Era domingo e Toninho havia convidado seus amigos, Pedro, Tuca e Patrícia para passarem a tarde em sua casa.
— Tudo bem com vocês? — Vovô Juca perguntou ao passar pela sala onde as crianças estavam entretidas brincando.
— Tudo bem — responderam as crianças, ainda muito ocupadas com seus brinquedos.
— Vovô Juca — perguntou Patrícia — é verdade que o Toninho é o menino mais inteligente que o senhor conhece?
— O que a fez dizer isso? — perguntou Vovô Juca.
— Foi ele quem disse — respondeu ela.
— Lembra, Vovô, quando eu estava fazendo aquele dever de casa? — interrompeu Toninho — Era muito difícil, mas eu consegui fazer, e depois o senhor disse que eu era muito inteligente… a criança mais inteligente que o senhor já tinha visto!
— Sim, eu me lembro de ter dito que você é bem inteligente — respondeu Vovô Juca coçando levemente a barba. Mas dizer que você era o mais inteligente… Olha… dessa parte não me lembro bem.
— Às vezes queremos nos sentir importantes porque achamos que assim os outros vão gostar mais de nós. Mas sabe, nossos amigos gostam de nós como somos — explicou Vovô Juca.
— Conheço uma história de uma estrela-do-mar que achava que precisava ser alguém especial para que seus amigos gostassem dela.
As crianças pediram ao Vovô para lhes contar a história.
Toninho, Pedro, Tuca e Patrícia guardaram os brinquedos e arrumaram a sala direitinho enquanto o Vovô Juca foi pegar seu livro de histórias.
— Todo o mundo já decidiu onde vai se sentar? — perguntou Vovô Juca.
— Ainda não — responderam as crianças enquanto se acomodavam.
— Foi minha mãe que me ensinou esse poeminha — disse Xalo. Ela o recitava pra mim antes de dormir.
— É uma gracinha — confirmou Estrelico, uma estrela-do-mar, amigo de Xalo.
Os dois amigos se sentaram numa pedra, ouvindo as ondas baterem contra o rochedo escarpado e admirando as estrelas cintilantes.
— Você sabia que antes eu era uma estrela? — gabou-se Estrelico.
— Você quer dizer que gostaria de ter sido uma estrela? — perguntou Xalo.
— Não, eu era uma estrela mesmo! — confirmou Estrelico.
— O que aconteceu então? Você tem que me contar!
— Ah… bem… — gaguejou Estrelico. Ele só queria impressionar o Xalo, mas agora não sabia o que dizer. Será que ele deveria inventar uma história, ou contar a verdade?
Se eu disser a verdade agora, ele vai deixar de gostar de mim. Vai olhar para mim e pensar que não passo de uma simples e feia estrela-do-mar sem graça. E talvez não vai mais querer ser meu amigo.
— Então, vai me contar? — indagou Xalo.
— Olha, antes de conhecer você eu era uma estrela que ficava bem longe no céu. Mas eu não era uma estrela qualquer. Era toda colorida. Às vezes meu brilho era esbranquiçado, mas eu também mudava de cor e ficava azul, vermelho, amarelo e verde.
— Puxa, que legal! — exclamou Xalo impressionado. E o que aconteceu?
— Algumas das outras estrelas tinham inveja de mim, porque elas não podiam mudar de cor como eu. Então elas se reuniram para ver como se livrarem de mim.
— Meu Deus, que horrível — disse Xalo.
— Um belo dia, lá estava eu, brilhando como sempre, quando as outras estrelas decidiram me empurrar para fora do céu. E de repente, bum, elas investiram contra mim! Perdi o equilíbrio e comecei a cair. Lá fui eu caindo pelo céu afora. Passei muito medo! Finalmente, depois de ficar um tempão caindo, ploft! Bati na água e fui parar no fundo do oceano.
— Quando percebi o que havia acontecido, olhei para mim mesmo e vi que não era mais uma estrela brilhante, cintilante e colorida. Eu me tornara uma estrela-do-mar desbotada e sem graça. E é o que tenho sido desde então.
— Que triste! — exclamou Xalo. — Mas mesmo você não sendo uma estrela como antes, eu nunca achei você desbotado nem sem graça. Sempre gostei de você como é. Mas sinto muito por tudo o que você passou.
— Não se preocupe — disse Estrelico. — Já estou me acostumando a ser uma estrela-do-mar.
Naquela noite, quando se preparava para deitar na sua caminha no recife de corais, algo dentro de Estrelico o incomodava.
Eu não devia ter inventado a história. Não era verdade, mas agora o Xalo pensa que é. E se ele contar para os outros? Ah não, o que vou fazer?
— …e as estrelas maldosas empurraram o coitado do Estrelico e ele despencou lá de cima — Xalo relatou o acontecido ao Velho Baiacu e a Biju.
— E quando ela bateu na água já não era mais uma estrela, mas sim uma estrela-do-mar! — concluiu Xalo.
Biju olhou para o Velho Baiacu e balançou a cabeça:
— Que eu saiba, pelo que minha mãe me contou, estrelas-do-mar são estrelas-do-mar. Nunca foram nenhum outro tipo de estrela antes.
— É isso mesmo — confirmou Baiacu.
— Então perguntem para o Estrelico — disse Xalo.
E lá se foram os três nadando à procura de Estrelico.
— Que bom que o encontramos! — disse Xalo a Estrelico.
— Oi, tudo bem? — respondeu Estrelico.
— Xalo nos contou a sua história — explicou o Velho Baiacu. E queríamos saber se é realmente verdade. Sempre aprendemos que as estrelas-do-mar são um animal marinho, como nós.
— É... eu… — gaguejou Estrelico, bastante nervoso.
— Foi o que você me disse — afirmou Xalo. — Confirme para eles que é verdade.
O que vou fazer? Estrelico começou a entrar em pânico. Será que digo que inventei ou continuo dizendo que é verdade? Eu não devia ter mentido. Talvez agora eles nunca mais vão acreditar em nada que eu diga.
Depois de pensar por um momento Estrelico chegou à conclusão que era melhor contar a verdade do que continuar inventando histórias.
— Xalo, perdoe-me — ele começou.
— Eu nunca fui uma estrela. Sempre fui uma estrela-do-mar, só que nunca me considerei especial. Minhas cores não são muito vivas e eu não nado graciosamente como um peixe. Eu queria que você pensasse que eu era especial, porque achei que assim ia gostar mais de mim.
— Mas eu já gosto de você! — exclamou Xalo. — Você é meu amigo, e ponto final.
— Sério?
— É claro. Quem se importa com a sua cor ou como você nada? Gosto de você como você é.
— E nós também — acrescentou Biju.
— Cada um de nós é de um jeito — explicou o Velho Baiacu. Temos características diferentes, mas cada um é especial.
— É verdade — disse Estrelico. — Desculpem-me. Prometo que não vou mais inventar histórias. Estou muito feliz por ter amigos como vocês.
— Nós também estamos muito felizes por você ser nosso amigo — confirmou Biju, Velho Baiacu e Xalo juntos.
Os quatro amigos saíram nadando juntos, felizes por terem uns aos outros.
Ding, dong!
— Devem ser seus pais que vieram buscar vocês — disse Vovô Juca, fechando o livro.
— Obrigado pela história, Vovô Juca — disse Pedro.
— Sempre aprendo tanto com essas histórias — acrescentou Tuca.
— Eu também — concordou Patrícia.
— Que bom! — exclamou Vovô Juca. — Porque adoro ler histórias para vocês. E sim, há muito que aprender com elas.
— Não vou me esquecer dessa história — afirmou Toninho. — É muito bom ter amigos que gostam de mim como sou.
— É verdade — concordou Vovô Juca, enquanto ajeitava o cabelo de Toninho. — É melhor não fazermos seus pais esperar. Voltem assim que puderem!
— Até logo! — disseram juntos Pedro, Patrícia, e Tuca ao saírem.
Moral: Embora todos sejam diferentes, Deus criou cada um de nós com algo especial.
Autoria de Katiuscia Giusti. Ilustrado por Agnes Lemaire. Colorido por Doug Calder. Design de Roy Evans.Apresentado no My Wonder Studio. Copyright © 2007 por Aurora Production AG, Suíça. Todos os direitos reservados.