Meu Estúdio Maravilhoso
Um Palácio Como Nenhum Outro
Sexta-feira, Outubro 26, 2018

Uma lenda dramatizada

— Bem-vindo, meu irmão! — Exclamou Jamshid. — Estávamos ansiosos para vê-lo de novo.

— Eu também — respondeu o sultão.

— O sultão olhou para cima e viu a corte inteira ali para lhe dar as boas-vindas. Por cima dos portões da entrada, viam-se damas com belos vestidos de seda de todas as cores, que haviam saído para saudá-lo. Nobres elegantes o aclamavam. Pétalas de rosas flutuavam e caíam sobre o cortejo, perfumando o ar.

O sultão foi rapidamente conduzido ao seu banho perfumado, ao qual se seguiria uma massagem e uma refeição leve de frutas e iguarias. Depois de haver se refrescado e alimentado, o sultão chamou Abbanes, seu vizir-mor, que logo apareceu acompanhado do irmão do sultão.

— Abbanes — começou a dizer o sultão — nas minhas viagens a países distantes, eu vi palácios magnificentes que sobrepassam qualquer edifício que eu pudesse imaginar. Esses edifícios inspiram o respeito do seu povo e o temor de seus inimigos. É meu desejo construir um monumento assim que será conhecido no mundo inteiro por muitas gerações futuras. Quero que as pessoas parem e se maravilhem com uma criação tão fantástica.

Abbanes, levantando ligeiramente a cabeça, disse respeitosamente:

— Senhor, se me permite dizer, seu palácio já é de uma riqueza e esplendor fabulosos. Sua magnificência tem deixado muitos viajantes deslumbrados. Tem...

O sultão levantou a mão pedindo silêncio.

— Precisa ser mais magnificente ainda — disse. — Eu farei o meu palácio superior a qualquer outro. Deve ser superior a qualquer outra coisa na terra, para guardar as minhas enormes riquezas, pois acabei agora mesmo de adquirir um dos diamantes mais preciosos no mundo. Será que não merece também ser colocado no mais belo dos palácios? Peço que me ajude a construir um palácio assim.

— Seu desejo é uma ordem, sua majestade — respondeu Abbanes. — Procurarei alguém capacitado para construir um edifício de tamanho esplendor.

Na manhã seguinte, Abbanes iniciou sua busca pelo homem que pudesse construir o palácio dos sonhos do sultão. Ele pediu o parecer dos melhores construtores do reino, mas nenhum estava à altura das grandes expectativas do sultão.

Então um dia, passando por uma cidadezinha vizinha, ele viu uma casa belíssima. Logo quis saber o nome do construtor. Talvez fosse a pessoa que ele procurava.

A casa tinha graciosas cúpulas e pilares de alabastro e pedras semipreciosas. Apesar do sol estar alto no céu, a fonte no centro do jardim luxuriante que rodeava a casa refrescava o ar.

Um casal de idosos, com lindos trajes, abriram os portões da casa.

— De quem é esta casa? — perguntou Abbanes.

— É nossa, senhor — respondeu o homem.

— Eu gostaria de fazer algumas perguntas sobre sua maravilhosa casa.

— Pois não, senhor. Por favor, pode entrar.

Quando entrou, Abbanes ficou ainda mais maravilhado com o interior. Nunca havia visto nada que se comparasse aos mosaicos de esmalte e espelho ou as suntuosas tapeçarias que decoravam as paredes e o chão. O teto pintado era curvo, formando belos arcos. Em certo local, uma pequena cascata corria serenamente para um lago com peixes, perfumado por lírios de água. O vizir e o homem sentaram-se, e logo lhes foi servida uma refeição de cordeiro assado.

— Quem construiu esta maravilhosa casa? — perguntou Abbanes.

— O nome do construtor é Mahesdas. Ele já se aposentou e agora dedica-se à oração e a ajudar os outros.

— Ótimo! Vou lhe oferecer uma posição em que pode ajudar o seu sultão. Onde posso encontrá-lo? — perguntou Abbanes.

— É bem fácil encontrá-lo, porque ele vive no topo daquela colina — disse ele, apontando para uma casa simples no topo de uma colina próxima.

O vizir pediu licença e, junto com a sua comitiva, dirigiu-se para a humilde habitação de barro cozido de Mahesdas. Abriu a cortina que impedia o calor e a poeira de entrarem, e encontrou Mahesdas lendo um enorme livro ilustrado.

Ao ver os visitantes, Mahesdas colocou de lado o livro e saudou-os. Sua barba e cabelo comprido começando a ficar brancos, contrastavam com a sua simples, mas elegante túnica azul.

Abbanes não perdeu tempo para explicar o motivo da sua visita.

Depois de escutar a intenção de Abbanes de remodelar e embelezar o palácio do sultão, Mahesdas permaneceu em silêncio por alguns minutos. Em seguida, respondeu pensativamente:

— É verdade que sou um arquiteto e construtor talentoso, e que poderia desenhar e construir um palácio assim para você, mas tem uma coisa que preciso lhe dizer...

— O que é que precisa me dizer?

— Eu sou um seguidor de Cristo. Estou lhe dizendo isto porque pode ser que o que eu construir não lhe agrade. Como servo de Cristo, eu só faço o que Ele me diz para fazer.

— Você está dizendo que não é capacitado para essa tarefa?

— Não, não é isso.

— Está dizendo que vai recusar a ordem do seu sultão? Porque se for isso, tal desrespeito será punido com a morte!

— Não, não é isso que eu estou dizendo.

— Então o que é?

— Estou dizendo que posso vir a construir algo que não seja do seu agrado.

— Se você foi capaz de construir uma casa como a que eu vi ou os palácios que me contaram que construiu, tenho certeza que não ficaremos desapontados.

— Talvez sim, talvez não, respondeu Mahesdas. — Contudo, percebendo que não tinha escolha, Mahesdas concordou em ir.

— Farei o melhor que eu puder para o meu senhor.

Juntou seus poucos pertences e montou o camelo que o levaria até o palácio do sultão. Ali, o sultão o informou o que desejava. Mahesdas anotou tudo cuidadosamente e fez desenhos de tudo que o sultão queria.

Nas semanas que se seguiram Jamshid observou atentamente Mahesdas e percebeu que era uma pessoa honesta. Certa noite, antes de ir dormir, deixou em cima da mesa um saco com moedas de ouro, para ver o que Mahesdas faria. E ele não o desapontou, pois na manhã seguinte, assim que viu as moedas, Mahesdas as devolveu ao sultão.

Um tempo depois, o sultão foi chamado para tratar de negócios muito importantes e, como não sabia quanto tempo demoraria, chamou Mahesdas e Abbanes.

— Mahesdas, eu confiei a você terminar a tarefa da qual o incumbi. Aqui tem um decreto que deixa às suas ordens o meu armazém de ouro e pedras preciosas para você embelezar o meu palácio.

Mahesdas pegou o pergaminho e fez uma reverência.

Pouco depois da partida do sultão, começou uma guerra na região que dificultava enviar ou receber mensagens do seu palácio. Ele estava curioso de saber do progresso do palácio que iria ser mais maravilhoso do que qualquer outro jamais construído, mas suas mensagens não conseguiam chegar lá. Ladrões atacaram alguns mensageiros, inundações e outros desastres naturais pegaram outros, e os combates impediram ainda outros de levarem suas mensagens.

Depois de quase dois anos, o sultão conseguiu regressar. A cada dia de viagem, seu coração se enchia mais de expectativa. Pensava consigo mesmo O meu palácio deve estar maravilhoso! Mesmo que a obra não esteja concluída, deve estar um assombro para todos que o virem.

O primeiro sinal de que algo estava errado foi quando percebeu que seu irmão não estava lá para o receber. Logo descobriu por quê: Jamshid adoecera com uma febre severa que nada curava.

Mas essa foi só a primeira das coisas que o entristeceu. A tristeza do sultão tornou-se desapontamento e depois ira, quando soube que nada havia sido feito no seu magnífico projeto de construção. Nem uma pedra fora colocada em cima de outra, nem uma viga cortada. O tesouro que havia deixado aos cuidados de Mahesdas para ser usado na construção do palácio havia sumido — sumido totalmente! Porque Mahesdas o havia dado, até à última moeda de cobre, aos doentes, aos pobres, aos famintos e aos afligidos. Um dos muitos projetos que ele fez foi construir poços para os povoados vizinhos que não tinham água.

Abbanes foi preso nesse mesmo dia por ter escolhido Mahesdas para construir o palácio. Quanto a Mahesdas, amarraram suas mãos e pés e o arrastaram até à sala de julgamento, onde o jogaram aos pés do sultão.

— É assim que você executa as minhas ordens e retribui a minha confiança? — perguntou o sultão.

— Eu não disse ao seu vizir que poderia construir algo que não fosse do seu agrado?

— Você não construiu nada! — gritou o sultão.

— Mas eu executei sim as ordens do meu sultão! Permita-me explicar — disse Mahesdas.

Antes dele poder responder, o sultão ordenou aos guardas:

— Joguem este vilão no calabouço para esperar o seu castigo.

Acontece que a essa altura, Jamshid piorou e entrou em coma. O sultão ficou muito triste, porque amava muito seu irmão. Trancou-se no quarto com Jamshid e não queria comer, beber nem falar com ninguém.

No quarto dia, quanto o sultão estava se lamentando ao lado do seu irmão, de repente este se sentou.

— Jamshid! Você está melhor! — exclamou o sultão com grande alegria, e o abraçou e beijou.

No princípio, Jamshid só conseguia dizer:

— Vi coisas muito estranhas!

— Que coisas estranhas? Diga-me.

— Vou te contar tudo, mas primeiro chame Mahesdas para vir aqui. Quero falar com ele.

— Eu tranquei esse ladrão no calabouço mais fundo. Não voltará a ver ninguém a não ser no dia da sua execução. Prometeu construir um palácio para mim, mas em vez disso deu as minhas riquezas aos pobres!

— Por favor, irmão, não o machuque. Ele é amigo de Deus, e os anjos de Deus o servem.

— Que idiotice é essa? O que é que ele disse para você? Você ainda está recuperando da sua doença. Precisa descansar.

— Por favor irmão, se você me ama, solte-o. Fico feliz de ter acordado da porta da morte para interceder pela sua vida. Pois seu pecado teria sido muito horrível se você tivesse levantado a sua mão contra ele.

— Por que você está tão interessado nesse homem? Ele encantou você?

— Quando eu estava num sono profundo, anjos vieram e me conduziram ao Paraíso. Ali, eles me mostraram um palácio mais maravilhoso do que qualquer outro já visto por olhos mortais. Eu me aproximei dele por uma rua larga rua de cristal, ladeada de graciosas tamareiras. No meio, estendia-se um rio reluzente onde flutuavam flores de lótus de muitas cores e muitos pássaros brancos bem grandes. Suas paredes imponentes erguiam-se como uma névoa rosada a partir de um terraço com um destaque de azulejos preciosos. Essas paredes eram mais resplandecentes que alabastro, mais puras que a neve do cume das montanhas iluminadas pelos primeiros raios da aurora. E tinha dezenas de janelas — algumas eram grandes e se abriam para a indescritível luz do céu, e outras eram teladas por trepadeiras com flores de todo o tipo. O chão era incrustado de prata e refletia tudo igual espelho. As paredes eram de ouro forjado por artesões mais habilidosos dos que os da terra. Por toda a parte pedras preciosas reluziam com um brilho incrível, radiante, mas ao mesmo tempo moderado, e fontes refrescantes fluíam melodiosamente igual música para os ouvidos.

— O que você precisa saber, meu irmão é que os anjos que me mostraram estas maravilhas disseram “Este é o palácio que Mahesdas construiu para o seu irmão. Ele não é merecedor de habitá-lo, por isso será dado a outro mais merecedor”. E foi então que eu acordei e vi você me abraçando.

— Vou soltá-lo — disse o sultão com determinação.

— Vamos juntos — disse Jamshid alegremente.

Havendo dito isso, o sultão e Jamshid dirigiram-se para a prisão, soltaram Mahesdas e Abbanes, e lhes deram túnicas preciosas para vestir.

— Mahesdas, eu lhe peço perdão — disse o sultão contrito.

— Eu lhe perdoo de todo o coração, meu sultão.

Jamshid contou o seu sonho para Mahesdas.

— Jesus disse que na casa de seu pai tem muitas mansões1, e que já está preparando um lugar para nós. Aqueles que têm fé e demonstram amor aos outros estão ajudando a construí-las. Essas são as verdadeiras riquezas, ó sultão, que nunca se dissiparão.

— Eu serei achado merecedor de habitar essa mansão, você vai ver — disse o sultão humildemente. — Mas, Mahesdas, você poderia me ajudar a construir outra mansão igual a essa para o meu irmão, do lado da minha?

Mahesdas sorriu e inclinou-se.

— Eu só posso fazer o que meu rei me pede.

O sultão manteve-se fiel à sua palavra e, com a ajuda de Mahesdas e Jamshid, cuidou do seu povo como um pai cuida de seus filhos. Amado pelo seu povo, ele ficou conhecido como um sultão bondoso, benevolente, que ajudava qualquer um em necessidade.

Não ajuntem riquezas para vocês mesmos neste mundo, onde a traça e a ferrugem as destruirão e onde os ladrões arrombam e as roubam. Ao invés disso, ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem as destruirão e nem os ladrões arrombam e as roubam. Lembrem-se disto: onde estiver o seu tesouro, lá estará também o seu coração.2

Referências

1 João 14:2

2 Mateus 6:19–21 VFL

Escrito por Curtis Peter Van Gorder. Ilustrado por Sandra Reign. Design de Roy Evans.
Publicado pelo My Wonder Studio. Copyright © 2018 por A Família Internacional
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Tagged: generosidade, dar, recompensas