Hi, hi, hi — ria Toninho, subindo a escada para a varanda da frente de sua casa, onde o Vovô Juca estava sentado na cadeira de balanço admirando o pôr do sol, como sempre fazia cada dia.
— Pelo jeito você está se divertindo, Toninho — disse o avô.
Toninho olhou para cima com uma risadinha:
— É que acabei de ver a coisa mais engraçada!
— É, dá para perceber. O que foi tão engraçado?
— Estava brincando com meu amigo lá no quintal quando vimos o nosso vizinho, o Pedro, saindo. O senhor não vai acreditar no que aconteceu.
— Ah, é? — perguntou o avô curioso, levantando a sobrancelha. — O que aconteceu?
— Ele tropeçou e caiu pela escada. Mas o engraçado foi que, quando se levantou, ficou com o pé preso em um baldinho. Ele tentou e tentou tirar o pé, e quando finalmente conseguiu, o sapato ficou preso no balde.
Quando terminou sua história, Toninho se acabava de rir, ao contrário do avô, que tinha um olhar triste.
— Ele podia ter se machucado muito! Como acha que o Pedro se sentiu quando ouviu você e seu amigo rindo dele? — perguntou Vovô Juca.
Toninho olhou para ele sem saber o que responder.
O Vovô Juca continuou:
— Como você se sentiria se estivesse no lugar dele e alguém começasse a rir da sua infelicidade?
— Acho que não ia gostar muito — disse Toninho num sussurro, com o olhar fixo no chão.
— Nós nunca gostamos quando as pessoas riem de nós, principalmente depois de um acidente. Faz-me lembrar de uma história sobre Vítor.
Os olhinhos de Toninho começaram a brilhar.
— Por favor, me conte essa história!
* * *
Curvado, Vítor se arrastava penosamente pela grama apoiado em uma vareta que lhe servia de bengala. Tinha uma atadura na perna e uma expressão de dor no rosto.
Tropeçara em uma raiz de dente-de-leão e machucara a perna no dia anterior quando procurava alimento para o jantar. Dora o ajudou, fez uma atadura e também lhe serviu o jantar, para que ele não tivesse que andar com a perna machucada. Hoje Vítor se sentia um pouco melhor. Conseguia caminhar com a ajuda de uma muleta, mas ainda se sentia muito mal.
Por que fui me machucar? pensava ele com os seus botões. Agora estou com este curativo enorme na perna. E dói! Estou me sentindo péssimo! Se não tivesse tropeçado naquela raiz, nada disso teria acontecido.
E lá ia o insetozinho mancando, quando de repente a vareta se partiu em duas e ele mais uma vez foi parar no chão.
— Aiii! E eu que achava que as coisas não podiam piorar — disse com raiva. — Mas veja só. Caí de novo.
Coitado do Vítor!
Foi então que ouviu uns risinhos ali perto. Virou-se e viu dois besourinhos sentados em uma folha de trevo rindo. Eles o observavam mancando pela grama, e quando sua vareta quebrou, acharam tão engraçado que caíram na gargalhada.
— Esse Vítor é desajeitado mesmo — disse Mindinho entre risos.
A outra besourinha, chamada Engraçadinha, começou o corinho:
— Vítor Vacilante! Vítor Vacilante!
Mindinho se juntou a ela, e os dois não paravam de repetir a tal frase.
Vítor ficou cabisbaixo. Sua perna machucada agora doia ainda mais. Mas o pior de tudo era que se sentia ferido por dentro e tinha vontade de chorar. Seus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir os dois besouros repetindo o refrão sem parar.
Acho que sou mesmo desajeitado, pensou Vítor com tristeza. Parece que tenho muitos acidentes. E depois ainda tenho mais. Estou sempre me machucando, derramando algo ou deixando alguma coisa cair. Não consigo fazer nada direito!
— Vão embora — disse ele tristemente para Engraçadinha e Mindinho. Mas os besouros levados riram ainda mais.
* * *
— Puxa vida, o que aconteceu? — perguntou Dora, preocupada, pairando logo acima de Vítor. — Então foi esse o grito que ouvi. Sinto muito que tenha caído de novo, Vítor.
Vítor nem quis olhar para ela, e continuou com os olhos cheios de lágrimas fitos no chão.
— Tudo bem com você, Vítor? — perguntou Dora, se acomodando numa folha perto dele, sem saber por que o amigo, normalmente tão alegre, estava tão cabisbaixo.
— Está doendo muito?
Vítor concordou timidamente com a cabeça.
Nesse momento Dora ouviu Engraçadinha e Mindinho, ainda repetindo o seu refrão ali perto:
— Vítor vacilante!... Vítor vacilante! — diziam, caindo na gargalhada logo em seguida.
Os besouros não tinham percebido a chegada de Dora e ficaram muito surpresos ao olharem para cima e darem de cara com a libélula que os encarava com um olhar de desagrado.
— Vocês estão se divertindo? — perguntou.
Os dois pararam de rir e se endireitaram.
— É, ã... — gaguejou Mindinho.
— É que acabamos de ver algo muito engraçado — disse Engraçadinha soltando uma risadinha ao olhar para Mindinho.
— O Vítor estava andando apoiado numa varetinha, e de repente ela quebrou — contou Engraçadinha. — Foi engraçado demais! — E os dois besouros riam ainda mais.
Mas Dora não riu.
— Sabem de uma coisa? — disse ela. — Talvez vocês tenham achado tudo muito engraçado, mas o coitado do Vítor poderia ter se machucado feio. E vocês, em vez de irem socorrê-lo, ficaram aí rindo. Rir da infelicidade alheia deixa os outros muito tristes.
Os besouros olharam pensativos para Vítor. De repente, o trevo onde estavam sentados desabou com o peso dos dois, que foram rolando até se estatelarem no chão.
Ver os besouros rolando na grama foi bem engraçado, mas em vez de rir, Dora se aproximou de Engraçadinha e Mindinho para ver se estavam bem.
— Puxa! Foi um tombo e tanto. Vocês se machucaram?
— Eu estou bem — disse Mindinho.
— Eu também, foi só o susto — acrescentou Engraçadinha.
— Ainda bem — disse Dora, ajudando os dois a se levantarem.
— Estou me sentindo muito mal por ter zombado do Vítor — disse Mindinho, enquanto sacudia a poeira.
— Eu também — disse Engraçadinha, envergonhada. — Acho que devemos lhe pedir desculpas.
— E talvez até possamos ajudá-lo de alguma forma — completou Mindinho. — Assim ele não precisa ficar andando com a perna machucada.
— É muita consideração da sua parte — disse Dora com um sorriso. — Tenho certeza que Vítor vai ficar agradecido pela sua gentileza e ajuda.
* * *
Dora e os dois besouros ajudaram Vítor a voltar para casa e arrumaram a sua atadura. Depois, Engraçadinha e Mindinho lhe fizeram companhia até escurecer.
— Foi muita gentileza sua ficarem aqui e me ajudarem — disse Vítor, despedindo-se dos dois besouros.
— Foi divertido — disse Mindinho. — Se Deus quiser amanhã viremos visitá-lo de novo.
— Puxa, seria legal — agradeceu Vítor. — Acho que preciso descansar mais até a minha perna melhorar, e seria um prazer ter a sua companhia!
— Então viremos — disse Engraçadinha com um sorriso. — Espero que sua perna sare logo. Até amanhã.
* * *
— O fim! — disse Vovô Juca, fechando o livro de histórias.
— Eu me sinto mal por ter rido do Pedro — disse Toninho depois de um momento de silêncio. — Vou tentar ser mais gentil com ele e não rir quando as coisas derem errado.
— Muito bem! — disse o avô. — Tenho certeza que ele vai gostar de tê-lo como amigo.
Moral da história: Trate as pessoas como gostaria de ser tratado. Se agir assim verá que tudo o que fizer lhe será retribuído.—Jesus.
Escrito por Katiuscia Giusti. Ilustrações de Agnes Lemaire. Colorido por Doug Calder. Adaptação Leonor Marques. Revisão Denise Oliveira.Trecho de Insects Galore por Aurora Production AG © 2007. Usado com permissão.Áudio produzido por Radio Active Productions. Usado com permissão.