Uma Aventura do Clube dos Cinco
Era um dia frio de inverno em Silvianópolis.Ventos fortes haviam soprado a semana inteira, trazendo com eles um ar gelado. Toda a diversão do Natal e a neve do inverno deram lugar a dias úmidos e ventosos, deixando as crianças de Silvianópolis ansiosas pela chegada da primavera.
No quarto de Calebe, ele e Edgar montavam um esquadrão de aviõezinhos de papel que Calebe tinha baixado da Internet. Apesar do projeto ser interessante, Calebe deu um longo suspiro. Nada demais acontecera naquela semana desde que o Clube dos Cinco se reunira no Barracão.
— Acabei outro — anunciou Edgar triunfantemente, segurando na mão o avião colado.
— A cola deste também já está quase seca — disse Calebe. — Quantos fizemos até agora?
— Doze.
— Edgar! — Chamou a mãe de Calebe do fundo das escadas, seu pai acabou de ligar e disse que está chegando em cinco minutos para levá-lo para jantar. E Calebe, vamos jantar em dez minutos, então é melhor começarem a guardar tudo.
— Parece que isso é tudo por hoje — disse Edgar.
— Obrigado por ter vindo — disse Calebe. — Vejo você na escola amanhã.
Edgar colocou cuidadosamente quatro aviões acabados numa caixa de sapatos e colocou-a dentro de sua mochila.
— Até amanhã — disse.
Quando chegou lá em baixo, o carro do pai já estava parado em frente da casa. Como estava chovendo, Edgar colocou a mochila em cima da cabeça para se proteger da chuva. Entrou rapidamente no carro e sentou-se no assento de trás. Enquanto seu pai dava partida no carro, Edgar ficou escutando o noticiário no rádio.
“... Não há previsão dos ventos amainarem em breve, e também podem trazer neve. A temperatura deverá cair abaixo de zero esta noite. Tenham cuidado com o gelo formado nas estradas e dirijam com cuidado. ...”
Levou apenas alguns minutos para chegarem a casa e, se não fosse pela chuva e o vento forte, Edgar poderia ter facilmente ido a pé ou até mesmo corrido até lá. Mas ele estava agradecido pelo carro quentinho, especialmente porque começou a cair granizo assim que entraram na rua Manoel Villar onde moravam.
Assim que o carro entrou no portão, Edgar ouviu Frisky latir lá dentro de casa todo empolgado. Alguns segundos depois, a porta se abriu e ele saiu correndo ao seu encontro.
Edgar não queria ficar ali debaixo do granizo acariciando Frisky, então só fez um carinho nele e correu para dentro de casa. Seu pai também correu para dentro e fechou a porta.
—Espere! — disse Edgar — o Frisky ainda está lá fora!
— Desculpe, eu não o vi!
Edgar abriu a porta e olhou através do granizo que caia, mas não viu Frisky em lugar nenhum.
— Onde é que ele foi? Estava bem aqui agora mesmo!
— Não se preocupe, Edgar. Frisky vai estar bem. Talvez ele só queira pegar um pouco de ar fresco. Logo ele volta.
Edgar ficou todo jururu. Não gostava muito da ideia de Frisky ficar lá fora sozinho, especialmente naquele granizo forte. Mas seu pai tinha razão, Frisky gostava de comer tanto quanto ele, e na certa voltaria, nem que fosse só por estar com fome.
Um pouco mais consolado com esse pensamento, Edgar juntou-se à família à mesa de jantar. E algumas horas depois ele estava na cama, orando pela segurança de Frisky, onde quer que ele estivesse, e para que encontrasse o caminho de volta para casa antes do amanhecer.
Frisky estava parado do lado da rua, ofegante e com a língua para fora. Foi uma corrida e tanto desde sua casa na rua Manoel Villar até ao extremo mais distante da Floresta dos Pinheiros. Ele agora olhava para a massa escura de pinheiros, arbustos e pedras à sua frente.
Frisky já havia ido algumas vezes até à Floresta dos Pinheiros com o seu antigo dono, o Sr. Carlos, e depois com os cinco na sua inesperada missão de resgate do sequestro na primavera passada. Mas esta parte da floresta não lhe era familiar e era bastante selvagem, o que dificultava ele encontrar o caminho de volta.
O granizo parou e começaram a cair grandes flocos de neve, que cobriam os cheiros, assim como a escuridão. E isso fazia ainda mais difícil reconhecer até os pontos de referência conhecidos.
Mas havia uma razão para ele ter ido ali. Algo o despertou do seu cochilo no começo da noite e o fez correr sem parar até chegar àquele lugar. Agora ele estava ali parado e escutando, tentando entender o que fazia ali tão longe do seu lar quentinho e do jantar que o esperava.
De repente levantou as orelhas. Ouviu um sussurro muito próximo e muito familiar.
Deu um latido. Não que estivesse com medo; só queria dar um sinal a quem quer que estivesse por perto. Até mesmo o seu aguçado senso canino não conseguia detectar ninguém.
— Pssst! Frisky!
Desta vez Frisky reconheceu a voz , e viu a forma da pessoa a quem pertencia. Era a voz do seu antigo dono, que tanto amava, o Sr. Carlos.
Frisky correu até ele, latindo de alegria e abanando o rabo de um lado para o outro.
—Ei garoto, como é que você está?— perguntou Carlos, abaixando-se para ficar cara a cara com seu fiel companheiro de muitos anos. O homem parecia estar uns bons vinte anos mais novo do que nos seus últimos dias de vida.
Frisky deu outro latido de alegria. Para ele esse encontro não tinha nada de estranho, embora Carlos tivesse falecido há mais de um ano.
— Que bom ver você também. Senti saudades — disse Carlos. — Mas não temos muito tempo. Essa neve vai logo logo virar uma nevasca. Venha, siga-me.
Com isto, Carlos levantou-se e começou a correr por entre as árvores. Ele passava direto pelos galhos baixos e todo o emaranhado da floresta como se nem estivessem ali, e Frisky o seguia o mais rápido que conseguia por baixo dos arbustos, sem parar para se perguntar o que seu dono estaria fazendo ali, onde estavam indo e para quê.
— O que foi? — perguntou Calebe na manhã seguinte, assim que Edgar entrou no pátio da escola.
— É o Frisky. Ele fugiu a noite passada e ainda não voltou.
— Que estranho. Ele já fez isso antes?
—Não.
— Olha, pelo menos parou de nevar. Tenho certeza que ele está bem. Ele é um cachorro esperto. Pode cuidar de si mesmo. Olha, quer ir lá para casa depois da aula e acabar de montar os aviõezinhos de ontem?
Foi então que Suzana apareceu.
— Oi pessoal! Tudo bem? Ei, o que vocês acham da gente se encontrar no Barracão esta tarde depois da aula? Não está mais chovendo nem nevando. Ouvi dizer que o Chris tem um jogo novo que podemos jogar.
Edgar encolheu os ombros.
— Que foi? — perguntou Suzana, e Calebe explicou que Frisky havia desaparecido.
A campainha da escola interrompeu a conversa, e eles concordaram em se encontrar no Barracão.
— Talvez a gente consiga pensar em alguma coisa para encontrá-lo — disse Suzana — se ele ainda não tiver voltado.
Edgar deu um sorriso esperançoso, e os três foram para a sala de aula.
Frisky espreguiçou-se lentamente quando os primeiros raios do sol tocaram seu focinho. Abriu os olhos e levou um tempo para lembrar-se de onde estava e como tinha chegado ali. Ele estava debaixo de uma grande pedra, e na sua frente havia apenas uma densa massa de árvores e arbustos, cobertos com uma espessa capa de neve da nevasca da noite anterior.
Um esquilo saiu correndo das árvores e foi até uma pequena clareira coberta de neve. O esquilo parou e ficou olhando o Frisky e depois desapareceu subindo em uma árvore.
Um passarinho cantou acima dele e Frisky sentiu algo mexendo ao seu lado.
Virou-se para ver quem tinha passado a noite ao seu lado. Era um garotinho rechonchudinho, com uns dois anos de idade, com cachos loiros emaranhados de folhinhas e terra. Frisky não fazia a mínima ideia de quem era aquele garoto, de onde tinha vindo ou o que fazia ali sozinho no meio da floresta. Só sabia que Carlos o tinha conduzido até ele, e que tinha que ficar com o garotinho.
O garotinho se mexeu e virou, seu suéter estava cheio de pauzinhos e folhas, tal como o seu cabelo.
— Mama — choramingou.
Frisky levantou-se e sacudiu-se e depois voltou a deitar ao lado do garotinho para mantê-lo aquecido.
— Pssst! Frisky!
Era Carlos de novo.
— E aí garoto! — sussurrou — Tudo bem?
Frisky respondeu com um latido excitado.
— Meu querido Frisky, você ainda é tão fiel e obediente! Eu sabia que podia contar com você. Obrigado por cuidar do pequeno Alessandro e por mantê-lo aquecido a noite passada. Ele deve estar bem agora, mas temos outra coisa para fazer. Venha comigo.
Então, exatamente como na noite anterior, Carlos correu pela floresta adentro, sem ter que desviar um único ramo do seu rosto. Frisky hesitou e depois começou a correr atrás do dono.
Alguns minutos depois, Frisky chegou a uma estrada pavimentada que atravessava a floresta. Lá, do lado da estradinha e seguindo para baixo, em direção a um barranco, havia um carro. Tinha saído da estrada e batido num carvalho.
A porta do lado do motorista estava escancarada, a janela estilhaçada e Frisky podia ver o motorista inconsciente no seu assento, com a cabeça manchada de sangue caída para um lado. O homem não tinha outros sinais de ferimentos.
Frisky olhou em volta à procura de Carlos, mas não o viu em lugar nenhum. Contudo sabia que Carlos o tinha levado até ali e que era para ele ajudar o motorista de alguma forma.
Andou até o outro lado do carro. Viu que a porta do passageiro estava aberta e notou que havia uma cadeirinha para criança no banco de trás e vários brinquedos espalhados lá dentro. Ele os cheirou e seu olfato apurado reconheceu imediatamente que o pequeno Alessandro tinha vindo dali.
Frisky latiu, na esperança de acordar o homem, mas ele não se mexeu. Então tentou pular em cima dele e talvez atrair sua atenção batendo nele com as patas, mas não teve resultado. O homem continuava inconsciente. Contudo, como resultado de toda esta atividade, algo caiu do bolso do casaco do homem. Era um celular.
Embora não soubesse o que era, sabia que era algo que os humanos usavam para falar e conversar uns com os outros. Olhou para aquele objeto por uns minutos e então voltou a mexer no homem inconsciente. De repente ouviu um barulhinho, e viu o celular vibrando no chão entre os assentos, onde tinha caído.
— Aperte o botão que está brilhando, Frisky — ouviu Carlos dizer, embora não conseguisse vê-lo.
Frisky olhou com um pouco de hesitação para a caixinha de plástico que vibrava, mas mesmo assim colocou uma pata em cima, esperando tocar no botãozinho iluminado.
—Alô? Alô?
Frisky ouviu a vozinha de uma mulher falando do outro lado e com a pata tentou aproximar o celular do motorista.
— Au, au! — Frisky latiu.
A mulher parou de falar, e então Frisky ouviu um baque. Tinha largado o telefone.
— Espere! — Frisky ouviu outra voz dizer, embora parecesse bem mais distante. —Alguém respondeu?
— Não sei... parou de tocar, e aí ouvi um cachorro latindo.
— Então o celular está pegando sinal?
— Acho que sim — respondeu a mulher.
Depois de alguns ruídos e baques, ouviu-se a voz de um homem.
—Alô! Tem alguém aí? Alguém está me ouvindo? Responda, por favor.
—Au! Au! — latiu Frisky novamente.
— Seu marido estava viajando com um cachorro? — Frisky ouviu o homem dizer.
— Não... não temos um cachorro.
— Mas alguém tem, e esse alguém está com o telefone do seu marido. Agora que atenderam, a companhia telefônica pode rastrear o sinal para nós. Henrique, ligue para o CellCom e diga-lhes que temos um sinal. Aguente firme, Sra. Benassi. Em vinte minutos teremos a localização.
Depois disso, parecia que a mulher estava chorando.
Naquela tarde, quando os cinco se reuniram no barracão, o desaparecimento de Frisky foi o primeiro assunto da conversa.
— Que engraçado — disse Karen quando Edgar lhes contou mais uma vez tudo o que sabia. — Eu sonhei com o Frisky a noite passada. Eu raramente lembro dos meus sonhos, mas este foi muito real, e... muito legal. O Sr. Carlos também estava no sonho. Ele parecia muito mais jovem do que quando o visitei com vocês, mas eu sabia que era ele pelo modo como o Frisky e ele brincavam num jardim. Foi um sonho muito legal, e eu acordei me sentindo muito bem.
— Oh não! — exclamou Edgar. Será que o seu sonho quer dizer que o Frisky morreu e que agora está no Céu com o Sr. Carlos?
— Não. Não foi essa a sensação que o sonho me deu. Eu acho que, não importa onde o Frisky esteja, ele está bem, e talvez o Sr. Carlos esteja cuidando dele.
— Você acha que ele vai voltar? — perguntou Edgar.
— Tenho certeza que vai — respondeu Chris. — Talvez ele precise de um tempinho para correr por aí. Com aquela chuva toda, provavelmente ficou dentro de casa praticamente a semana inteira, não é?
— Pensando bem, é mesmo.
— Ele provavelmente só está esticando as pernas um pouquinho — disse Calebe — por um bom tempo!
Edgar sorriu.
— Só espero que ele tenha encontrado um lugar quentinho para passar a noite — disse. — A noite passada estava gelada. Esta manhã, o laguinho do nosso jardim estava totalmente gelado por cima.
— Mas os peixinhos dourados ainda estavam nadando debaixo d’água, não estavam? Então, tenho certeza que Frisky também sobreviveu, onde quer que ele esteja — disse Calebe.
— Acho que você deve ter razão — concordou Edgar.
Como a atmosfera estava um pouco triste, Christopher sugeriu que jogassem um novo jogo. E Suzana sugeriu que primeiro orassem pelo Frisky. Eles então oraram e pediram a Jesus para proteger o Frisky e o ajudar a voltar para casa até à hora do jantar.
— Ou pelo menos, Senhor, dê-nos algum sinal de onde ele está e que está bem — acrescentou Karen e os outros concordaram.
— Então, qual é o jogo? — perguntou Calebe.
— É um jogo de tabuleiro que a minha mãe comprou numa liquidação depois do Natal disse Christopher, explicando as regras do jogo enquanto Suzana, Karen, Calebe e Edgar examinavam o conteúdo da caixa.
Na metade do jogo a mãe de Cris trouxe biscoitinhos e chocolate quente. Quando acabaram o lanche e o jogo, que Calebe ganhou, já estava escuro lá fora e Calebe, Karen e Edgar decidiram ir para casa.
— Até amanhã — disse Cris, enquanto ele e Susana guardavam as peças do jogo.
— Você acha que o Edgar vai estar bem? — perguntou Suzana assim que os três foram embora — E se o Frisky ainda não tiver voltado quando o Edgar chegar em casa?
Chris encolheu os ombros.
— Não sei. Talvez possamos fazer um anúncio de ‘procura-se cachorro’, fazer algumas cópias e afixá-las pelo bairro.
Sentado em seu quarto, Edgar olhava desconsoladamente para o chão. Os quatro aviõezinhos de papel terminados tinham lugar de destaque na sua prateleira, mas ele não tinha vontade de brincar com eles. Ainda não havia sinal de Frisky e já tinha passado da hora do jantar. Edgar estava começando a achar que algo sério tinha acontecido, e que ele talvez não voltasse a ver a seu cachorro nunca mais.
— Telefone para você, Edgar! — chamou sua mãe.
— Será que são notícias do Frisky? — pensou Edgar correndo escada abaixo.
— É a Karen — sussurrou a mãe, passando o celular para ele.
— Sim? É o Edgar.
— Edgar! Você está assistindo isto?
—Assistindo o quê?
— As notícias. Canal dois. Rápido! Acho que é o Frisky...!
Edgar desligou o celular, correu para a sala de estar e pegou o controle remoto para ligar a televisão.
“... a feliz reunião na casa da família Benassi. Isabela Benassi diz que foi um milagre seu filho de dois anos de idade ter sido encontrado são e salvo depois de passar uma noite gelada na Floresta dos Pinheiros, um lugar totalmente deserto.”
— O que você está vendo? — perguntou a mãe de Edgar vindo da cozinha.
— Acho que tem algo a ver com Frisky!
A repórter continuou: “Marco Benassi dirigia de volta para casa com Alessandro, seu filhinho de dois anos, quando o carro bateu contra um pedaço de gelo e derrapou para fora da estrada deserta, chocando-se contra uma árvore. Marco Benassi ficou inconsciente. O pequeno Alessandro, estava na cadeirinha para crianças no banco detrás do carro, ficou ileso, mas conseguiu soltar-se e sair do carro.”
“Apesar da senhora Benassi ter ligado para o serviço de pessoas desaparecidas, as condições climáticas tornaram a missão de resgate impossível, e o pequeno Alessandro passou as próximas dez horas sozinho na gélida e deserta Floresta dos Pinheiros antes de ser encontrado pela polícia na manhã seguinte.”
“E é aqui que a história se torna impressionante. A senhora gostaria de nos contar em suas próprias palavras, Sra. Benassi?”
“Tentei ligar para Marco várias vezes, mas ninguém atendia. Continuei esperando o melhor, mas temia o pior. Finalmente uma das minhas ligações foi atendida, mas a única coisa que eu ouvia era um cachorro latindo no telefone.”
“Um cachorro? E o que aconteceu depois disso?”
“Bem, a polícia conseguiu descobrir de onde vinha o sinal da ligação e encontrou o local, o que nos levou ao local do acidente. Encontramos Marco ainda inconsciente, mas vivo. Ele tinha sofrido um choque, quebrado algumas costelas e uma perna, mas os médicos disseram que ele está bem e logo vai se recuperar. Mas não havia sinal de Alessandro. Sua cadeirinha estava vazia e a nevasca tinha apagado quaisquer pegadas. A única coisa que encontramos ao redor do carro foram pegadas de cachorro.”
“A princípio temi, achando que podiam ser pegadas de lobo, mas um dos policiais tinha um Labrador Dourado e disse que essas pegadas eram idênticas às do seu cão. E foi então que o vimos.”
A câmera então mostrou um cachorro deitado aos pés da Sra. Benassi, e um menininho fazendo carinho nele.
— Frisky! — Edgar gritou.
— É mesmo! — respondeu a mãe.
A Sra. Benassi continuou: “Ele estava a alguns metros do carro, latindo para atrair nossa atenção. Parecia um filme de Lassie. Eu, de alguma forma, sabia que aquele cachorro nos levaria ao meu filhinho. Então, enquanto a polícia chamava os paramédicos para cuidarem de Marco, dois de nós seguimos o cachorro e, tal como esperávamos, ele nos levou direto ao pequeno Alessandro. Não tenho ideia como Alessandro conseguiu se soltar daquele assento de segurança infantil. Isso em si já é incrível.”
“E a senhora não faz ideia da procedência desse cachorro? — perguntou a repórter.”
“Absolutamente. Quando procuramos ver o que dizia na coleira, descobrimos que seu dono morava em Silvianópolis, mas faleceu há mais de um ano...”
Enquanto Ziggy continuava assistindo às notícias, sua mãe se levantou e pegou o celular.
— Ôi. É do noticiário da TV Alterosa? Aqui é Clarice Lemos. Estou ligando a respeito da reportagem sobre a família Benassi. O cachorro pertence ao meu filho…
Edgar já conseguia ouvir Frisky latindo quando o carro parou na frente da casa da família Benassi, e assim que ele e seu pai saíram, a porta abriu-se e Frisky apareceu correndo. Enquanto Edgar enchia Frisky de carinhos e Frisky abanava a cauda, seu pai aproximou-se da mulher de semblante amável que estava parada na porta, com uma criancinha escondida atrás da saia dela.
— Sra. Benassi?
A mulher fez que sim com a cabeça e sorriu.
— Meu nome é Oscar Lemos, sou o pai do Edgar.
— Pode me chamar de Isabela. Vamos entrar.
— Obrigado. E obrigado por nos receber assim tão prontamente. Devo confessar que mal consegui fazer meu filho ir para a cama a noite passada depois de ver o Frisky na televisão.
— Eu é que devo agradecer, Sr. Oscar. Se não fosse pelo seu cachorro, não teríamos encontrado Marco e o meu filho teria morrido de frio naquela noite. Eu... Eu não tenho palavras para lhe agradecer.
Os olhos da mulher encheram-se de lágrimas.
— Se... se houver alguma coisa que nós possamos fazer por vocês.
— É muito gentil de sua parte, mas eu realmente tive muito pouco a ver com tudo o que aconteceu. Estamos apenas felizes por Frisky estar são e salvo, e ainda mais em saber que ele os ajudou desse modo tão especial.
Isabela pareceu um pouco surpresa e secou as lágrimas dos olhos.
— O senhor... o senhor disse que o nome do cachorro é Frisky?
— Sim. Por quê?
— O senhor perdeu dois cachorros por acaso?
— Não, só o Frisky. Ele fugiu anteontem à noite, e não fazíamos ideia por que motivo ou para onde ele tinha ido até assistirmos às notícias sobre o acidente de seu marido.
— Que engraçado. Desde que Alessandro voltou para casa, sempre que fala sobre aquela noite ele menciona ‘Fisky e Car-los’. Como é que ele ficou sabendo o nome desses cachorros?
— Não sei o que você pensa dessas coisas, Isabela, mas Carlos é... ou era...
— Perdão Sr. Oscar… eu nem lhe ofereci nada. Aceita um café?
— Eu nunca recuso um café — disse Oscar sorrindo.
Enquanto isso, o pequeno Alessandro correu lá para fora, para onde estava Edgar.
—Eu binca com Fisky — disse ele, e Edgar explicou que o nome do cachorro era ´Frisky´.
— Fisky — respondeu Alessandro, fazendo carinho no focinho do cachorro. — Fisky e Car-los ajuda Alessandro.
— Carlos? Você… você viu o Sr. Carlos? — perguntou Edgar, e Alessandro saiu cambaleando atrás de uma bola vermelha que Frisky tinha desenterrado de um montinho de neve.
— Como está o Frisky, filho? — perguntou Oscar.
— Bem… mas, pai… Alessandro está falando do Sr. Carlos. Acho que talvez o tenha visto.
— Sr. Carlos? — inquiriu Isabela — Car-los não é um cachorro?
— Não. Era um senhor de idade que morava perto da casa de um amigo de Edgar.
— Ele tinha um jardim de estilo japonês verdadeiramente incrível com uma sequoia enorme — disse Edgar.
— Ah, você quer dizer o Sr. Clave, que morava sozinho e faleceu o ano passado?
— Sim. Ele sempre queria que nós, crianças, o chamássemos de Carlos.
— Você quer dizer que o nosso pequeno Alessandro viu um defunto? — perguntou Isabela.
— Eu não sei o que você pensa desse fenômeno, Isabela — respondeu Oscar. — Mas talvez a palavra que você está procurando seja ´santo´. O Sr. Clave era um verdadeiro santo. Foi missionário quando jovem, e era um bom amigo das crianças. Foi o primeiro dono de Frisky, e talvez por isso ele seja um cachorro tão dócil e meigo, especialmente com crianças pequenas. Não tenho dúvida que Deus tem um propósito especial para poupar o seu marido e filho de uma forma tão milagrosa.
Poucas semanas depois, chegou uma carta na caixa de correio da família Lemos, que o Sr. Oscar leu para todos enquanto jantavam.
Autoria de Curtis Peter van Gorder. Ilustrações de Jeremy.Publicado pelo My Wonder Studio. Copyright © 2022 A Família Internacional