

O guarda se afastou e fez sinal para o outro policial remover a barricada. O homem com o cão tinha acabado de rodear o carro e fez sinal para o primeiro guarda que estava tudo bem.

Vilma fechou o vidro da janela e passou devagarzinho pela barricada. Por fim a blitz ficou para trás, fora de sua vista.

— Puxa — não foi assim tão difícil, né? — disse dando um suspiro de alívio e olhando com ar superior para o homem ao seu lado.

— Parece — respondeu o homem, olhando nervosamente pela janela de trás. — Mas é engraçado o guarda não suspeitar de nada, vendo que essas crianças não se parecem nada conosco, ou por estarmos no fim de nossas férias bem quando estão começando as férias da primavera.

— Você se preocupa demais, Dudu.

— Talvez, mas é melhor você pisar fundo, porque assim que derem essas crianças por desaparecidas aquele guarda vai saber exatamente para onde fomos.

—E arriscar sermos parados por excesso de velocidade? Deixe que eu penso e planejo as coisas, tá? Os Farias vão pagar por terem me demitido e arruinado minha carreira de governanta...

Dudu deu um sorrisinho. Com uns pequenos roubos também, pensou.

— ... e ninguém, nem essas malditas crianças, nem mesmo você, Dudu, vão me impedir.

— É você quem manda, querida. Contanto que me dê a minha parte quando acabarmos com essa coisa toda.

Durante a meia hora que se seguiu, Vilma e Eduardo ouviam atentamente o rádio para ver se faziam menção das crianças desaparecidas, ou quaisquer novidades sobre o seqüestro de Granbery. Mas não houve notícia alguma.

No meio de um anúncio, porém, Vilma e Dudu ouviram um silvado que parecia vir de um de seus pneus. Antes que tivessem tempo de dizer qualquer coisa, ouviram o som inconfundível da calota do carro batendo contra o chão.

— Um pneu furado — gritou Vilma, batendo com as mãos no volante enquanto o carro parava gradativamente do lado da estrada. — Justo o que a gente precisava!

— Parece que tem um posto de serviço ali na frente.

— Vou dar uma olhada — disse Vilma. — Você fica aqui e se alguém perguntar diga que o porta-malas está emperrado, entendeu? Não temos como tirar nada lá de dentro.

— Entendi, querida.

Os olhos de Dudu seguiram Vilma enquanto ela se dirigia ao posto de serviço ali perto. E então esperou… e esperou.

*

— Que aventura! — disse Suzana — quando se encontraram todos juntos novamente, esperando na delegacia de polícia.

— Nem fala — disse Christopher. —Mas voltar naquele helicopter foi sem dúvida a parte mais emocionante.

— Para mim não foi — disse Karen. — Me deixou enjoada. Eu acho que encontrar ãh... Geovanni foi a parte mais emocionante.

— Para você — disse Christopher com uma risadinha, e Karen ficou vermelha. — E para você, Calebe?

— Hmm … Acho que foi descobrir o código de Morse de Edgar.

— Edgar?

— Ter tido a ideia de escrevê-lo!

— Os cinco estavam rindo às gargalhadas da resposta inteligente de Edgar, quando o policial Ferreira entrou.

— Parece que vocês estão todos alegres — disse — e não ficaram muito traumatizados.

— Não — disse Suzana — graças a Deus.

— Eu não fazia ideia que existiam dispositivos para estourar pneus por controle remoto — disse Calebe. — É super legal.

— O senhor poderia nos contar o que aconteceu? — perguntou Suzana — Pena que estávamos sedados e não vimos nada.

Feliz de satisfazer a curisosidade das crianças, o policial sorriu, pigarreou um pouco e começou a contar:

— Bem, depois que encontramos sua mensagem em código Morse, com a placa do carro... a propósito garoto, foi muito inteligente — acrescentou ele, olhando para Edgar, que sorria de orelha a orelha todo orgulhoso — alertamos a delegacia, e os nossos rapazes que estavam na blitz reconheceram imediatamente o carro. Mas como tinha crianças, não podiam correr o risco de prender os sequestradores logo ali. Então o policial com o cachorro colocou o dispositivo na roda, enquanto o outro conversava com a motorista. E depois quando eles foram embora pedimos reforços pelo rádio para os esperarem no próximo posto de serviço. O Tenente Flaviano ativou o controle remoto e o pneu esvaziou!

— Muito inteligente — comentou Christopher. — Dava para fazer um filme!

— Tem razão, garoto. É normal essas coisas acontecerem conosco! Mas então, quando o carro parou e a dona se dirigiu ao posto de serviço, nós estávamos lá esperando para prendê-la. E quando o homem cansou de esperar e saiu do carro para ver o que tinha acontecido com ela, também o prendemos, e vocês ficaram a salvo!

— Mas e o… como é que ele se chama… Geovanni? Ele está bem? — perguntou Karen.

— Está ótimo — respondeu o tenente Flaviano, que acabava de entrar na sala com Geovanni.

— Ô...oi — disse Geovanni nervosamente, quando os cinco o saudaram alegremente. — E...eu só queria agradecer-lhes por me terem salvo.

— Na realidade foi Deus que te salvou — respondeu Suzana.

Geovanni baixou a voz e disse:

— Eu sei. Eu também, sabem como é, o... orei bastante.

— Nem sempre fizemos as melhores decisões — acrescentou Karen. — Como por exemplo, não devíamos ter entrado na cabana sozinhos. Não foi nada inteligente, mas esquecemos de perguntar a Jesus o que devíamos fazer.

— Mas Ele fez com que desse tudo certo no final — disse Christopher. — Esta aventura poderia ter terminado muito mal se não tivéssemos pedido para Ele nos proteger.

— De qualquer forma, muito obrigado pelo que fizeram — disse Geovanni.

— Então imagino que você vai voltar para o Granbery? — perguntou Karen timidamente.

— Sim. Meus pais estão vindo de avião para me levar. Tenho certeza que vai dar a cada um de vocês uma boa recompensa por terem me salvado.

— A melhor recompensa é saber que você está de novo são e salvo — respondeu Karen.

— Obrigado.

Karen olhou para o chão, mordendo o lábio.

— Tem algo que eu preciso lhe falar.

— Sim?

— Desculpe.

— Desculpar? Do quê?

— Os olhos de Karen encheram-se de lágrimas.

— Por ter pensado que você não passava de um imbecil. Eu mal o conheci quando estudamos juntos no Granbery. Não era certo julgá-lo como eu fazia.

Geovanni ficou corado, foi sua vez de desviar o olhar. Ele limpou a garganta.

— Não é a primeira vez que sou chamado de imbecil. Do jeito que eu agia no colégio nunca teria uma amiga como você. Mas agora vejo que amizade envolve muito mais coisas do que quem tem as últimas invenções, roupas... ou seja o que for. Eu espero... — Geovanni hesitou, olhando para os outros membros do clube, que agora estavam ao seu redor — espero que me permitam me considerar seu amigo.

— Claro que sim — responderam eles.

*

Algumas semanas depois, quando os cinco estavam reunidos no Barracão, Christopher escutou sua mãe chamá-lo, dizendo que tinha chegado um pacote para ele. Christopher correu para a casa e voltou com uma caixa na mão.

— Hmmm — disse Suzana. — Um presente para você? Que legal.

— É para todos nós — disse Christopher. — Tem carimbo de Granbery.

— De quem?

— Bem… a avaliar pelo endereço... — Christopher sorriu e passou o pacote para Karen.

— Escrito com caneta prateada — sussurrou Karen, corando.

— Abra logo — pediu Christopher, e Karen abriu cuidadosamente o pacote. Dentro, havia seis pacotes menores, cada um com um nome — Christopher, Suzana, Karen, Caleb, Edgar e Frisky. Geovanni havia mandado para cada membro do Clube uma caneta prateada e um pacote com cargas de tinta prateda. Frisky recebeu uma coleira com tachas prateadas.

— Para Christopher Figueiredo, agradecido por ser um amigo — disse Christopher, lendo o que estava gravado na lateral da sua caneta.

— Que amoroso — disse Suzana, que depois leu o que estava gravado na sua, e Calebe e Edgar também.

—O que diz na sua, Karen? — perguntou Christopher.

— Humm … só tem um coraçãozinho. Mas tem um bilhete dentro da caixa … para todos nós. Diz assim:

Para os meus amigos do Clube dos Cinco,
Eu sei que os meus pais já lhes deram uma recompensa por terem participado do meu resgate e por tudo o que fizeram por mim. Mas eu queria lhes dar uma pequena recompensa da minha parte. Espero que essas canetas ajudem vocês a se lembrarem que sou seu amigo, e espero que um dia possa ajudá-los como vocês me ajudaram. Talvez possa ser um ‘iniciante’ do seu Clube?
Atenciosamente, Geovanni.

— É uma ideia — disse Calebe. — Passaríamos a ser o Clube dos Seis.

— Não sei muito bem — comentou Suzana —não soa muito bem.

— Isso quer dizer que precisamos recrutar outro membro — respondeu Edgar.

— É verdade — disse Christopher. — Então é melhor começarmos a procurar logo. Conseguem pensar em alguém?

Frisky latiu e as cinco crianças riram.

— Parece que não temos que ir muito longe para encontrá-lo — disse Karen.

Fim
Autoria de Peter van Gorder. Ilustrações de Jeremy.
Publicado pelo My Wonder Studio. Copyright © 2022 A Família Internacional
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