Vovô Juca assobiava pela calçada a caminho da escola onde ia pegar o Toninho. Quando se aproximou do portão, ouviu duas crianças gritando e discutindo. O barulho vinha do parquinho.
Minha nossa, pensou. Parece o Toninho. É melhor eu descobrir o que está acontecendo.
Ele correu até o parquinho e viu Toninho e Pedro na torre do parquinho discutindo.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou o vovô Juca. Os meninos estavam tão distraídos discutindo que nem o ouviram e continuaram a briga.
— Meninos, isso é...
Mas antes do vovô conseguir terminar a frase, Pedro empurrou Toninho. Toninho estava na beirinha da ponte que ia de uma torre a outra do parquinho, e perdeu o equilíbrio.
— Segure na borda! — disse o vovô Juca chegando bem a tempo de segurar o Toninho para ele não cair.
— Puxa vida! — disse Pedro, preocupado. — Eu não queria fazer você cair.
Toninho desceu da torre em silêncio.
O vovô Juca levou os dois meninos para um banquinho no final do parquinho da escola.
— Então, qual dos dois vai me contar o que aconteceu — perguntou.
— Desculpa — disse Pedro, e começou a chorar.
Toninho também começou a chorar.
— Sei que os dois se sentem mal com o que aconteceu — disse o vovô Juca — mas sabem, discutir e brigar não resolve nada. Toninho quase sofreu um acidente e teria sido uma queda feia.
— Obrigado por me salvar, vovô — agradeceu Toninho.
— Ainda bem que eu cheguei a tempo. Olha, eu talvez possa ajudar vocês a se lembrarem desta lição.
— O senhor vai nos contar uma história? — perguntou o Pedro todo animado.
— Vou, e é sobre algo parecido com o que aconteceu hoje com vocês.
Era uma vez, uma grande escavadeira e um caminhão basculante que desciam roncando até um terreno cheio de calombos. Eles tinham que deixar a terra lisinha para construírem ali um parquinho.
O caminhão basculante, o Cargo, como seus amigos o chamavam, suspirou ao passar pelos morrinhos de terra. Ele não queria ficar o dia todo trabalhando no sol quente, carregando terra de um lado para outro.
Mas Escavito gostava de trabalhar em parquinhos. Já conseguia imaginar como ia ficar depois de pronto.
— Vamos começar — disse Escavito. — Podemos começar pela esquerda e depois vamos fazendo tudo.
— Tá bom — resmungou Cargo dando ré para ficar no lugar certo para Escavito colocar a terra na sua caçamba.
— Lá vai terra! — disse Escavito chegando com a pá cheia de terra e despejando na caçamba de Cargo.
Cargo resmungou e disse:
— Acho que é só isso que eu aguento. Vou despejar essa terra.
— Mas sua caçamba só está pela metade — disse Escavito.
— Já está cheia o bastante para mim.
Nisso, Cargo saiu para jogar a terra fora da área onde o parquinho ia ser construído. Mas ele não fechou bem a traseira da caçamba e então cada vez que passava por um morrinho de terra a caçamba balançava e parte da terra caía, deixando uma trilha por todo o caminho.
Quando Cargo voltou, Escavito não estava nada feliz.
— Você está me dando mais trabalho, Cargo — disse Escavito. — Agora vou ter que recolher toda a terra de novo!
— Vai ver que você não colocou a terra em mim direito. Então talvez a culpa seja sua.
— Que nada! — disse Escavito, já ficando zangado.
— Olha aqui, Escavito, — disse Cargo — até agora eu fiz tudo que você falou. Não quero mais fazer o que você diz. Acho que tenho umas ideias de como podemos trabalhar.
— Você tem? — perguntou Escavito. — Então por que não disse nada?
— Eu, ã... — gaguejou Cargo — não estava com vontade.
— Que nada, eu já trabalhei com parquinhos e sei mais que você — gritou Escavito.
— Não sabe nada. Você só pensa que é melhor do que eu.
— Ora, talvez eu seja mesmo.
— Que nada! — respondeu Cargo zangado.
Enquanto discutiam, Escavito continuou carregando Cargo com terra. Levantou sua pá cheia de terra para encher a caçamba de Cargo, mas como estava zangado, Cargo saiu do lugar bem na hora que Escavito despejou a terra e caiu tudo no chão.
Cargo deu risada.
— Não acredito que você fez isso! — disse Escavito.
— Ora, achei que a terra ficava melhor aí no chão... e não na minha caçamba. E sabe o que mais? Acho que essa terra que estou carregando deveria ficar bem aqui.
Cargo voltou ao lugar onde Escavito tinha acabado de tirar terra com cuidado e levantou a caçamba, fazendo toda a terra cair de volta no chão.
— Já chega! Não aguento mais! — disse Escavito.
Ele abaixou a pá e foi na direção de Cargo, que ainda ria despejando a terra. Escavito avançou de novo e tentou pegar a terra para jogar na caçamba de Cargo, mas como a caçamba estava levantada, ele não
conseguiu.
Agora sim, o Escavito estava zangado mesmo. Ele recuou, foi mais uma vez até Cargo. Mas dessa vez, colocou sua pá em baixo da caçamba e começou a levantá-la.
Cargo parou de rir quando começou a ser inclinado para a frente.
— Pare! Pare! — gritou. — Você vai me fazer capotar.
— Parem com isso, vocês dois — disse o Sr. Supervisor. — Escavito, ponha Cargo no chão.
— Eu não mandei vocês aplainarem esse terreno e tirarem a terra?
— Sim, senhor — responderam os dois sussurrando.
— Então por que não estão fazendo isso?
— Não conseguimos chegar a um acordo sobre como fazer o trabalho. — explicou Cargo.
— Vejam bem, se vocês não conseguirem trabalhar juntos nesta tarefa, vai demorar muito mais para terminarem. É isso o que vocês querem?
— Não, — concordaram Cargo e Escavito.
— Eu quero que vocês conversem e decidam como vão fazer o trabalho. Está bem?
— Sim, senhor.
Escavito e Cargo passaram alguns minutos conversando. Quando decidiram o plano, conseguiram trabalhar felizes até terminarem tudo.
No final do dia, ao pôr do sol, o Sr. Supervisor veio ver como andava o trabalho.
— Estou impressionado! — disse. — Vocês terminaram tudo bem mais rápido do que eu esperava. E fizeram um ótimo trabalho. Estou satisfeito de ver que conseguiram se entender.
— Nós também — disse Escavito.
— Vejo vocês aqui amanhã — disse o Sr. Supervisor. — Ainda temos muito trabalho pela frente e vai ser bom ter uma equipe que sabe trabalhar unida.
— Até amanhã — disseram Cargo e Escavito.
— Que história legal, vovô. — disse Toninho. — Pedro e eu devíamos ter conversado
para resolver as coisas sem brigar.
— É verdade — disse o vovô Juca. — Discutir e brigar não resolve nada. E se conversarem,
vão descobrir que não é muito difícil resolver as coisas.
— Ah, aí está você. Eu estava te procurando — disse a mãe de Pedro.
— O vovô Juca estava nos contando uma história — disse Pedro.
— Que legal! — exclamou a mãe de Pedro.
— Obrigada, vovô Juca. Pedro, por que não me conta a história a caminho de casa?
— Está bem. Tchau, Toninho. Tchau, vovô Juca. — disse Pedro acenando. — Até amanhã
na escola.
— Amanhã podemos jogar o que você quiser — disse Toninho enquanto Pedro ia embora.
— Isso foi muito gentil, Toninho. — disse o vovô Juca depois que Pedro foi embora. — Vamos para casa.
— Claro.
Moral: Resolvam suas diferenças com amor. Se conversarem, poderão resolver suas diferenças e encontrar soluções.
Autoria de Katiuscia Giusti. Ilustrado por Agnes Lemaire. Colorido de Doug Calder. Design de Roy Evans.Apresentado no My Wonder Studio. Copyright © 2008 por Aurora Produções AG, Suíça. Todos os direitos reservados.