De longe, na casa toda e no jardim, se ouvia o choro de Toninho.
— O que foi, Toninho? — perguntou Vovô Juca ao ver o netinho com um pequeno corte no joelho.
— Está doendo, Vovô — disse o menino.
— Sinto muito — disse o vovô Juca. — Parece que os seus sapatos não estavam amarrados, e você deve ter tropeçado no cadarço.
— Esqueci de amarrá-los, porque apostei uma corrida com o meu amigo para ver quem chegava lá fora primeiro — admitiu Toninho. — E devo ter esquecido.
— É, mas no final das contas não foi tão rápido, porque você acabou se machucando. Isso me faz lembrar de uma história sobre Dora.
— Dora? — perguntou Toninho, esquecendo do joelho dolorido.
— É. Dora era uma libélula que sofreu um acidente tal como você, e aprendeu boas lições com isso.
— Ah, vovô, me conte essa história! — pediu Toninho.
— Foi num dia lindo, quando Dora encontrou seus amigos, Cacá e Faísca ...
— Vocês nem vão acreditar no que aconteceu comigo — disse Dora, ofegante, ao se aproximar dos amigos que estavam tomando sol.
— Você está cansada, parece até que voou quilômetros! — acrescentou Faísca.
— Não é isso não, é que acabei de sofrer um acidente muito assustador.
— Hoje eu fui visitar minhas amigas libélulas no lago — começou a dizer Dora.
— Estávamos brincando e voando. Primeiro, íamos o mais alto que podíamos, depois mergulhávamos bem rápido. Queríamos ver quem conseguia chegar à superfície d’água primeiro e pegar um dos mosquitos sem se molhar.
— Eu não estava me saindo lá essas coisas — confessou Dora. — Eu conseguia voar bem alto, mas não mergulhar tão rápido como as outras, então era difícil eu pegar os mosquitos.
— Então fiquei zangada e quis provar que era capaz. Aliás, não queria que ninguém achasse que eu estava com medo de ficar presa na água. Então fui descuidada. Voei bem alto e decidi mergulhar na maior velocidade possível. Mas ganhei tanta velocidade que não consegui virar e pegar o mosquito. Em vez disso bati na água com tudo — explicou Dora.
— Caí com tanta força que até vi estrelas. E quando tentei sair da água não consegui.
— Que terrível! —exclamou Faísca.
— Você deve ter ficado com medo, né? — perguntou Cacá. — Eu ficaria.
— Logo no início não, mas quando percebi que não conseguia sair da água, comecei a me preocupar. As minhas asas estavam molhadas e pesadas, e eu não conseguia erguê-las. Estava presa.
— Coitadinha! — disse Cacá.
— E aí? O que aconteceu? — quis saber Faísca.
— As minhas amigas tentaram me tirar da água, mas como não aguentaram o meu peso foram em busca de socorro. Achei que ficaria presa na água um tempão e que talvez até morreria afogada. As minhas amigas foram em busca de socorro. E quando me vi sozinha aí é que realmente me senti indefesa.
— E o que você fez? — perguntou Cacá.
— Lembrei-me que minha mãe sempre disse que, numa situação difícil, eu deveria fazer uma oração. Então pedi a Deus para que, ou ajudasse minhas amigas a encontrarem uma maneira de me resgatar, ou enviasse alguém para me salvar. Eu Lhe disse que da próxima vez tomaria mais cuidado e seria menos competitiva.
— E aí? — interrompeu Faísca. — Logo depois, duas crianças que tinham encontrado um sapo no jardim de sua casa foram até à lagoa para soltá-lo. Chamei e chamei, mas elas não me viram nem ouviram. Então orei outra vez, e a garotinha me viu.
— Luís, Luís! — gritou ela. — Tem uma libélula na água. E parece que está presa.
— Quando o menino se virou e me viu, sentiu muita pena, então me tirou gentilmente da água.
— Pobrezinha — disse ele. — Que bom que você viu a libélula, Natália. Não sei se ela sobreviveria ali por muito mais tempo. Vamos colocá-la nesta folha, ao sol, para secar suas asinhas e logo ela vai poder voar novamente.
— Que bom que as crianças passaram por ali quando você precisou de ajuda — disse Faísca.
— Ainda bem que você está bem agora — disse Cacá, aliviado.
— Eu que o diga — concordou Dora. — De agora em diante vou ser bem mais cuidadosa.
— Vocês gostariam de brincar? — sugeriu Faísca sorrindo.
— Claro! — respondeu Dora.
— Mas vamos tomar bastante cuidado — acrescentou Cacá.
— E não sermos competitivos demais — concluiu Faísca.
— Ainda bem que eu não fiquei tão encrencado quanto a Dora — disse Toninho no final da história.
— Eu concordo — disse o avô com um sorriso. — Mas é importante lembrar que muitas vezes nos machucamos porque não tomamos cuidado. É fácil sermos descuidados, como no caso de Dora, quando somos muito competitivos e só pensamos em ganhar.
— Vovô, acho melhor eu amarrar os sapatos antes de sair para brincar outra vez — disse Toninho.
— E antes disso, tem mais uma coisa que você devia lembrar, que aprendemos com a história da Dora. Você se lembra o que é?
Toninho pensou um pouco.
— Orar?
— Isso mesmo! Assim Deus pode protegê-lo e evitar que se machuque.
Toninho e o avô abaixaram a cabeça e fizeram uma oração. Depois o menino saiu correndo para brincar com o amigo.
Numa folha ali perto, três pequenos insetos o observavam e sorriram.
Moral: Peça a Deus para lhe dar uma mãozinha quando precisar, e Ele com certeza o ajudará.
Autoria de Katiuscia Giusti. Ilustrado por Agnes Lemaire. Colorido de Doug Calder. Design de Roy Evans.Exibido no My Wonder Studio. Copyright © 2007 por Aurora Produções AG, Suíça. Todos os direitos reservados.