Meu Estúdio Maravilhoso
Um Mundo de Insetos: Vítor Vacilante
Segunda-feira, Julho 30, 2012

Hi, hi, hi — ria Toninho, subindo a escada para a varanda da frente de sua casa, onde o Vovô Juca estava sentado na cadeira de balanço admirando o pôr do sol, como sempre fazia cada dia.

— Pelo jeito você está se divertindo, Toninho — disse o avô.

Toninho olhou para cima com uma risadinha:

— É que acabei de ver a coisa mais engraçada!

— É, dá para perceber. O que foi tão engraçado?

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— Estava brincando com meu amigo lá no quintal quando vimos o nosso vizinho, o Pedro, saindo. O senhor não vai acreditar no que aconteceu.

— Ah, é? — perguntou o avô curioso, levantando a sobrancelha. — O que aconteceu?

— Ele tropeçou e caiu pela escada. Mas o engraçado foi que, quando se levantou, ficou com o pé preso em um baldinho. Ele tentou e tentou tirar o pé, e quando finalmente conseguiu, o sapato ficou preso no balde.

Quando terminou sua história, Toninho se acabava de rir, ao contrário do avô, que tinha um olhar triste.

— Ele podia ter se machucado muito! Como acha que o Pedro se sentiu quando ouviu você e seu amigo rindo dele? — perguntou Vovô Juca.

Toninho olhou para ele sem saber o que responder.

O Vovô Juca continuou:

— Como você se sentiria se estivesse no lugar dele e alguém começasse a rir da sua infelicidade?

— Acho que não ia gostar muito — disse Toninho num sussurro, com o olhar fixo no chão.

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— Nós nunca gostamos quando as pessoas riem de nós, principalmente depois de um acidente. Faz-me lembrar de uma história sobre Vítor.

Os olhinhos de Toninho começaram a brilhar.

— Por favor, me conte essa história!

* * *

Curvado, Vítor se arrastava penosamente pela grama apoiado em uma vareta que lhe servia de bengala. Tinha uma atadura na perna e uma expressão de dor no rosto.

Tropeçara em uma raiz de dente-de-leão e machucara a perna no dia anterior quando procurava alimento para o jantar. Dora o ajudou, fez uma atadura e também lhe serviu o jantar, para que ele não tivesse que andar com a perna machucada. Hoje Vítor se sentia um pouco melhor. Conseguia caminhar com a ajuda de uma muleta, mas ainda se sentia muito mal.

Por que fui me machucar? pensava ele com os seus botões. Agora estou com este curativo enorme na perna. E dói! Estou me sentindo péssimo! Se não tivesse tropeçado naquela raiz, nada disso teria acontecido.

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E lá ia o insetozinho mancando, quando de repente a vareta se partiu em duas e ele mais uma vez foi parar no chão.

— Aiii! E eu que achava que as coisas não podiam piorar — disse com raiva. — Mas veja só. Caí de novo.

Coitado do Vítor!

Foi então que ouviu uns risinhos ali perto. Virou-se e viu dois besourinhos sentados em uma folha de trevo rindo. Eles o observavam mancando pela grama, e quando sua vareta quebrou, acharam tão engraçado que caíram na gargalhada.

— Esse Vítor é desajeitado mesmo — disse Mindinho entre risos.

A outra besourinha, chamada Engraçadinha, começou o corinho:

— Vítor Vacilante! Vítor Vacilante!

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Mindinho se juntou a ela, e os dois não paravam de repetir a tal frase.

Vítor ficou cabisbaixo. Sua perna machucada agora doia ainda mais. Mas o pior de tudo era que se sentia ferido por dentro e tinha vontade de chorar. Seus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir os dois besouros repetindo o refrão sem parar.

Acho que sou mesmo desajeitado, pensou Vítor com tristeza. Parece que tenho muitos acidentes. E depois ainda tenho mais. Estou sempre me machucando, derramando algo ou deixando alguma coisa cair. Não consigo fazer nada direito!

— Vão embora — disse ele tristemente para Engraçadinha e Mindinho. Mas os besouros levados riram ainda mais.

* * *

— Puxa vida, o que aconteceu? — perguntou Dora, preocupada, pairando logo acima de Vítor. — Então foi esse o grito que ouvi. Sinto muito que tenha caído de novo, Vítor.

Vítor nem quis olhar para ela, e continuou com os olhos cheios de lágrimas fitos no chão.

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— Tudo bem com você, Vítor? — perguntou Dora, se acomodando numa folha perto dele, sem saber por que o amigo, normalmente tão alegre, estava tão cabisbaixo.

— Está doendo muito?

Vítor concordou timidamente com a cabeça.

Nesse momento Dora ouviu Engraçadinha e Mindinho, ainda repetindo o seu refrão ali perto:

— Vítor vacilante!... Vítor vacilante! — diziam, caindo na gargalhada logo em seguida.

Os besouros não tinham percebido a chegada de Dora e ficaram muito surpresos ao olharem para cima e darem de cara com a libélula que os encarava com um olhar de desagrado.

— Vocês estão se divertindo? — perguntou.

Os dois pararam de rir e se endireitaram.

— É, ã... — gaguejou Mindinho.

— É que acabamos de ver algo muito engraçado — disse Engraçadinha soltando uma risadinha ao olhar para Mindinho.

— O Vítor estava andando apoiado numa varetinha, e de repente ela quebrou — contou Engraçadinha. — Foi engraçado demais! — E os dois besouros riam ainda mais.

Mas Dora não riu.

— Sabem de uma coisa? — disse ela. — Talvez vocês tenham achado tudo muito engraçado, mas o coitado do Vítor poderia ter se machucado feio. E vocês, em vez de irem socorrê-lo, ficaram aí rindo. Rir da infelicidade alheia deixa os outros muito tristes.

Os besouros olharam pensativos para Vítor. De repente, o trevo onde estavam sentados desabou com o peso dos dois, que foram rolando até se estatelarem no chão.

Ver os besouros rolando na grama foi bem engraçado, mas em vez de rir, Dora se aproximou de Engraçadinha e Mindinho para ver se estavam bem.

— Puxa! Foi um tombo e tanto. Vocês se machucaram?

— Eu estou bem — disse Mindinho.

— Eu também, foi só o susto — acrescentou Engraçadinha.

— Ainda bem — disse Dora, ajudando os dois a se levantarem.

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— Estou me sentindo muito mal por ter zombado do Vítor — disse Mindinho, enquanto sacudia a poeira.

— Eu também — disse Engraçadinha, envergonhada. — Acho que devemos lhe pedir desculpas.

— E talvez até possamos ajudá-lo de alguma forma — completou Mindinho. — Assim ele não precisa ficar andando com a perna machucada.

— É muita consideração da sua parte — disse Dora com um sorriso. — Tenho certeza que Vítor vai ficar agradecido pela sua gentileza e ajuda.

* * *

Dora e os dois besouros ajudaram Vítor a voltar para casa e arrumaram a sua atadura. Depois, Engraçadinha e Mindinho lhe fizeram companhia até escurecer.

— Foi muita gentileza sua ficarem aqui e me ajudarem — disse Vítor, despedindo-se dos dois besouros.

— Foi divertido — disse Mindinho. — Se Deus quiser amanhã viremos visitá-lo de novo.

— Puxa, seria legal — agradeceu Vítor. — Acho que preciso descansar mais até a minha perna melhorar, e seria um prazer ter a sua companhia!

— Então viremos — disse Engraçadinha com um sorriso. — Espero que sua perna sare logo. Até amanhã.

* * *

— O fim! — disse Vovô Juca, fechando o livro de histórias.

— Eu me sinto mal por ter rido do Pedro — disse Toninho depois de um momento de silêncio. — Vou tentar ser mais gentil com ele e não rir quando as coisas derem errado.

— Muito bem! — disse o avô. — Tenho certeza que ele vai gostar de tê-lo como amigo.

Moral da história: Trate as pessoas como gostaria de ser tratado. Se agir assim verá que tudo o que fizer lhe será retribuído.Jesus.

Escrito por Katiuscia Giusti. Ilustrações de Agnes Lemaire. Colorido por Doug Calder. Adaptação Leonor Marques. Revisão Denise Oliveira.
Trecho de Insects Galore por Aurora Production AG © 2007. Usado com permissão.
Áudio produzido por Radio Active Productions. Usado com permissão.
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Tagged: histórias infantis, amor