—Vovô Juca!—chamou Toninho. — Que história vamos ler hoje?
O barunho de pézinhos escada abaixo ecoava pela casa. Entrou então Toninho de pijama, ansioso por ouvir as histórias do Vovô, saracoteando em seu colo até se acomodar.
—Era uma vez, lá no fundo do mar… —começou o avô…
…vivia uma sereia chamada Camila. Ela tinha lindos cabelos logos, negros como a noite, e uma cauda cintilante coberta de escamas lilases. Camila, no entanto, era um pouco diferente das outras sereias: Ela era miudinha; a menor de todas.
Seus pais a amavam muito. Eles viviam no reino submarino de Jade, com todas as outras sereias. O reino de Jade era um lugar lindo, governado pelo rei Ferdinando e a rainha Regina, ambos muito bondosos e sábios.
O lugar favorito de Camila no castelo era a torre, onde ela podia sentar e observar tudo que acontecia lá em baixo no reino.
Seus melhores amigos eram Xalo, um cavalo marinho, e Clipe, um caranguejo. Eles tinham um esconderijo num recife ali perto. Ninguém sabia onde ficava, só os três amigos. Os momentos que eles passavam juntos eram repletos de alegria e diversão.
Certo dia, sentindo-se muito só porque seus amigos não puderam visitá-la, Camila foi lá para cima
e começou a cantar uma canção para se alegrar. Isso geralmente funcionava, mas naquele dia não adiantou nada.
Lá em baixo no grande castelo, dava para ver todos ocupados, se preparando para uma comemoração, decorando o local e fazendo iguarias. Todos estavam muito ocupados.
Estou cansada de ser tão pequena, Camila pensou. Quem me dera ser do tamanho das outras sereias, aí eu poderia ajudar com os preparativos para a festa.
Começou a chorar. Ninguém gosta de mim, só Xalo e Clipe. Nunca vou conseguir fazer nada para o rei e a rainha, porque sou pequena demais.
À distância, via-se um grande recife de corais, pontilhado de cores e brilho, lar de uma variedade de peixes e criaturas marinhas. Mas havia um peixinho que parecia perdido e solitário. Era o Biju.
Como era tímido demais, muitas vezes se escondia nos corais e mal dava para vê-lo.
—Quem me dera ter um amigo — suspirou Biju. —Mas não tenho. Será que alguém ia querer ser meu amigo? Por que alguém ia querer ser amigo de um peixinho como eu?
De repente, ele ouviu barulhos ao longe, vindo do castelo submarino.
O que será que está acontecendo no castelo? Pensou ele. Vou dar uma olhada.
Biju emergiu rapidamente do recife de coral, e acabou dando de cara com Baiacu.
—Desculpe-me, senhor Baiacu.
—Você parece que está com muita pressa. Onde você vai? — perguntou o velho Baiacu.
—Escutei um barulho lá no castelo. Sabe o que está acontecendo?
—Pelo que ouvi falar é o aniversário do príncipe Cádis. Ele vai fazer cinco anos, e o reino todo está ocupado com os preparativos. Você vai à festa lá no castelo? — perguntou o velho Baiacu.
—Não sei se posso.
—Claro que pode. Você não ficou sabendo que todos os peixes e criaturas marinhas estão convidadas? Isso inclui você, pequeno Biju.
—Vou dar uma olhada então. Mas acho que não vou ficar para a festa.
—E por que não?
—Não saberia o que fazer, e provavelmente me sentiria deslocado.
Houve um momento de silêncio, e então o velho Baiacu, com uma risadinha e uma mexida das nadadeiras, disse:
—Ah Biju, meu filho, amigos não aparecem do nada. Você precisa se dispor a encontrá-los!
—Mas eu não sei como fazer amigos — explicou Biju.
O velho Baiacu, dando uma risada, aconselhou-o a não se preocupar e apenas ser gentil e amigável.
—Essa atitude vai contagiar outros e eles vão querer ser seus amigos! — afirmou para o peixinho.
Agradecendo, Biju seguiu nadando em direção ao castelo.
A caminho do castelo, ao ouvir os risos e sons alegres, Biju ficou todo encabulado e nadou rapidamente para a torre para se afastar da multidão. Foi quando percebeu que estava ali uma pequena sereia, sozinha, chorando.
Resolveu então sair rapidamente da torre. Com certeza ela não quer que ninguém a perturbe, pensou, e deu meia-volta! Mas, na sua pressa, bateu com a cauda numa prateleira, que caiu ruidosamente no chão.
PLÁFT! BUM! TÓIM!
Camila virou-se e viu um peixinho colorido fugindo rapidamente. Curiosa, ela o seguiu.
—Quem é você? — perguntou a sereia.
—Hein? Eu? —disse todo tímido.
Rindo, Camila indagou quem era “eu”.
—Sou o Biju — respondeu ele.
—Muito prazer, Biju.
—Igualmente — disse Biju. —Desculpe a bagunça.
—Não se preocupe. Eu sempre esbarro naquela prateleira. Podemos arrumá-la juntos.
Biju estava morrendo de vergonha, mas se lembrou do que o velho Baiacu disse, e decidiu experimentar o conselho.
—Você vem sempre aqui em cima? — perguntou Biju.
—É o meu lugar preferido — respondeu ela. — Mas é a primeira vez que vejo você.
—Faz tempo que não venho aqui.
—Tem uma vista lindíssima — admirou Camila olhando pelo parapeito da torre. Dá para ver tudo que acontece no castelo.
Os dois observaram o movimento lá em baixo.
—Porque você não está lá em baixo com o resto do pessoal? —perguntou Biju.
Abaixando a cabeça, Camila disse:
—Olhe só para mim! Sou bem menor que o resto das sereias. Também sou meio desajeitada e parece que estou sempre atrapalhando. Às vezes os outros riem de mim, porque sou tão pequena.
—Olha, você não é tão pequena assim. Olha como eu sou pequenininho.
—Camila, Camila! — ouviram-se duas vozes chamando na torre.
—Quem está chamando você? — indagou Biju.
—São o Xalo e o Clipe — respondeu Camila. —Venha, Biju, quero que você conheça os meus amigos.
—Estou vendo que arranjou uma nova companhia, — exclamou Clipe.
—Este é o Biju, meu novo amigo, — disse Camila sorrindo. — Que tal irmos brincar juntos no recife?
—Ótima ideia — disse Xalo entusiasmado. —Adoramos fazer novos amigos.
O velho Baiacu tinha razão. Biju não se sentiu mais triste nem sozinho, depois que dedicou tempo para fazer novos amigos.
—Eu gosto de fazer amigos — afirmou Toninho, enquanto o vovô Juca fechava o livro.
Moral: Amizade é uma dádiva de Deus. Quando nos esforçamos para nos entrosar com os outros, fazemos amigos e ficamos felizes.
Autoria de Katiuscia Giusti. Illustrado por Agnes Lemaire. Colorido por Doug Calder. Design de Roy Evans.Apresentado no My Wonder Studio. Copyright © 2007 por Aurora Produções AG, Suíça. Todos os direitos reservados.