Toninho subia a escada rindo, em direção à varanda da frente de sua casa, onde o Vovô Juca estava sentado na sua cadeira de balanço favorita admirando o pôr-do-sol.
— Pelo jeito você está se divertindo, Toninho — disse o avô.
Toninho olhou para cima com uma risadinha:
— É que acabei de ver a coisa mais engraçada!
— O que aconteceu?
— Estava brincando com meu amigo lá no quintal quando vimos o Pedro saindo de casa. Ele tropeçou e caiu na escada.
— Mas o engraçado foi que, quando se levantou, ficou com o pé preso num baldinho. Ele tentou e tentou tirar o pé, e quando finalmente conseguiu, o sapato ficou preso no balde.
Toninho se acabava de rir, ao contrário do avô, que tinha um olhar triste.
— Ele podia ter se machucado muito! Como acha que o Pedro se sentiu quando ouviu você e seu amigo rindo dele? — perguntou Vovô Juca.
Toninho olhou para ele sem saber o que responder.
O Vovô Juca continuou:
— Como você se sentiria, se estivesse no lugar dele, e alguém começasse a rir da sua infelicidade?
— Acho que não ia gostar muito — disse Toninho num sussurro, com o olhar fixo no chão.
— Nós nunca gostamos quando as pessoas riem de nós, principalmente depois de um acidente. Faz-me lembrar de uma história sobre Vitor.
Os olhinhos de Toninho começaram a brilhar.
— Por favor, me conte essa história!
Curvado, Vitor se arrastava penosamente pela grama apoiado em uma vareta que lhe servia de bengala. Tinha uma atadura na perna e uma expressão de dor no rosto.
Tropeçara em uma raiz de dente-de-leão e machucara a perna no dia anterior quando procurava alimento para o jantar. Dora o ajudou, fez uma atadura e também lhe serviu o jantar, para que ele não tivesse que andar com a perna machucada.
Hoje Vitor se sentia um pouco melhor. Conseguia caminhar com a ajuda de uma muleta, mas ainda se sentia muito mal.
Por que fui me machucar? pensava ele com os seus botões. Agora estou com este curativo enorme na perna. E dói! Estou me sentindo péssimo! Se não tivesse tropeçado naquela raiz, nada disso teria acontecido.
E lá ia o insetozinho mancando lentamente, quando de repente a vareta se partiu em duas e ele mais uma vez foi parar no chão.
— Aiii! E eu que achava que as coisas não podiam piorar — disse com raiva. — Mas veja só. Caí de novo.
Coitado do Vitor!
Foi então que ouviu uns risinhos ali perto. Virou-se e viu dois besourinhos sentados em uma folha rindo. Eles o observavam mancando pela grama, e quando sua vareta quebrou, acharam tão engraçado que caíram na gargalhada.
— Esse Vítor é desajeitado mesmo — disse Mindinho entre risos. A outra besourinha, chamada Engraçadinha, começou o corinho:
— Vitor Vacilante! Vitor Vacilante!
Mindinho se juntou a ela, e os dois não paravam de repetir a tal frase.
Vitor ficou cabisbaixo. Sua perna machucada agora doía ainda mais. O pior de tudo era que se sentia ferido por dentro e tinha vontade de chorar. Seus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir os dois besouros repetindo o refrão sem parar.
Acho que sou mesmo desajeitado, pensou Vitor com tristeza. Estou sempre me machucando, derramando algo ou deixando alguma coisa cair. Não consigo fazer nada direito!
— Vão embora — disse ele tristemente para Engraçadinha e Mindinho. Mas os besouros levados riram ainda mais.
— Puxa vida, o que aconteceu? — perguntou Dora, preocupada, pairando logo acima de Vitor. — Sinto muito que tenha caído de novo, Vitor.
Vitor nem quis olhar para ela, e continuou com os olhos cheios de lágrimas fitos no chão.
— Está doendo muito? — perguntou Dora, sem entender por que o amigo, normalmente tão alegre, estava tão cabisbaixo.
Vitor concordou timidamente com a cabeça.
Nesse momento Dora ouviu Engraçadinha e Mindinho, ainda repetindo o seu refrão ali perto:
— Vitor vacilante!... Vitor vacilante! — diziam, caindo na gargalhada de novo.
Os besouros não tinham percebido a chegada de Dora e ficaram muito surpresos ao olharem para cima e darem de cara com a libélula, pairando na frente deles, com um olhar de desagrado.
— Vocês estão se divertindo? — perguntou.
Os dois pararam de rir e se endireitaram.
— É, ã... — gaguejou Mindinho.
— É que acabamos de ver algo muito engraçado — disse Engraçadinha soltando uma risadinha ao olhar para Mindinho.
— O Vítor estava andando apoiado numa varetinha, e de repente ela quebrou — contou Engraçadinha. — Foi engraçado demais!
E os dois besouros riam sem parar.
Mas Dora não riu.
— Talvez vocês tenham achado tudo muito engraçado, — disse ela. — Mas o coitado do Vitor poderia ter se machucado feio. E vocês, em vez de irem socorrê-lo, ficaram aí rindo. Rir da infelicidade alheia deixa os outros muito tristes.
Os besouros olharam pensativos para Vitor. De repente, a folha onde estavam sentados desabou com o peso dos dois, que foram rolando até se estatelarem no chão.
Ver os besouros caindo na grama foi bem engraçado, mas em vez de rir, Dora se aproximou de Engraçadinha e Mindinho para ver se estavam bem.
— Puxa! Foi um tombo e tanto. Vocês se machucaram?
— Eu estou bem — disse Mindinho.
— Eu também, foi só o susto — acrescentou Engraçadinha.
— Ainda bem — disse Dora, ajudando os dois a se levantarem.
— Estou me sentindo muito mal por ter zombado do Vitor — disse Mindinho.
— Eu também — disse Engraçadinha. — Estamos arrependidos.
— E talvez até possamos ajudá-lo de alguma forma — completou Mindinho. — Assim ele não precisa ficar andando com a perna machucada.
— É muita consideração da sua parte — disse Dora com um sorriso. — Tenho certeza que Vitor vai ficar agradecido pela sua gentileza e ajuda.
Dora e os dois besouros ajudaram Vitor a voltar para casa e arrumaram a sua atadura. E quando Dora teve que ir embora, Engraçadinha e Mindinho lhe fizeram companhia até escurecer.
— Foi muita gentileza sua ficarem aqui e me ajudarem — disse Vitor, quando era hora dos dois besouros irem para casa.
— Foi divertido — disse Mindinho. — Se Deus quiser amanhã viremos visitá-lo de novo.
— Puxa, seria legal — agradeceu Vitor.
— Espero que sua perna sare logo. Até amanhã.
— Eu me sinto mal por ter rido do Pedro — disse Toninho depois de um momento de silêncio. — Vou tentar ser mais gentil com ele e não rir quando as coisas derem errado para ele.
— Muito bem! — disse o avô. — Tenho certeza que ele vai gostar de tê-lo como amigo.
Moral: Trate as pessoas como gostaria de ser tratado. Se agir assim verá que tudo o que fizer lhe será retribuído.
Autoria de Katiuscia Giusti. Ilustrado por Agnes Lemaire. Colorido de Doug Calder. Design de Roy Evans.Apresentado no My Wonder Studio. Copyright © 2012 por Aurora Production AG, Switzerland. Todos os direitos reservados.