Era véspera de Natal, e Toninho e Patrícia estavam fazendo cartões para seus parentes e amigos.
— Toninho eu preciso do giz de cera azul — disse Patrícia.
— Eu também — respondeu Toninho.
—Mas você não está usando agora.
—Mas vou usar.
Patrícia se esticou e pegou o giz de cera azul.
— Pode devolver agora mesmo! — exigiu Toninho, zangado.
— Estou usando — respondeu Patrícia. — Vou devolver quando acabar.
— Devolva agora mesmo!
Toninho tomou o giz de cera de Patrícia e, ao fazer isso, rabiscou sem querer uma linha azul de fora a fora no cartão dela.
— Olha o que você fez! — disse Patrícia, começando a chorar.
— O que aconteceu, crianças? — perguntou Vovô Juca.
— O Toninho estragou o meu cartão! — chorou Patrícia.
— A culpa é dela. Não devia ter pegado o meu giz de cera!
— Tenho uma ideia — disse o Vovô Juca. — Gostariam de ouvir uma história sobre um incidente que aconteceu entre Xalo e Clipe? Talvez os ajude a entender melhor um ao outro.
— Que tal pendurarmos os enfeites de Natal aqui? — perguntou Biju.
O velho Baiacu segurava uma ponta da longa alga colorida e Biju segurava a outra, e a penduraram no lugar.
— Camila, o que você acha, está bonito assim? — disse Baiacu.
— É, está bom — respondeu Camila sem demonstrar muito interesse.
— Você não gostou, não é? — disse Biju preocupado.
— Não é isso. Acho que está bem, sim — disse ela.
— Sua cauda está doendo? — perguntou o velho Baiacu.
— Não... pelo menos não dói se fico mais quieta — explicou Camila.
— Então, qual é o problema?
Camila suspirou:
— Quem me dera não ter que ficar de cama. Quero ajudar a colocar os enfeites e me divertir. Mas não posso... por causa dessa minha cauda.
Dois dias antes Camila se machucara brincando no meio dos corais. Um grande pedaço se desprendeu e caiu em sua cauda. O Natal sempre foi uma época especial para Camila, mas não é nada legal ficar de cama com a cauda machucada justamente nessa época. Seus amigos foram animá-la, mas ela ainda estava tristonha.
De repente, ouviu-se um BARULHÃO seguido de palavras zangadas.
— O que estará acontecendo? — perguntou Camila.
— É o Xalo e o Clipe — disse Biju.
— Parece que eles não estão se entendendo muito bem — disse Baiacu. — Volto já, já.
Clipe e Xalo tinham saído para recolher conchas vazias, pedacinhos de coral e plantas aquáticas coloridas que usariam para enfeitar o quarto de Camila. Animados com o que encontraram, Xalo estava ansioso para mostrar tudo à Camila. Enquanto isso, Clipe ficava cada vez mais frustrado com Xalo.
— Olhe só o que encontrei! — gritou Xalo ao se aproximarem da casa de Camila.
Mas quando o cavalo-marinho se pôs a caminho para mostrar a Camila o que tinham recolhido, Clipe puxou a sua cauda, e ele levou um tombo feio. As coisas que carregava se espalharam pelo chão.
— CLIPE! — gritou Xalo. — Olhe só o que você fez!
— Bem feito!
— Por que fez isso comigo? — Xalo estava muito chateado.
— Estou cansado de ver você receber o mérito por tudo — Clipe disse. — Lembre-se que nós recolhemos tudo isso juntos, não foi você sozinho! A manhã toda tem se gabado do que você recolheu para a Camila, mesmo quando era eu que encontrava algo.
— Não é verdade! — retrucou Xalo.
— É sim! — respondeu Clipe.
O caranguejo e o cavalo-marinho começaram a brigar e a empurrar um ao outro.
— Clipe! Xalo! Chega disso! — disse Velho Baiacu com firmeza.
Xalo soltou Clipe e foi se sentar numa pedra. Clipe cruzou as suas garras de caranguejo e ficou ali emburrado.
— Pelo jeito vocês dois não estão se entendendo muito bem hoje — disse o velho Baiacu.
— É culpa do Clipe.
— Não é, não! — retrucou Clipe.
— Eu não perguntei de quem era a culpa — insistiu Baiacu. — Discutir sobre quem agiu errado não vai ajudar. Precisamos encontrar uma solução para este problema sem discussões e brigas. Mas para tal, vocês dois vão precisar escutar o que o outro tem a dizer. Concordam?
Xalo e Clipe menearam a cabeça afirmativamente.
— Por que não explica primeiro o problema, Clipe? — sugeriu o velho Baiacu. — O que aconteceu?
Clipe começou:
— Xalo passou a manhã inteira falando sobre o que ele ia pegar para a Camila, e como ia encontrar corais mais bonitos do que eu. No início não me importei. Mas aí, sempre que eu ia pegar algo, Xalo corria e pegava antes de mim. Eu lhe pedia para não fazer isso, mas ele não me escutou.
— Acho que não devia ter perdido a paciência — continuou Clipe. — Mas fiquei tão frustrado que não sabia mais o que fazer.
— Entendo — disse o velho Baiacu. E, virando-se para Xalo acrescentou: — Você percebeu que estava fazendo o Clipe se sentir mal?
Xalo disse que não.
— Eu só queria fazer algo legal para a Camila — explicou ele. Não estava tentando deixar o Clipe zangado... mas acho que deixei.
— Ótimo! — exclamou Baiacu.
Xalo e Clipe olharam meio confusos para Baiacu.
— Como assim? — perguntou Clipe.
O velho Baiacu explicou:
— Agora que sabemos por que os dois ficaram zangados, é mais fácil resolver a questão.
Xalo deu um suspiro e disse:
— Clipe, desculpe-me pelo meu comportamento. Se eu tivesse percebido que o estava incomodando não teria agido daquela maneira.
— Desculpe-me também — disse Clipe. — Eu não devia ter ficado zangado com você. Por favor, me perdoe.
— Claro que sim — respondeu Xalo.
Os dois amigos agradeceram ao velho Baiacu pela sua ajuda.
— Ora, não vamos fazer com que a Camila espere mais — disse o velho Baiacu.
— Vocês voltaram! — exclamou Camila feliz.
— Clipe e eu encontramos muitas coisas legais — disse Xalo.
Os corais, conchas e plantas marinhas coloridas foram colocados sobre a cama, e os cinco amigos observaram cada item, decidindo onde colocá-los no quarto de Camila.
— Muito obrigada — disse Camila. — Vocês são amigos maravilhosos. Achei que meu Natal seria sem graça por causa do acidente que sofri, mas vocês me alegraram muito.
— Você sempre nos ajudou nos momentos mais difíceis — disse Xalo.
— Feliz Natal, Camila — disse Clipe. — E Feliz Natal a todos vocês, meus amigos.
— Eu não devia ter sido tão egoísta — disse Toninho. — Não precisava do giz de cera naquele instante. Podia tê-lo emprestado para você.
— Mas eu também não tinha que tirá-lo daquele jeito — disse Patrícia. — Eu podia ter usado uma cor diferente e esperado até você terminar. Sinto muito.
— Veem? Há maneiras de resolver as coisas sem se zangar e brigar — mencionou o Vovô Juca.
— Podemos terminar nossos cartões agora? — perguntou Toninho.
— Claro. E, diga-se de passagem, os cartões de vocês dois estão lindos. Tenho certeza que seus familiares vão ficar muito felizes.
Moral: Discutir e brigar não ajuda a resolver os problemas; geralmente só o deixam mais zangado e chateado com a outra pessoa. Experimente demonstrar amor e ter consideração, e verá que tudo vai transcorrer bem melhor.
Autoria de Katiuscia Giusti. Ilustrado por Agnes Lemaire. Colorido de Doug Calder. Design de Roy Evans.Apresentado no My Wonder Studio. Copyright © 2008 por Aurora Produções AG, Suíça. Todos os direitos reservados.