Meu Estúdio Maravilhoso
Uma Noite de Natal Muito Especial
Quarta-feira, Dezembro 11, 2019

Faltavam apenas dois dias para o Natal! Mas o entusiasmo havia esfriado um pouco no lar de Emília, de sete anos, e seu irmão Tiago, de oito.

Seu pai, o Sr. Silva, precisou parar de trabalhar nas minas de carvão devido a problemas de saúde, e a mãe também não estava conseguindo arrumar trabalho fixo. Agora, a família estava sobrevivendo com o auxílio de doença, que não era suficiente para cobrir as necessidades básicas de uma família de quatro pessoas. Apesar da mãe ganhar um pouco de dinheiro extra fazendo consertos em roupas, mal tinham comida suficiente na mesa. Parecia que iam ter que abrir mão do jantar de Natal e doces especiais que costumavam fazer, e certamente não conseguiriam comprar presentes.

Emília sonhara ganhar certa boneca que vira na vitrine de uma loja. Tiago gostaria de ganhar um cachorrinho, mas o pai logo disse que um cachorro come demais e não conseguiriam comprar comida para eles e o cachorro. 

Na véspera de Natal, Tiago e Emília passaram a maior parte da tarde brincando do lado de fora, na neve que acabara de cair. À noite, a família se reuniu para fazer decorações para sua pequena árvore de Natal. Fizeram cordões de pipoca que colocaram nos ramos da árvore e algumas pequenas decorações que haviam guardado de anos anteriores. 

Era tradição da família decorarem a árvore juntos na noite de Natal. E depois, quando dava meia noite, trocavam presentes e cantavam canções natalinas, enquanto tomavam cidra de maçã quente aromatizada com canela.

Mas este ano, faltava um pouco da alegria que geralmente acompanhava o Natal. A mãe serviu um jantar simples de puré de batata e frango grelhado, e parecia haver um silêncio maior do que o de costume. Depois do jantar, levantaram a mesa e Emília e Tiago foram terminar as decorações de Natal, enquanto cantavam baixinho músicas de Natal.

Quando terminou de arrumar a cozinha, a mãe foi para o quarto, ajoelhou-se junto à cama e orou:

—Jesus, o Natal é o Seu dia, e Você é a coisa mais importante, mas me sinto mal pelas crianças. O Senhor sabe o quanto elas esperam por este dia. O que podemos fazer? Queremos fazê-las felizes. Nos ajude, por favor!

O Sr. Silva, que seguira a esposa até o quarto, ouviu sua oração e juntou-se a ela:

—Sim, Senhor, mostre-nos o que fazer. Precisamos de Você!

Depois de alguns momentos de silêncio, a mãe levantou-se de supetão com um sorriso no rosto.

—Pensei em algo! — disse ela.

Chegou mais perto do marido e lhe contou sua ideia com grande entusiasmo. Depois, subiram juntos a pequena escada que levava ao sótão.

*

Na sala de estar, Tiago e Emília estavam sentados olhando para a árvore.

—Acho que não tem muito mais que possamos fazer — disse Emília suspirando. — Parece mais um cabide de casacos do que uma árvore.

O pensamento a fez sorrir e de repente ambos começaram a rir à gargalhadas.

—Temos que pensar em alguma coisa para dar de presente para o papai e a mamãe — disse Tiago. — Ainda temos algumas horas antes da meia-noite. Deve ter alguma coisa que possamos fazer.

Ambos ficaram pensando, e então Emília exclamou:

—Já sei.  Venha, Tiago!

Ela levantou-se e dirigiu-se para o porão, seguida de Tiago.

Enquanto isso, a mamãe sentou-se na máquina de costura e começou a costurar a todo o vapor. No outro canto do sótão, o pai entoava “Ó Pequena Aldeia de Belém” enquanto fazia sua surpresa.

No porão, Emília e Tiago remexeram algumas caixas cheias de todo tipo de coisas.

—Olha Tiago, podemos fazer um grande e lindo cartão de Natal para a mamãe com este papel brilhante e glitter.

—Ah, legal — exclamou Tiago — puxando um cartão postal com uma gravura de Maria e o Menino Jesus. — Também podemos usar esta gravura.

—Perfeito! E o que poderíamos fazer para o papai? — perguntou Emília entusiasmada.

—Olha, acho que poderia arrumar este velho presépio e colocá-lo debaixo da árvore. Seria uma surpresa para ele. Acho que consigo! — disse Tiago.

A casa da família logo estava cheia de atividade. Tiago e Emília no porão e a mãe e o pai no sótão, todos trabalhando afincadamente sem saber o que os outros estavam fazendo.

*

De uma ponta à outra da rua onde morava a família Silva, se viam luzes de Natal piscando nas janelas. O cheiro de peru assado e tortas exalava de todo o lado. No quarteirão seguinte, morava a família Marques. Os Marques estavam todos sentados confortavelmente ao redor da mesa de jantar, descansando depois de uma farta ceia de Natal. A casa estava lindamente enfeitada de cima a baixo com decorações de Natal e a porta fora enfeitada com azevinho.

Júlia, a única filha dos Marques, estava sentada com a mãe, saboreando os deliciosos biscoitos de Natal que haviam feito.

—Mamãe, tem algo que podemos fazer para os meus amigos, Emília e Tiago? Provavelmente eles não têm muita coisa este Natal.

—Imagino. Com o Sr. Silva incapacitado de trabalhar, devem estar passando momentos difíceis. Você tem alguma coisa em mente, querida? — perguntou a Sra. Marques.

—Sim. Eu tenho uma ideia — disse Júlia um pouco hesitante – mas não sabia o que você ia achar.

Júlia contou a ideia para a mãe.

—Acho ótimo — disse a Sra. Marques. —Vamos precisar começar logo, porque está ficando tarde.

Enquanto isso, o Sr. Marques estava sentado na frente da lareira, cantarolando “Eu Sonho com um Natal Branco.” Foi interrompido por Júlia, que veio pulando da cozinha.

—Papai, o senhor podia pegar os cestos de vime para mim, que estão na entrada? — pediu Júlia.

—Mas querida, está frio e nevando — respondeu ele. — Provavelmente tem um monte de neve na frente deles! É assim tão importante?

—Ah sim, papai, muito importante! — exclamou ela.

—Tudo bem, então. Considere isto uma parte do meu presente para você — disse ele alegremente, enquanto colocava o casaco e as botas.

—Obrigada, pai! — disse Júlia enquanto ele saia pela porta.

*

No sótão, o Sr. e a Sra. Silva continuavam trabalhando a todo o vapor.

No final, vai ser um Natal maravilhoso, pensou a Sra. Silva, enquanto dava os últimos retoques na boneca que estava fazendo para Emília.

O Sr. Silva olhou ternamente para a esposa.

—O que você acha? Será que ele vai gostar? — perguntou, mostrando-lhe o produto final.

—Está lindo, querido! Tenho certeza que ele vai amar — disse ela.

Sorrindo com a aprovação dela, deu uma olhada na boneca que a esposa segurava carinhosamente em suas mãos.

—Parece de fábrica — disse ele, elogiando a esposa. — Não sei como você fez, mas está linda.

*

O relógio deu onze e meia. A Sra. Marques abriu o forno e tirou outra bandeja de biscoitos.

Bem que eu estava me interrogando por que havia feito tantos bolos e biscoitos, pensou para si mesma. Júlia terminou de embalar os diferentes biscoitos e doces que haviam preparado e depois correu para a sala para ver se o pai tinha voltado.

Momentos depois a porta se abriu e ele apareceu, coberto de neve da cabeça aos pés.

—Aqui estão, querida—disse ele, colocando os cestos de vime sobre a mesa.

—Papai, você é maravilhoso — respondeu Júlia, e deu-lhe um beijo. — Gostaria de nos ajudar a enchê-los?

O Sr. Marques riu.

—Tudo bem. Traga as coisas para perto da lareira, onde está mais quente, e eu te ajudo.

*

De volta na casa da família Silva, Tiago e Emília puseram a pequena mesa de madeira debaixo da árvore e colocaram as figuras de Maria, José e os reis magos ao redor da manjedoura onde Jesus estava deitado. Do lado do presépio, Emília colocou o colorido cartão de Natal que ela havia feito com tanto amor.

—Onde será que o papai e a mamãe estão? — interrogou-se Tiago, enquanto punha um pedacinho de algodão por baixo de Jesus.

O presépio que ele havia consertado deu vida ao ambiente. Agora parecia muito mais que era Natal.

Justo nesse momento ouviram passos na escada, e o pai e a mãe cantando lindamente em harmonia “O Primeiro Natal”.

—Eles estão vindo — sussurrou Emília para Tiago, que sorriram de orelha a orelha.

—Oi crianças! — disse a mãe alegremente, entrando na sala. — Porque vocês não se arrumam para deitar e depois voltam aqui para uma linda história de Natal todos juntos? O que acham?

—Tudo bem, mamãe — disseram, dirigindo-se para as escadas, torcendo para que os pais vissem logo o que eles tinham feito.

Assim que as crianças saíram de vista, os pais trouxeram seus presentes do sótão e dirigiram-se para a árvore.

—Veja só, querido! — disse a mãe quando viu o reluzente cartão de Natal e o lindo presépio.

A mamãe ficou comovida com a amabilidade das crianças, e o pai ficou orgulhoso com o belo trabalho que Tiago fizera para dar vida ao presépio para mais um Natal.

—Nós temos filhos maravilhosos, não temos? — disse a mãe.

Então, quando o relógio deu meia noite, ouviu-se a campainha da porta.

—Quem será que está na porta a esta hora da noite? — perguntou o pai enquanto abria a porta.

—Surpresa! — disseram Júlia e a Sra. Marques em coro.

—… e Feliz Natal, acrescentou o Sr. Marques, estendendo a mão para o Sr. Silva.

Ao mesmo tempo, Tiago e Emília desceram a escada correndo, de pijama. Como ficaram surpresos ao ver todas as coisas gostosas que a família Marques havia trazido: lindos cestos enfeitados com fitas vermelhas, repletos de todo tipo de biscoitos e outras coisas deliciosas.

 —Façam o favor de entrar — disse a Sra. Silva, abrindo a porta para a família Marques entrar e sair do frio.

—Bem, não podemos ficar muito tempo, mais temos algo mais para as crianças.

Emília e Tiago logo levantaram os olhos curiosos, e seguiam os convidados até à sala.

—Aqui Emília, isto é para você — disse Júlia, entregando um pequeno pacote à amiga. — Pode abri-lo!

—Oh, o que é? — perguntou Emília, enquanto tirava o papel.

—São canetas hidrocor — respondeu Júlia enquanto Emília as tirava do embrulho. — Sei que você gosta de colorir.

—Muito obrigada — disse Emília. E abraçou a amiga.

E para você, Tiago — disse Júlia com um grande sorriso. — Tenho algo muito especial! Papai?

Nesse momento, o Sr. Marques entrou com o último cesto, coberto com um tecido verde e um grande laço vermelho amarrado na alça.

Tiago arregalou os olhos como nunca antes, olhando fixamente para o cesto e se interrogando o que tinha dentro. De repente, apareceu outro par de olhos e a cabeça de um cachorrinho bonitinho saiu de debaixo do tecido.

—Um cachorrinho! —Exclamou Tiago. —Para mim?

O Sr. Marques fez que sim com a cabeça, amavelmente. —E também trouxemos um saco gigante de comida para filhote!

—Puxa! Muito obrigado, Sr. Marques! — disse Tiago, olhando para o pai, que acenou afirmativamente.

—Bem, nós precisamos ir — disse a Sra. Marques. — Já está bem tarde, mas não queríamos deixar de desejar-lhes Feliz Natal.

—Estou muito agradecida — disse a Sra. Silva, com os olhos ainda em lágrimas. — Muito agradecida mesmo!

—E Feliz Natal para vocês também — acrescentou o Sr. Marques.

A família Marques sentia-se ainda mais feliz ao caminhar para casa sob o céu estrelado.

—Dar nos faz sentir bem, não é mamãe? — disse Júlia sorrindo.

—Faz sim! Precisamos fazer isso mais vezes — disse ela pensativa.

—Seria uma boa meta para o próximo ano — disse o Sr. Marques, e todos concordaram.

*

A família Silva se reuniu de novo na sala. Emília olhou para a árvore e reparou que tinha uma linda boneca debaixo dela, quase igual à que havia visto na loja do centro da cidade. Olhou para a mãe que acenou afirmativamente com a cabeça e sorriu. Ela deixou as canetinhas hidrocor que Júlia tinha lhe dado e correu para a árvore, para abraçar seu novo presente.

Era um presente muito melhor do que a boneca da loja, porque sabia que a mãe a tinha feito exatamente para ela.

—Muito obrigada, mamãe. É linda!

Depois, Tiago também reparou no seu presente.

—Uma carrocinha! Agora posso levar o cachorrinho para passear. Vai ser muito divertido! Obrigado, papai! É perfeita!”

O entusiasmo de Tiago e a alegria que brilhava em seus olhos foi recompensa suficiente para o Sr. Silva, que mal conseguia conter as lágrimas. E seu orgulho de pai estava estampado no rosto.

A Sra. Silva trouxe a cidra que havia guardado para o Natal, para saborearem junto com os biscoitos e outros lanches que os Marques haviam trazido. Ali sentados ao redor da sua pequena árvore de Natal, agradeciam ao Senhor por seu amor e desvelo por eles.

Enquanto Emília segurava a boneca e Tiago fazia carinho na cabeça do cachorrinho, a Sra. Jones abriu a velha Bíblia da família e começou a ler a história do Natal. O Sr. Silva observava a cena com grande alegria. Era um Natal muito feliz, e a paz que veio sobre eles naquela noite de Natal perdurou por muito tempo.

Autor desconhecido. Ilustrado por Mike D. Colorido e design de Roy Evans.
Publicado no My Wonder Studio. Copyright © 2019 por A Família Internacional
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Tagged: histórias infantis, natal, generosidade